Impactos negativos do retorno e falhas do Programa EscoLAR também foram denunciados em carta entregue ao governo
A Frente Popular em Defesa do Direito à Educação realizou uma manifestação em frente à Secretaria Estadual de Educação (Sedu), na Avenida Vitória, nesta sexta-feira (21), contra a volta das aulas presenciais, cuja possibilidade tem sido estudada pela gestão Renato Casagrande (PSB). Além de protocolar uma carta mostrando os impactos negativos que o retorno pode gerar e denunciar as falhas no processo de implantação do Programa EscoLAR, os manifestantes empilharam livros e colocaram cruzes em frente à Sedu, entoando a palavra de ordem “Por uma escola sem luto, seguiremos em luta”.
“A cruz representa a morte, o luto. Queremos destacar que o número de mortes por Covid-19 irá aumentar se as aulas presenciais retornarem. Os livros representam a ciência, que temos que estar do lado da ciência, contrastando contra um governo federal negacionista, que nega a ciência. O retorno das aulas presenciais seria um crime contra a vida”, afirma a diretora do Diretório Central dos Estudantes (DCE) e integrante do Levante Popular da Juventude, Karini Bergi.
A manifestação reuniu professores e integrantes da categoria que fazem parte de coletivos, como a Luta Unificada dos Trabalhadores da Educação do Espírito Santo (Lute) e o Sindiupes pela Base – grupo de oposição ao Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Espírito Santo (Sindiupes) – e ainda militantes de várias entidades, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e o Fórum de Educação de Jovens e Adultos (EJA).
No documento a Frente se manifesta contra o retorno das aulas presenciais enquanto não houver vacina para a Covid-19 e apresenta propostas construídas coletivamente durante a Assembleia Popular da Educação, ocorrida entre os dias 11 e 15 de agosto. Entre as reivindicações estão garantia da igualdade de condições de acesso ao conhecimento para todos durante a pandemia; manutenção dos contratos de trabalho dos profissionais da educação; possibilidade de acolhimento e encaminhamento dos traumas pós-pandemia; e que seja assegurado direito autoral do conteúdo da aula, de voz e imagem; remuneração pela alteração da jornada de trabalho; e a proteção no que se refere à distribuição dos materiais, ao plágio e aos ataques virtuais.
Atividades Pedagógicas não Presenciais
“A quarentena se tornou o laboratório da EaD – ou educação virtual, tecnológica, digital, em rede, não presencial, remota, entre outras designações – que vêm ameaçando os sistemas públicos de ensino”. A carta destaca que organismos mundiais, como o Banco Mundial, recomendaram listas de serviços de plataformas digitais fornecidas por institutos, fundações e grandes corporações, entre elas, a Fundação Bill e Melinda Gates, Google.
No Espírito Santo, uma atitude que, segundo a Frente, confirma a pressão da iniciativa privada na liberação de atividades e modalidades remotas por parte do governo, é a nota conjunta lançada em 23 de março em parceria com a União Nacional dos Dirigentes Municipais da Educação (Undime/ES) e o Sindicato das Empresas Particulares de Ensino do Espírito Santo (Sinepe/ES), recomendando atividades à distância a partir daquela data para as escolas particulares, o que, de acordo com a Frente, fez com que a sociedade civil começasse a se posicionar contra a tentativa de incorporação da modalidade de educação remota na rede pública.
Manifestações no interior
A reivindicação pelo não retorno das aulas presenciais também motivou manifestações no interior. Em Aracruz, norte do Estado, o protesto foi em frente à escola estadual Primo Bitti, em Coqueiral de Aracruz. “O Brasil não tem controle da pandemia, não tem testagem. Mesmo em países que tiveram um controle, a volta das aulas fez com que acontecessem mais contaminações, como em Israel, onde o próprio governo disse que o retorno das aulas presenciais foi um fracasso”, diz o integrante do Coletivo Lute, Vinícius Machado.
Em Linhares, na mesma região, os manifestantes se concentraram na Superintendência Regional de Educação (SRE) e passaram pelo Hospital Geral de Linhares, um lugar que para eles é simbólico por ter uma parte destinada para triagem de pacientes com Covid-19. Nesse local foi feita uma fala contra o retorno das aulas presenciais, que, segundo os manifestantes, contou com apoio de pais e mães de alunos que estavam no local.