Cursinho Popular Risoflora é um dos que está envolvido na articulação no Espírito Santo das mobilizações nacionais
“Sem Aula Sem Enem” é o nome da campanha lançada por diversas entidades estudantis e grupos educacionais a favor do adiamento da data das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que teve o início das inscrições nesta segunda-feira (11), sob grande polêmica. Por meio de uma plataforma online, é possível enviar mensagens para deputados e senadores com intuito de pressionar o Governo Federal para rever a posição.
Diante da impossibilidade de atos nas ruas, os estudantes estão buscando articular-se por meio das redes para exercer pressão junto aos políticos e levantar a questão para a sociedade em geral. Dentro da plataforma Sem Aula Sem Enem, cada coletivo, grupo ou escola pode criar sua própria página e estimular o envio de e-mails que vão para o presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e seus deputados. No caso do Espírito Santo, o Cursinho Popular Risoflora, que funciona há seis anos em Vitória, é um dos criou uma página própria para envio de mensagens aos parlamentares capixabas em Brasília.
Citando fontes, o site da campanha traz como dados o fato de que cerca de 80% dos estudantes de Ensino Médio no Brasil estão em colégios públicos, que se encontram com aulas suspensas, e que 85% das secretarias de educação a nível estadual e municipal ainda não sabem como farão para avaliar a aprendizagem durante o isolamento. Além disso, 70% das residências das classes D e E não possuem acesso à internet e 40% dos alunos não possuem um espaço específico em que possam desenvolver estudos em seus lares.
Gutemberg Gomes de Oliveira, integrante da coordenação do cursinho, entende que a manutenção da data é uma postura política e segregacionista, com caráter reacionário e de classe por parte do ministério da Educação, comandado por Abraham Weintraub.
“Há ataques do governo em todas dimensões políticas e na educação não está sendo diferente. Não há um plano nacional para dar respostas às mazelas na educação nesse momento. Manter o Enem sem que boa parte dos estudantes não tenham condições adequadas é justamente para dar prioridade a um grupo social”, diz se referindo aos estudantes de escolas particulares, que conta com melhor estrutura social e escolar que permite continuar com aulas pela internet.
Ele acredita que ao mesmo tempo em que vem se esforçando para continuar transmitindo conhecimento e preparando os alunos, é necessário fazer uma incidência política para que se possa pressionar pelo adiamento da prova, para que todos tenham condições com condições mínimas.
Também professor da rede pública, Gutemberg vem vivenciando de perto a dificuldade tanto de professores como de alunos no acesso e na familiaridade e usabilidade com plataformas à distância. Na educação popular, como é o caso dos cursinhos, vários outros fatores também são afetados pela atual conjuntura, como o ensino artístico e cidadão, que são considerados fundamentais dentro da proposta.
Diretor da União Nacional dos Estudantes (UNE) e representante estudantil no Conselho Universitário da Universidade Federal do Estado (Ufes), Hilquias Moura classificou como “absurda” a posição do governo federal, que considera pregar a desigualdade. A UNE faz parte da campanha a nível nacional e, no Espírito Santo, está articulando com outra entidades como o Diretório Central dos Estudantes da Ufes, o grêmio estudantil do Instituto Federal do Estado (Ifes) e outras para amplificar o alcance da campanha e massificar o ato que acontece nas redes na próxima sexta-feira, 15 de maio, escolhido como Dia Nacional pelo Adiamento do Enem, no qual será usada a hastag #AdiaEnem.
Hilquias enfatiza que o Governo Federal não abriu nenhum canal de diálogo com as entidades representativas da educação, sendo que muitas delas já se posicionaram contra a manutenção da prova em meio à crise. O diretor da UNE lembra que as universidades federais, principal meta de acesso dos estudantes que fazem a prova do Enem, estão com os calendários paralisados, depois de uma ou duas semanas de aulas na maioria dos casos, o que cria problemas também em relação ao sistema de seleção, o Sisu, já que ainda não foi terminada a chamada de suplentes e aprovados para o segundo semestre.
“Estamos falando da aplicação de uma prova em que os estudantes não tiveram a aplicação dos conteúdos”, questiona Hilquias sobre a finalização do ano letivo que pode estar inconclusa até a data da prova.
A UNE publicou um vídeo em que estudantes ironizam a propaganda oficial governamental de abertura das inscrições para o exame.
Hilquias Moura reforça que a UNE repudia com veemência as afirmações do ministro, que afirmou que a prova do Enem não é para corrigir injustiças. “Acreditamos que a implementação de um sistema nacional de avaliação é justamente para a redução de desigualdades, assim como as políticas de ações afirmativas. Nos últimos governos houve uma coesão para criar um sistema nacional para redução de desigualdades, enquanto o atual ministro aponta para o aprofundamento dessas desigualdades, que têm na educação sua principal possibilidade de combate”.