Em seis unidades visitadas pela Associação dos Pais de Alunos, presença foi entre 5% e 16% dos estudantes autorizados
Tem sido baixa a adesão dos estudantes do ensino médio ao retorno das aulas presenciais nos primeiros dias de autorização para a rede estadual, determinado pelo governo do Estado a partir dessa terça-feira (13). A constatação é da Associação dos Pais de Alunos do Espírito Santo (Aassopaes), que visitou seis escolas até esta quarta-feira (14).
Na Arnulpho Matos, do bairro República, em Vitória, por exemplo, apenas 45 compareceram às salas de aula nesta quarta-feira (14), menos de 11% dos 420 autorizados para a primeira semana (outro montante desse poderá ir para a escola na próxima semana).
Na Almirante Barroso, de Goiabeiras, também em Vitória, única que autorizou o registro fotográfico, um pouco mais: 67 dos cerca de 400. Nas demais escolas visitadas, a adesão se manteve baixa, variando entre 5% e 16%.
Secretário-geral da entidade, Aguiberto Oliveira de Lima percebeu ainda, em conversa com algumas profissionais dos corpos pedagógicos das escolas, grande dificuldade em lidar com o sistema híbrido de ensino. “Nenhuma das escolas visitadas recebeu orientações sobre alterações no currículo para o sistema hibrido nem sobre a combinação do calendário de 2020 com o de 2021”, relata. “Nenhuma delas também recebeu quaisquer novos investimentos em tecnologia”, depõe.
A situação, avalia, é reflexo da falta de segurança por parte de estudantes e familiares para o retorno presencial. “Com o pequeno público que compareceu, parece estar tudo bem. Corredores e salas sinalizadas, todo mundo de máscara e álcool em gel por toda a parte”, descreve. “Mas se viessem todos os que foram autorizados, não sei se seria possível manter esse controle”, diz.
Nesse contexto, Aguiberto conta que a entidade continua no ar em suas redes sociais com a campanha de “desobediência civil” iniciada na última semana, recomendando que os pais não enviem seus filhos para a escola nem assinem o termo de compromisso garantindo que cumprirão as atividades remotas. O motivo, reafirma, é que muitas famílias não possuem recursos tecnológicos ou outras condições de acompanhamento das aulas online pelas crianças e adolescentes.
Sobrecarga
Outra questão que preocupa a Associação, de forma compartilhada com o Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Espírito Santo (Sindiupes-ES), é a sobrecarga de trabalho para os professores e o acesso deficitário à plataforma EscoLAR, espaço em que a Secretaria de Estado da Educação (Sedu) determina serem lançadas as atividades remotas.
Com exceção dos professores mantidos em trabalho remoto por pertencerem a grupos de risco, todos os demais precisam estar disponíveis em sala de aula para receber os alunos. E para atender aos que estão em ensino remoto, possuem, oficialmente, apenas a carga horária destinada ao planejamento de aula feito em casa.
O tempo, porém, é insuficiente para transformar o conteúdo presencial em online e ainda atender aos alunos remotamente, corrigindo atividades e tirando dúvidas de quem consegue acessá-las e devolvê-las preenchidas (cerca de 15% dos alunos na rede estadual não fizeram ainda qualquer contato com suas escolas, estando ameaçados de suspensão da matrícula em dezembro).
“As pedagogas com as quais conversei afirmam que há dificuldade muito grande por parte dos professores para navegar nessa plataforma. Além da ampliação da carga horária, os professores sofrem ainda com um formato de trabalho para o qual não receberam treinamento”, denuncia.
A Assopaes vai continuar a visitar as escolas públicas e iniciar nas escolas privadas na próxima sexta-feira (16), após o feriado escolar do Dia do Professor.
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