Em homenagens ao diretor, divulgadas nas redes, alunos negam alegação da Sedu de “mau relacionamento com comunidade escolar”
Estudantes do Centro Estadual de Ensino Médio em Tempo Integral (CEEMTI) Prof Fernando Duarte Rabelo, no bairro Santa Helena, em Vitória, querem reverter a exoneração do diretor, Edimar Barcelos, anunciada na última semana pela Secretaria de Estado da Educação (Sedu).
No abaixo-assinado eletrônico “Juntos contra a exoneração do diretor Edimar Barcelos”, os estudantes afirmam não concordar com as justificativas apresentadas pela gestão do secretário Vitor de Angelo, de que o diretor “não tem uma boa relação com a comunidade escolar” e que “não tem perfil” para o cargo.
“Nós, alunos, estamos totalmente desapontados com tal decisão, estamos fazendo assembleias representativas para tentar achar soluções para que sejamos ouvidos”, afirmam na petição.
Em um vídeo compartilhado nas redes sociais também por professores da escola, são mostrados diferentes momentos de homenagem ao diretor, que passa por corredores humanos sendo aplaudido de pé pelos estudantes, dentro do prédio e no pátio da escola.
“Temos que fazer nossas palestras no refeitório sem ventilação adequada para suportar muitas pessoas, nossa biblioteca é menor do que uma sala de aula comum, temos que usar salas alternadas para suprir as salas de música e dança. Fora que nossa quadra (futsal e vôlei) não é coberta, jogamos todos os esportes no sol quente”, descrevem, acrescentando a instalação de
“ventiladores rotatórios, que só foi conseguindo depois de muita insistência do mesmo!”. E finalizam afirmando que “o Edimar luta pela nossa escola, luta pela quadra, pela merenda, pelos ar-condicionados e por uma educação democrática e inclusiva para todos dentro daquela unidade escolar”.Em nota, a Sedu informou, na ocasião, que “a seleção, nomeação, análise de desempenho e eventual dispensa da função de diretor escolar seguem critérios e procedimentos técnicos e profissionais, não apresentando qualquer correlação pessoal nesses processos”.
Atualmente, Kaique conta que está “afastado por virtude de licença médica, enfermidade adquirida no ambiente de trabalho, devido ao contexto de perseguição, retaliação e sabotagem do qual fui vítima” e responde por um Processo Administrativo Disciplinar (PAD) contra o qual ele pretende acionar a Justiça, “tendo em vista que começou por meio de denúncias anônimas que foram direto à Corregedoria sem os fatos sequer terem sido apreciados no âmbito da escola”.
Homofobia
Outro caso semelhante foi noticiado em maio de 2022, quando o professor de História Joatan Nunes Machado Junior protocolou denúncia na Corregedoria da Sedu contra o diretor da escola onde trabalhava, acusando-o de perseguição e LGBTQIAP+fobia. Na ocasião, o diretor Paulo Eduardo Frinhani, da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio (EEEFM) Oscar de Almeida Gama, em Araraí, zona rural de Alegre, na região do Caparaó, não aceitava o fato de Joatan se vestir de saia para dar aulas.
A pressão contra Joatan atingiu outros professores da escola que o apoiavam, devido à qualidade do seu trabalho e bom relacionamento com os estudantes. Em desabafo em suas redes sociais, ele afirmou: “Eu não vou deixar de existir” e seguiu tentando acompanhar o processo dentro da Corregedoria.
Mas até o momento, conta, não obteve qualquer retorno sobre o andamento da denúncia, sequer teve acesso ao processo, mesmo tendo feito o pedido duas vezes, por meio de dois advogados diferentes. “Hoje [28 de junho], Dia Mundial de Combate à LGBTQIAPN+fobia, digo que o Estado não fez nada, não tem nenhuma resposta desse caso de homofobia que eu sofri”, lamenta.
Gestão democrática
Sobre esse tipo de ocorrência, o ex-deputado Sergio Majeski (PSDB) afirmou, também em agosto do ano passado, que o Espírito Santo ainda não aplica a gestão democrática prevista nos planos nacional e estadual de Educação para ser implementada até 2017, o que faz com que os diretores representem os interesses do governo e não das suas comunidades escolares.
Ressaltou também que os conselhos escolares, formados por representantes de todos os segmentos da comunidade escolar, só existem burocraticamente, sem atuação prática efetiva. Os diretores de escola, denunciou, devem obedecer ao Estado, em detrimento da defesa das especificidades das escolas onde atuam. “Nós não conseguimos sequer fortalecer os conselhos de escola. Hoje, em grande parte das escolas, os conselhos funcionam ‘pró-form’, muito mal, basicamente para assinar papeis, mas não são participativos, nem mesmo consultivos! Isso é muito ruim”, declarou na ocasião.