Levante Popular da Juventude repudia proposta de reajuste nos valores do RU
A Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) está em processo de contratação de uma empresa especializada para gerenciar a operação em seus campi, incluindo a oferta de café da manhã, almoço, jantar e marmitex. No entanto, informações exclusivas obtidas pelo Século Diário, por meio de uma fonte da comunidade acadêmica que prefere anonimato, revelam que a Ufes planeja modificar o formato de subsídio das refeições, o que poderá afetar estudantes que atualmente têm gratuidade ou descontos no custo da alimentação.
De acordo com a proposta de resolução a que Século Diário teve acesso, haverá mudanças nos valores cobrados para diferentes categorias de estudantes. Atualmente, alunos em situação de vulnerabilidade socioeconômica cadastrados no Programa de Assistência Estudantil (PAE) têm acesso gratuito às refeições. Com a nova proposta, que passará a valer no semestre seguinte à publicação da resolução, esse benefício será mantido para esse grupo, enquanto outras categorias, que hoje pagam valores reduzidos, passarão a arcar com uma porcentagem maior do custo da refeição.
São os casos de estudantes com renda familiar de até 1,5 salário mínimo per capita, que terão que pagar 10% do valor da refeição (90% subsidiado), e daqueles com renda familiar de até dois salários mínimos, que terão que arcar com 20% do custo (80% subsidiado). Os demais estudantes pagarão 30% do valor (70% subsidiado), e os usuários especiais, como servidores e visitantes, farão o pagamento integral da refeição, sendo que visitantes arcarão com até 150% do valor.
A possibilidade de alteração tem gerado apreensão entre a comunidade acadêmica e servidores. Em nota enviada ao Século Diário, o Levante Popular da Juventude expressou preocupação com as mudanças e ressaltou que muitos estudantes da Ufes enfrentam dificuldades socioeconômicas e não recebem suporte adequado da instituição, que carece de recursos suficientes para atender às necessidades dos discentes e garantir sua permanência por meio de suporte básico.
A nova regulação também permitiria que a Pró-Reitoria de Políticas de Assistência Estudantil (Propaes) estabeleça condições e valores diferenciados para os grupos beneficiados pelo subsídio, considerando critérios específicos de vulnerabilidade.
O movimento estudantil tem se mobilizado contra as possíveis mudanças e defende que o Restaurante Universitário (RU) é essencial para a permanência estudantil, especialmente para aqueles em situação de vulnerabilidade, que já enfrentam dificuldades para arcar com os custos básicos da vida universitária. “O acesso a informações sobre essas mudanças ainda é restrito ao corpo estudantil da universidade. Mas nós, do Levante Popular da Juventude, manifestamos nossa preocupação, pois elas podem impactar negativamente os estudantes da Ufes”, reforça a organização.
“É fundamental lembrar que, para alguns, cinco reais podem parecer um valor pequeno. Contudo, para aqueles sem renda, sem apoio familiar, vindos de outras regiões ou que precisam se dedicar integralmente aos estudos, esse valor se acumula e se torna um peso significativo. Muitos estudantes não têm sequer um real na carteira diariamente”, alertam os militantes.
A nota do movimento também aponta problemas estruturais no RU, como ventilação inadequada e qualidade da alimentação servida. “As condições do RU são precárias, agravadas pelas grades que cercam o local, levando estudantes a passarem mal, especialmente no verão. Além disso, há relatos frequentes de contaminação nos alimentos, como a presença de larvas na comida”, denunciam.
Diante desse cenário, o Levante Popular da Juventude reforça a importância da mobilização estudantil para evitar retrocessos e cobrar melhorias. “Não podemos permitir que nossas conquistas sejam desmerecidas ou enfraquecidas. Reivindicamos a ampliação do acesso à alimentação gratuita e a melhoria das condições do RU. A luta por uma universidade verdadeiramente pública continua!”, finaliza a organização.
Atualmente, os RUs da Ufes servem cerca de oito mil refeições diariamente e desempenham um papel fundamental na política de permanência estudantil. A gestão dos serviços é realizada por servidores da universidade, enquanto a operação da produção é feita por colaboradores de empresas terceirizadas.
A empresa vencedora do edital assumirá a operação dos cinco restaurantes universitários localizados nos campi de Goiabeiras e Maruípe, em Vitória; Alegre e Jerônimo Monteiro, no sul do estado; e São Mateus, no norte. Outros pontos de distribuição, como o Hospital Veterinário e laboratórios da Universidade, também deverão ser incluídos no contrato.
De acordo com informações disponíveis no portal da Ufes, aproximadamente cinco mil estudantes atendidos pelo Proaes têm direito a refeições gratuitas. Para os demais alunos, o custo da refeição é de R$ 5, enquanto usuários externos pagam R$ 9,50. Cada refeição tem um custo médio de R$ 14,61 (conforme dados de abril de 2024). O financiamento para este serviço provém, em parte (cerca de 30%), do Programa Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes). Cerca de 10% do financiamento é obtido através da venda de tíquetes, e o restante, que corresponde a aproximadamente 60%, é coberto por recursos próprios da Ufes.
A proposta de resolução ainda está em discussão no Conselho Universitário da Ufes e deve passar por debates antes de sua implementação. Estudantes e organizações estudantis já se mobilizam para discutir estratégias de resistência e reivindicar voz ativa no processo, além de exigir que a universidade promova debates amplos sobre qualquer mudança que possa impactar a permanência acadêmica.
Apesar da documentação sobre o processo envolvendo as refeições do RU, a Administração Central da Ufes, questionada por Século Diário, se limitou a dizer que “os auxílios permanecerão inalterados, ou seja, não haverá mudança neste sentido”. Diante das preocupações dos estudantes sobre a qualidade da alimentação, informou que a supervisão nutricional seguirá sendo realizada por sua equipe de nutricionistas que pertence ao quadro da instituição.
Climatização dos RUs
A climatização dos restaurantes universitários tem sido uma demanda recorrente da comunidade acadêmica, especialmente em regiões de altas temperaturas. Na última segunda-feira (3) o RU localizado em Alegre, no sul do Estado, que está entre as cidades mais quentes do Brasil, passou a contar com um sistema de climatização. Segundo a Diretoria de Gestão de Restaurantes (DGR), a unidade de Jerônimo Monteiro será a próxima a receber climatizadores ainda neste mês, e há estudos para levar a melhoria aos demais campi da Ufes.