Levantamento da Adufes aponta que 45% dos docentes sinalizaram adoecimento psíquico durante o trabalho remoto
A pesquisa, realizada pela Comissão de Acompanhamento ao Trabalho/Ensino Remoto na Ufes, foi respondida por 642 professores. Entre os entrevistados, 63% indicaram fadiga mental e 45% sinalizaram adoecimento psíquico durante o ensino remoto.
A Adufes cobra que a Universidade adote medidas concretas para combater o cenário de esgotamento mental causado pelas condições de trabalho durante a pandemia. A entidade também ressalta a importância da utilização de ferramentas para monitorar a situação dos professores.
“A Ufes não tem levantamento algum sobre o adoecimento psíquico das pessoas que trabalham e estudam na universidade. Parte considerável delas está adoecida e sobre outra grande parte não existem dados. É preciso ouvir as pessoas e saber o que as afeta, para que práticas sejam revistas e as atividades possam continuar com respeito a quem faz com que elas aconteçam”, diz uma nota publicada pela entidade nesse domingo (10).
As respostas ao questionário também indicam que a pandemia tem provocado uma rotina de trabalho excessiva. Durante a pesquisa, 48% dos participantes informaram que trabalham diariamente, em média de 8h a 10 horas, enquanto 30% mais de 10 horas diariamente. Além disso, 20% disseram que trabalham, em média, até 8 horas diariamente.
Uma das pautas levantadas pela Adufes nos últimos meses é a necessidade de se garantir um recesso de, no mínimo, 30 dias para os professores entre os semestres de aula, tendo em vista que os atrasos provocados no calendário acadêmico durante a pandemia encurtaram os recessos entre os períodos letivos. O semestre 2021/1 foi encerrado nesse sábado (9) e o próximo já começa no dia 3 de novembro. Para os professores, entretanto, o descanso é de apenas 12 dias, já que, após o fim das aulas, os docentes ainda ficam responsáveis por outras atividades, como o período de provas finais e lançamento de notas.
A entidade também tem cobrado assistência técnica durante o ensino remoto. Durante a pesquisa, 95,38% dos docentes afirmaram que a infraestrutura utilizada para as atividades remotas foi providenciada por eles mesmos. Em maio deste ano, a Adufes chegou a protocolar um ofício solicitando o ressarcimento de despesas com infraestrutura e equipamentos adequados.
Desgaste pandêmico
Os problemas identificados na pesquisa da Adufes não se restringem ao Espírito Santo, nem ao ensino superior. Em uma pesquisa realizada pelo instituto Nova Escola com professores de várias partes do Brasil, 72% dos entrevistados afirmaram que tiveram a saúde mental afetada durante a pandemia, tendo como os principais problemas a ansiedade, o estresse e a depressão.
No Espírito Santo, a Adufes instituiu a Comissão de Acompanhamento ao Trabalho/Ensino Remoto na Ufes após a implementação do Ensino-Aprendizagem Remoto Temporário e Emergencial (Earte), em agosto de 2020, com o objetivo de verificar as necessidades dos docentes durante as atividades remotas na pandemia.
A partir dos relatos dos professores, um dos problemas identificados ao longo desses meses é a tentativa de transferência de todas as atividades que eram realizadas de forma presencial para o ensino remoto, o que é considerado impossível.
“Depoimentos dos docentes indicam que o acúmulo de tarefas tem levado centenas à exaustão, no momento mais grave que atravessa a humanidade nos últimos 100 anos: a pandemia da Covid-19. Neste contexto, os gestores da universidade a todo custo tentam forjar um ‘novo normal”, diz a Adufes.
Em uma publicação feita nesse domingo (10), Dia Mundial da Saúde Mental, a Adufes reivindica que a Reitoria da Universidade dê atenção aos dados levantados pela pesquisa realizada.
“A partir disso, é preciso construir, junto com a comunidade acadêmica, políticas efetivas capazes de enfrentar o problema que também é sentido entre estudantes e trabalhadores técnico-administrativos, que relatam as dificuldades enfrentadas no dia a dia”, ressaltou.