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‘Educação é muito lucrativa para as grandes corporações’

Professor Antonio Barbosa abre debate sobre ‘Educação e Trabalho remoto: pra quê, pra quem e a serviço de quem?’

Arquivo pessoal

“Educação e Trabalho remoto: pra quê, pra quem, a serviço de quem?”. Esse é o tema da série de lives que o Sindiupes pela Base – Coletivo de Oposição realiza neste mês de julho em suas redes sociaisA primeira acontece nesta quinta-feira (23), às 19h30, com foco no trabalho remoto, tendo como um dos debatedores o professor da rede estadual e integrante do coletivo, Antonio Barbosa. 

Em resposta antecipada, o que o educador já pode afirmar é que da maneira como tem sido direcionado pela Secretaria de Estado da Educação (Sedu), o trabalho remoto certamente não está a serviço dos professores, dos estudantes nem das famílias.

“A educação é um campo muito lucrativo. Estamos ficando reféns das grandes corporações”, observa, lembrando o aumento gradativo da presença dessas empresas dentro dos governos estaduais brasileiros, incluindo o capixaba, onde já há, desde o governo de Paulo Hartung, experiência de inserção de ensino remoto na reorganização do ensino médio e na Educação de Jovens e Adultos, esta, inclusive, com má avaliação por parte da comunidade estudantil e dos educadores. 


“O governo está atrelando tecnologias educacionais a uma empresa, a uma corporação de tecnologia, e os municípios vão aderindo à medida que o governo vai executando”, explana, chamando atenção para a necessidade de criação de plataformas públicas e de utilização de software livre.

Mas isso, ratifica, precisa ser feito de forma gradativa, planejada e inclusiva. Da forma como tem ocorrido na pandemia de Covid-19, não está funcionando, assegura. Se a Secretaria de Saúde (Sesa) conseguiu se planejar desde janeiro para expandir a rede hospitalar, por que a Sedu não realizou um diálogo com os educadores e famílias para construir um plano de emergência democrático e eficiente de verdade? Perguntas que não têm resposta, ainda, principalmente, devido à ausência de diálogo dos gestores estaduais.

“Nós como categoria não somos ouvidos. A gente sabe das decisões pela mídia. Depois que sai nos jornais é que o governo começa a comunicar para os dirigentes, depois para o Conselho Estadual de Educação e, por último, para o Fórum Estadual, que só voltou a se reunir por insistência das entidades junto à Sedu“, relata.

A implantação do EscoLAR, afirma, é uma “tentativa de resposta para sociedade, mas atendendo a interesses da iniciativa privada, [pois] a realidade da escola pública é totalmente diferente da particular, a realidade socioeconômica. E atende aos interesses das grandes corporações de tecnologia interessadas em colocar suas plataformas e equipamentos”, denuncia, citando os contratos milionários, de R$ 1,1 milhão para cada 30 dias de transmissão de conteúdo pela Rede Sim de televisão, e de mais de R$ 4 milhões para as operadoras de telefonia móvel disponibilizarem pacotes de dados de internet para os estudantes acessarem a plataforma Google na Sala de Aula, onde o EscoLAR está hospedado.

Enquanto isso, a formação dos professores para trabalhar no novo formato só foi começar a acontecer em julho, três meses depois do início do programa. “Estamos esse tempo todo lutando pra entender o sistema sozinhos, com ajuda dos colegas, procurando instruções no YouTube. Fomos aprendendo ‘na marra”, relata.

Ainda sobre investimentos, outra crítica do Coletivo acompanha o posicionamento da Corrente Sindical e Popular Resistência e Luta Educação ES, sobre os R$ 12 milhões disponibilizados pela Sedu para as escolas estaduais realizarem individualmente compras de “itens de prevenção e controle da transmissão do novo coronavírus (Clovid-19)”, segundo informa a secretaria.

“Ao invés de direcionar 12 milhões pra um retorno que pode não acontecer este ano, por que não investir para mitigar problemas que estamos vivendo agora com o ensino remoto?”, questiona o educador. “Essa pandemia escancarou a desigualdade educacional e mostrou que a educação não presencial não substitui a presencial. É o momento de refletir sobre essa tendência que já vinha de antes da pandemia”, pondera.

Há pressão para subir o acesso à plataforma, conta Antonio, mas o retorno dos alunos “não está satisfatório”. Ele acredita que no último mês o acesso tenha subido para perto de 85%, mas o percentual de retorno das atividades feitas continua ruim, em torno de 10%.

“Ficamos frustrados porque trabalhamos e não estamos tendo retorno. E ainda há a sobrecarga de trabalho, para produzir e postar as aulas, e a burocratização, com preenchimento de muitas planilhas e formulários. Muitos professores trabalham até de madrugada para dar conta, mas se frustram pois sabem que os alunos não aprendem”, indigna-se, lembrando o recorte de gênero importante, que as mulheres são a maioria na rede estadual, e são elas que, numa sociedade machista, ficam responsáveis pelos cuidados dos filhos, dos familiares e da casa.

“A legislação deixa claro que no trabalho remoto, as empresas devem fornecer os meios necessários para o trabalhador, os equipamentos necessários. No setor público isso não aconteceu”, afirma.

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