Apesar de entidades estudantis do Brasil inteiro reivindicarem o adiamento do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a juíza Marisa Claudia Gonçalvez Cucio, da 12ª Vara Cível de São Paulo, negou o pedido alegando que a pandemia da Covid-19 é diferente em cada localidade, cabendo às autoridades sanitárias locais a responsabilidade de decidir se é possível a aplicação da prova. A decisão judicial está sendo contestada pelos estudantes, que acreditam não haver segurança para realização da avaliação, podendo contrair o vírus e transmitir aos familiares.
O diretor de Acesso ao Ensino Superior da União Nacional dos Estudantes (UNE), Raphael Reis, um dos articuladores em nível nacional e estadual da campanha #AdiaEnem, questiona a decisão. “Sim, a pandemia tem maior ou menor grau dependendo da região, mas apesar da dinâmica local a gente vive em um país com decisões nacionalizadas”, diz. De acordo com ele, a UNE vai se reunir para estudar novas formas de mobilização pelo adiamento, não descartando manifestações nas secretarias estaduais de educação para que os governos estaduais pressionem o Federal pelo adiamento.
A UNE também estuda divulgar uma nota pública se posicionando sobre a decisão judicial. O estudante do terceiro ano do Ensino Médio, Eldes Sena Vieira, que estuda na escola Hunney Everest Piovesan, em Santa Fé, Cariacica, busca uma vaga no curso de Cinema da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), mas acredita que a prioridade, neste momento, é preservar vidas, devendo o Enem ser adiado. “Não tem como ter prova. Estão colocando o Enem como algo de extrema necessidade em um momento em que é mais cabível adiar”, afirma.
Eldes acredita que a prioridade do governo Federal deveria ser a imunização da população por meio da vacina. Para o estudante, o desempenho das pessoas que farão a prova será prejudicado não somente pela defasagem de conteúdo do ano de 2020, mas por causa do medo de se contaminar. “Teremos que pegar ônibus para ir e voltar, teremos que ficar horas fazendo prova, fica até difícil se concentrar na avaliação com o medo da contaminação. Tenho duas pessoas com comorbidades em casa, minha mãe e minha irmã, tenho medo de levar o vírus para elas”, relata.
Eldes afirma, ainda, baseado nas diretrizes de segurança que estão no cartão de confirmação da inscrição, que fazer o Enem em um contexto de pandemia será “uma prova de resistência”. “As salas não terão ventilador, não poderão ter ar condicionado. A gente não pode colocar a mão na máscara, mas pode tirar a máscara para comer, o que é contraditório”, aponta.
Mais de cinco milhões de estudantes estão inscritos para fazer o Enem. A prova será realizada nos dias 17 e 24 de janeiro. Porém, até o momento o Ministério da Educação (MEC) não apresentou nenhum plano para garantir a segurança das pessoas durante a realização da prova, apenas algumas diretrizes contidas no cartão de confirmação.