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Em audiência pública, educadores debatem redução de oferta vagas no EJA

A oferta, o acesso, a permanência de estudantes na modalidade de ensino Educação de Jovens e Adultos (EJA) levou a Comissão de Educação da Assembleia Legislativa até Linhares, no norte do Estado. Estudantes, professores, diretores e autoridades se reuniram no auditório da Superintendência Regional de Educação para tratar do tema, em audiência pública realizada na noite da última quinta-feira (8).

O principal expositor da noite foi o coordenador do Fórum Estadual de EJA, Carlos Fabian de Carvalho. Ele apresentou um mapeamento feito pelo fórum da oferta da modalidade de ensino na rede estadual para o primeiro semestre de 2017. Segundo os dados apresentados, em 12 municípios capixabas, o Estado não abriu matrículas para a EJA, tanto para o ensino fundamental quanto para o ensino médio.

Carlos Fabian de Carvalho comparou, ainda, o quantitativo de escolas que ofereciam a modalidade de ensino no Estado. Segundo as informações do fórum, em 2014, 230 escolas ofertavam aulas para jovens e adultos. Em 2017, esse número caiu para 189. “A cada semestre, não temos certeza se teremos a abertura de matrícula. É um esforço considerável discutir com o governo o direito à educação, mesmo com o grande número de analfabetos”, criticou.

O vereador do município de Sooretama (norte do Estado), Edson Santiago, defendeu a ampliação da oferta: “É triste nos deparamos com números desses. Nem todas as pessoas têm condição de ir à frente nos estudos. A EJA é muito importante”, disse.

Já a presidente do Conselho Municipal da Criança e do Adolescente de Linhares, Vanessa Giraldeli, alertou para a necessidade de se pensar em uma educação mais atrativa para os jovens, para evitar a evasão escolar. “A gente deve ampliar, mas ampliar com qualidade, para que eles não queiram sair da escola”, pontuou.

Gargalos

O professor da rede estadual Yuri Macedo fez várias ponderações a respeito da modalidade. Ele alertou para a grande quantidade de alunos nas salas de aulas e sobre a questão das turmas multisseriadas – em que um professor dá aula para alunos de várias séries diferentes. “Muitos dizem que a nossa categoria é imediatista, mas educação de qualidade precisa ser imediata. A EJA, há muito tempo, não tem seu papel social cumprido”, falou.

Ele também comentou sobre um tema que está causando divergência entre os educadores, que é a implantação da EJA semipresencial, que começou em 2017. Ele informou que a maior parte das atividades para serem feitas em casa não são cumpridas, porque os alunos têm muitas dúvidas para realizá-las. Ele ressaltou ainda a falta de internet nas escolas, o que impossibilita a real aplicação do novo sistema de ensino.

O professor Adriano Batista também levantou dúvidas sobre a educação semipresencial. “Se depende de internet, se tem uma carga horária reduzida, isso é muito preocupante. Para quem é essa educação? Para que classe social é essa educação?”, questionou. De acordo com o professor, muitos estudantes não têm acesso à internet em casa para poder realizar as atividades. “A EJA é um direito, não é uma benesse do governo”, disse.

A diretora escolar Dulce Rangel também questionou a implantação do sistema: “Em qual momento foi conversado com nosso aluno da EJA para ver se ele queria essas aulas não presenciais? Porque em casa ele não tem um conteúdo para estudar como deveria, não tem um computador com internet”, relatou.

A superintendente regional de educação, Maria da Penha Valani, explicou que o sistema semipresencial ainda está em fase inicial de implantação.

Educação no campo

Outro assunto que veio à tona durante a audiência foi a importância da educação no campo. Carlos Roberto Soprani, representante do comitê estadual sobre o tema, alertou para a necessidade de um ensino de qualidade voltado para a realidade dos moradores das zonas rurais. “Pensa-se que educação no campo é uma educação para coitados. A demanda que existe no campo de EJA é muito grande”, comentou.

Segundo Soprani, a modalidade tem de chegar até o morador do campo e não ele que tem de se deslocar para a cidade para estudar. O coordenador do fórum, Carlos Fabian de Carvalho, seguiu a mesma linha de pensamento. “Eu oferto na escola central. Faço que o trabalhador do campo acorde às 4 da manhã, caminhe até o ponto de ônibus. Eu não compreendo o direito dele de estudar próximo ou na própria comunidade”, disse.

Penha Valani explicou que a regra é que todas as escolas rurais com menos de 10 alunos sejam fechadas, mas que, mesmo assim, há escolas funcionando na regional de Linhares com apenas cinco alunos. “Quando a gente vê a oferta reduzida, o coração dói. Mas a nossa proposta que tem de ser organizada. Não é abrir turma de qualquer jeito e oferecer educação de qualquer jeito”, disse.

A deputada Eliana Dadalto (PTC), integrante da Comissão de Educação da Assembleia e proponente da audiência pública, ressaltou a necessidade do debate. “No Espírito Santo, temos 220 mil pessoas analfabetas. O interior está sendo muito afetado. Vamos encaminhar ao governador do Estado para ele perceber o que está acontecendo com a EJA. Não vamos perder a esperança”, informou a parlamentar.

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