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Escola em Aracruz realiza projeto integrador de combate ao discurso de ódio

Estudantes realizaram oficinas e já demonstram mudanças de comportamento em relação a machismo e racismo

Divulgação

A Escola de Ensino Fundamental e Médio Caboclo Bernardo, em Barra do Riacho, Aracruz, no norte do Estado, finaliza nesta quarta-feira (16) a culminância do projeto integrador “Educação em direitos humanos: combatendo discursos de ódio e a violência contra a escola”, com uma série de atividades para apresentação dos trabalhos feitos desde o mês de maio com os estudantes e uma caminhada pelas ruas do bairro.

Sob coordenação dos professores Geziane do Nascimento Oliveira e Israel David de Oliveira Frois, o projeto integrador teve como motivação a necessidade de encarar o problema da violência, que teve como um dos principais episódios no país o ataque às escolas EEEFM Primo Bitti e Centro Educacional Praia de Coqueiral, localizadas no bairro Coqueiral de Aracruz, vizinho a Barra do Riacho, em novembro passado, quando quatro pessoas morreram e o atirador, um adolescente de 17 anos que usou suástica nazista durante os ataques, ex-aluno da EEEFM Primo Bitti e filho de policial militar, foi apreendido.

O projeto foi gestado durante o primeiro trimestre deste ano, quando vários outros ataques com mortes ocorreram em outros estados e o Espírito Santo viveu uma onda de ameaças de novos ataques, o que colocou as comunidades escolares da Grande Vitória e do interior em alerta, sendo inclusive lançado o Plano Estadual de Segurança Escolar, que incluiu um trabalho de inteligência da Polícia Civil para identificar e neutralizador os geradores e disseminadores de ameaças pela internet.

Nesse primeiro momento, foi elaborada em Aracruz uma cartilha, com um conteúdo que inclui a apresentação do contexto político brasileiro que sustenta a atual expansão do discurso de ódio e da violência no ambiente escolar; e a descrição do perfil dos alunos mais vulneráveis a serem capturados pelo discurso de ódio, com base em publicações como “Estratégia e Plano de Ação das Nações Unidas para Combater o Discurso de Ódio”, de 2019, da Organização das Nações Unidas (ONU) e o relatório “O extremismo de direita entre adolescentes e jovens no Brasil”, formulado pela Campanha Nacional do Direito à Educação em 2022.

A redução dos casos de ataques e ameaças que caracterizam o segundo trimestre em diante, em todo o país, acreditam os professores coordenadores do projeto em Barra do Riacho, é o momento oportuno para que as escolas e as famílias consigam discutir com mais profundidade o assunto e problematizá-lo em toda a sua complexidade.

“É um debate urgente, que precisa ser feito hoje. Nesse momento que está mais calmo, é que precisamos problematizar a questão e evitar novas ondas de ameaças e violências. Existem grupos que cooptam os adolescentes para essas práticas e os próprios adolescentes não conhecem bem como isso acontece. Então mostramos como ocorrem essas cooptações para ‘deixá-los espertos’ e evitar que sejam levados”, explica a professora Geziane.

“A gente assumiu a proposta de conversar sobre isso, por que tanto discurso de ódio, tanta violência nas escolas, de onde vem, e problematizar com os estudantes. Então a gente mostrou que vem de uma estrutura política e cultural e que a gente precisa mudar. Os momentos de aprofundamento com os adolescentes foram muito enriquecedores, eles entenderam a proposta”, afirma.

O professor Isral lembra que há, na equipe da Caboclo Bernardo, professores que trabalharam na Primo Bitti ano passado, quando ocorreram os ataques do atirador, e alguns ainda trabalham lá. A profundidade com que o tema foi tratado no projeto integrador, conta, supriu uma necessidade que eles sentiam de olhar para o problema de frente e discuti-lo, ao invés de minimizar e evitar o assunto. “Eles relatam isso para a gente”, diz.

Para além dos que viveram mais de perto o horror de novembro passado, a equipe como um todo recebeu o projeto de forma acolhedora, avalia. “Os professores abraçaram de imediato e os estudantes também se envolveram imediatamente”.

Os dois coordenadores já observam inclusive mudanças de comportamento por parte dos estudantes. “Os resultados maiores a gente sabe que virão a longo prazo, com a continuidade do debate, mas já podemos perceber alguns efeitos agora. Quando algum aluno se excede falando algo machista ou LGBTfóbico, vem logo algum outro e chama a atenção. Vemos isso já no dia a dia”, pontua Geziane.

“É claro que é uma semente que a gente planta e não consegue mudar a estrutura de algo que é profundo, mas já vemos avanços nesse pequeno período do projeto, sim. Nos fez olhar para a misoginia, o racismo, de uma forma que muitas vezes no cotidiano a gente não consegue olhar com atenção. E fez com que os alunos se movessem, se incomodassem e saíssem para a ação”, relata Israel.

Após a culminância desta quarta-feira, os professores irão aperfeiçoar a cartilha já editada em forma de e-book para publicá-la e compartilhar com outros educadores do Estado. Geziane e Israel também escreveram um artigo sobre o planejamento pedagógico do trabalho integrador e o submeteram a uma revista pedagógica. A intenção é dar continuidade ao projeto e expandi-lo o máximo possível.

“Discurso de ódio precisa ser combatido. E precisamos de políticas públicas para isso, que atrevessem toda a rede escolar”, reivindica Israel. Afinal, como afirmam os autores no e-book, “é a disseminação de uma educação libertadora e transformadora, baseadas na criticidade, que o jovem e adolescente pode ter base a lhe auxiliar na construção de saberes em que possibilite serem sujeitos emancipados e com autonomia frente aos desafios que se coloquem à sua frente, seja por meios de discursos em redes e mídias sociais, ou nos variados meios de comunicação impulsionando novas práticas e vivências baseadas no respeito mútuo e na construção de uma sociedade mais justa e igualitária”.


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https://www.seculodiario.com.br/seguranca/suspeito-dos-disparos-em-escolas-de-aracruz-ja-foi-identificado-pelas-policias


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