Em resposta antecipada, o que o educador já pode afirmar é que da maneira como tem sido direcionado pela Secretaria de Estado da Educação (Sedu), o trabalho remoto certamente não está a serviço dos professores, dos estudantes nem das famílias.
“A educação é um campo muito lucrativo. Estamos ficando reféns das grandes corporações”, observa, lembrando o aumento gradativo da presença dessas empresas dentro dos governos estaduais brasileiros, incluindo o capixaba, onde já há, desde o governo de Paulo Hartung, experiência de inserção de ensino remoto na reorganização do ensino médio e na Educação de Jovens e Adultos, esta, inclusive, com má avaliação por parte da comunidade estudantil e dos educadores.
“O governo está atrelando tecnologias educacionais a uma empresa, a uma corporação de tecnologia, e os municípios vão aderindo à medida que o governo vai executando”, explana, chamando atenção para a necessidade de criação de plataformas públicas e de utilização de software livre.
Mas isso, ratifica, precisa ser feito de forma gradativa, planejada e inclusiva. Da forma como tem ocorrido na pandemia de Covid-19, não está funcionando, assegura. Se a Secretaria de Saúde (Sesa) conseguiu se planejar desde janeiro para expandir a rede hospitalar, por que a Sedu não realizou um diálogo com os educadores e famílias para construir um plano de emergência democrático e eficiente de verdade? Perguntas que não têm resposta, ainda, principalmente, devido à ausência de diálogo dos gestores estaduais.
A implantação do EscoLAR, afirma, é uma “tentativa de resposta para sociedade, mas atendendo a interesses da iniciativa privada, [pois] a realidade da escola pública é totalmente diferente da particular, a realidade socioeconômica. E atende aos interesses das grandes corporações de tecnologia interessadas em colocar suas plataformas e equipamentos”, denuncia, citando os contratos milionários, de R$ 1,1 milhão para cada 30 dias de transmissão de conteúdo pela Rede Sim de televisão, e de mais de R$ 4 milhões para as operadoras de telefonia móvel disponibilizarem pacotes de dados de internet para os estudantes acessarem a plataforma Google na Sala de Aula, onde o EscoLAR está hospedado.
Enquanto isso, a formação dos professores para trabalhar no novo formato só foi começar a acontecer em julho, três meses depois do início do programa. “Estamos esse tempo todo lutando pra entender o sistema sozinhos, com ajuda dos colegas, procurando instruções no YouTube. Fomos aprendendo ‘na marra”, relata.
“Ao invés de direcionar 12 milhões pra um retorno que pode não acontecer este ano, por que não investir para mitigar problemas que estamos vivendo agora com o ensino remoto?”, questiona o educador. “Essa pandemia escancarou a desigualdade educacional e mostrou que a educação não presencial não substitui a presencial. É o momento de refletir sobre essa tendência que já vinha de antes da pandemia”, pondera.
Há pressão para subir o acesso à plataforma, conta Antonio, mas o retorno dos alunos “não está satisfatório”. Ele acredita que no último mês o acesso tenha subido para perto de 85%, mas o percentual de retorno das atividades feitas continua ruim, em torno de 10%.
“Ficamos frustrados porque trabalhamos e não estamos tendo retorno. E ainda há a sobrecarga de trabalho, para produzir e postar as aulas, e a burocratização, com preenchimento de muitas planilhas e formulários. Muitos professores trabalham até de madrugada para dar conta, mas se frustram pois sabem que os alunos não aprendem”, indigna-se, lembrando o recorte de gênero importante, que as mulheres são a maioria na rede estadual, e são elas que, numa sociedade machista, ficam responsáveis pelos cuidados dos filhos, dos familiares e da casa.
“A legislação deixa claro que no trabalho remoto, as empresas devem fornecer os meios necessários para o trabalhador, os equipamentos necessários. No setor público isso não aconteceu”, afirma.