O estudante da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Romes Marques Moreira, recebeu alvará de soltura nesta terça-feira (23). Ele foi detido um dia antes na Penitenciária de Segurança Média II (PSME II), em Viana, após quebrar as vidraças da Pró-Reitoria de Políticas Afirmativas e Assistência Estudantil (Propaes). A confusão ocorreu quando o universitário foi ao local pedir explicações sobre o porquê de o auxílio alimentação emergencial não ter sido pago aos estudantes, já que o Restaurante Universitário (RU) se encontra fechado.
O defensor público Antônio Ernesto, que acompanhou o caso, informa que o jovem terá que cumprir medidas cautelares, devendo comparecer em juízo mensalmente. O próximo passo, afirma, é aguardar o fim do inquérito policial e a decisão do Ministério Público Federal (MPF). O processo se encontra em segredo de Justiça.
O RU está fechado, informa a Ufes, porque o contrato com a empresa que fornece a alimentação se encerrou. A universidade, portanto, deve assinar contrato com uma nova empresa. Por isso, a instituição de ensino estava fornecendo marmita na janta mediante solicitação pela internet e depositando R$ 150,00 para os alunos que recebem assistência estudantil se alimentarem durante a semana. Contudo, o dinheiro não entrou nessa segunda-feira e, por falta de acesso à internet, Romes não conseguiu solicitar a marmita da janta, o que o motivou ir até a Propaes.
O noivo do estudante, Vinicius Silva e Souza, relata que Romes se encontra em situação de vulnerabilidade social. Ele foi dispensado do estágio, na Propaes, onde recebia uma bolsa no valor de R$ 700,00. O argumento utilizado pela universidade para isso foi a greve dos professores, que se encerrou no início de julho, após quase três meses de movimento. Por isso, ele ficou somente com a bolsa permanência, que é de R$ 550,00, a qual utiliza para pagar aluguel e outros gastos com moradia, como água e luz.
Ainda segundo Vinícius, por causa das dificuldades financeiras, Romes ficou sem se alimentar no último final de semana. Além disso, informa, o rapaz é neurodivergente e se alterou quando, em meio a uma discussão na qual pedia explicações aos servidores da Propaes, foi tocado por alguns deles e com a chegada da Polícia Militar (PM), acionada pelos trabalhadores da Pró-Reitoria. “Acho justo da parte dele reivindicar. O que aconteceu, de não garantirem a alimentação, não é algo pontual, que acontece de uma hora para outra na universidade”, diz.
Por meio de nota, a Ufes anunciou que a Propaes não abriria as portas nesta terça, “devido à necessidade de limpeza e reorganização”, e manifestou solidariedade aos servidores da Pró-Reitoria, em especial à diretora de Assistência Estudantil, Déborah Nacari, “que foram intimidados, ameaçados e agredidos por um estudante que invadiu o prédio onde funciona a Pró-Reitoria, no campus de Goiabeiras, e, de forma inesperada, quebrou móveis, equipamentos e vidraças do local”. A universidade acrescenta que, “durante a ação ocorrida na manhã desta segunda-feira, 22, o estudante ameaçou e agrediu verbalmente a diretora, que se manteve calma e tentou estabelecer um diálogo com o aluno”.
A Ufes afirma que uma ambulância do Samu esteve no local, mas após avaliação feita pelos profissionais de saúde, constatou-se não haver necessidade de socorro para nenhuma das pessoas envolvidas. Déborah Narcari também foi à delegacia, acompanhada por representantes da Reitoria, onde prestou depoimento e realizou exame de corpo de delito. “A Administração Central da Ufes reafirma seu repúdio a toda forma de agressão, intolerância, manifestação ou expressão que atente contra valores sociais e humanitários. Reforça ainda que todo e qualquer ato de violência ocorrido dentro de seus campi será apurado, a fim de que sejam adotadas as providências previstas em lei, sempre que necessário”, finaliza a nota.
A garantia de alimentação na universidade, inclusive com garantia também da qualidade da comida, é uma reivindicação antiga dos estudantes e sempre motiva mobilizações.
Em maio de 2023, o que inicialmente seria apenas um protesto no RU no horário do almoço e do jantar, culminou em uma ocupação na Reitoria. No almoço, os alunos bloquearam a roleta do RU e o acesso ao restaurante foi possibilitado a todos pela porta, como forma de se manifestar contra as ameaças de processo administrativo contra quem pula roleta por não ter condições de pagar pela refeição, que custa R$ 5,00. A universidade, então, não abriu o RU no jantar e informou que não abriria em nenhum horário no mesmo dia, o que motivou a ocupação.