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Educadores do campo reclamam de falta de diálogo com a Sedu

Categoria planeja criação de uma frente para obter um diagnóstico dos prejuízos da pandemia aos estudantes

Os desafios educacionais provocados pela pandemia do coronavírus impõem obstáculos ainda maiores para profissionais que atuam fora dos centros urbanos. No Espírito Santo, não é diferente. O Comitê Estadual de Educação do Campo (Comeces) denuncia a falta de diálogo com a Secretaria Estadual de Educação (Sedu) e planeja a criação de uma frente de discussão sobre o assunto.

A frente terá o objetivo de reunir dados e informações sobre as escolas do campo no Espírito Santo. O intuito é obter um diagnóstico sobre os prejuízos pedagógicos e políticos da pandemia para a educação na zona rural. A primeira reunião está marcada para esta quinta-feira (15).

Neste mesmo dia, uma audiência pública virtual será realizada pela Assembleia Legislativa, às 14h, para debater a educação pública no campo. O encontro é promovido pela Comissão de Defesa da Cidadania e dos Direitos Humanos, com o tema “Educação e Respeito à Vida”.

De acordo com o integrante do Comeces, Francisco Rodrigues, o último contato com a Sedu foi no início do ano, quando representantes do comitê apresentaram demandas das escolas do campo à secretaria, mas não obtiveram sucesso. “Eles disseram que já havia uma resolução que atendia às nossas solicitações e, desde então, não conseguimos mais contato”, afirmou.

Arquivo Pessoal

Um dos problemas evidenciados pela pandemia é a falta de acesso tecnológico da maioria dos alunos. Francisco, que também é professor em uma escola do campo em São Mateus, norte do Estado, conta que, para evitar o contágio da doença, as escolas em áreas rurais permanecem fechadas desde o ano passado.

Durante esse tempo, os únicos contatos entre aluno e professor acontecem de forma remota. Ainda assim, nem todos conseguem ter acesso. “Você entra em uma sala de 32 estudantes, apenas sete ou oito conseguem participar”, denuncia.

Como alternativa, os professores também têm disponibilizado atividades impressas para os alunos que podem se deslocar até as instituições. Francisco alerta, porém, que a utilização dos exercícios impressos não é suficiente do ponto de vista pedagógico. “A educação só é produtora de resultado quando existe a relação entre estudante e educador. A educação é fruto dessa relação. Quando o aluno só tem acesso a essas atividades impressas, não tem essa mediação”, aponta.

Problemas históricos

Francisco ressalta que, historicamente, a educação no campo demorou para ser considerada uma modalidade de ensino e, consequentemente, demorou a ser vista pelo Estado. Com a pandemia, esse atraso foi acentuado. “A pandemia não é democrática. Aqueles que ficavam à margem do Estado vão sofrer mais ainda, vão ter problemas mais graves”, destaca.

Além dos desafios impostos pela pandemia, a audiência pública da próxima quinta-feira (15) discutirá o fechamento de escolas do campo, abordará demandas que estão represadas na Sedu e debaterá a importância da gerência em escolas de zonas rurais.

Debate

O encontro foi proposto pela deputada estadual Iriny Lopes (PT). Ela pontua que a educação pública já vinha sofrendo diversos ataques, que foram intensificados com a crise sanitária da pandemia do novo coronavírus. “Os debates sobre as aulas não presenciais e de forma remota permanecem, uma vez que estamos longe da imunização contra o novo coronavírus para pelo menos 70% da população”, afirmou.

A audiência virtual contará com palestra do professor do Centro de Educação da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Eduardo Moscon de Oliveira, que atua no Laboratório de Gestão da Educação Básica da Ufes (Lagebes) e integra a Associação Nacional de Política e Administração da Educação (Anpae).

O outro é o professor do Instituto de Ciências da Educação da Universidade Federal do Pará (UFPA) Salomão Mufarrej Hage. Ele também coordena o Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação do Campo na Amazônia e a Escola de Conselhos Pará, além de integrar a Coordenação do Fórum Paraense de Educação do Campo.

Também devem participar integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Geísa Giuberti e Eliandra Rosa; o representante do Fórum de Educação de Jovens e Adultos, Carlos Fabian de Carvalho e a do Coletivo Educação Pela Base, Verbênia Andrade (ambos ainda fazem parte da Frente Popular em Defesa do Direito à Educação); e a participante do Movimento de Pequenos Agricultores (MPA) e do Comeces, Luciene Erculino.

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