quinta-feira, novembro 21, 2024
24.4 C
Vitória
quinta-feira, novembro 21, 2024
quinta-feira, novembro 21, 2024

Leia Também:

Licenciatura em Educação do Campo da Ufes tem inscrições abertas até dia 2

Gestora no campus Goiabeiras, Janinha Gerke celebra os oito anos do curso e repudia TAG do TCE: “está na contramão”

Estão abertas, até a próxima quarta-feira (2), as inscrições para o curso de Licenciatura em Educação do Campo (Ledoc) nos campi da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) de Goiabeiras/Vitória e de São Mateus, no norte do Estado. São 80 vagas em cada município e as inscrições podem ser feitas pela internet

Em ambos, é ofertada a formação em Ciências Humanas e Sociais, que habilita os educadores formados a atuarem nas disciplinas de História, Geografia, Filosofia e Sociologia. Em Vitória, há também a formação em Linguagens (Artes, Língua Portuguesa, Literatura e Educação Física) e, em São Mateus, Ciências Naturais (Química, Física e Biologia). Além das aulas – para os anos finais do ensino fundamental, o ensino médio e a Educação de Jovens e Adultos (EJA) -, os licenciados também se habilitam para atuar na gestão de escolas do campo. 

O Ledoc existe hoje em 46 universidades brasileiras, tendo chegado na Ufes em 2014. Em todas essas instituições, foi implementado como fruto da luta das populações rurais e dos movimentos sociais organizados pelos direitos das comunidades camponesas e de agricultura familiar. 

“Representa a conquista da luta pelo direito a uma formação superior que dialogue com as demandas dos movimentos sociais do campo, proporcionando que as pessoas que residem no campo possam acessar a única universidade pública que temos do Espírito Santo”, afirma a coordenadora do Ledoc em Goiabeiras, professora Janinha Gerke. 

Nesse sentido, o curso é organizado a partir da Pedagogia da Alternância, com aulas presenciais uma vez por mês durante três dias seguidos (quinta, sexta e sábado), com exceção dos meses de julho e janeiro, em que os estudantes permanecem na universidade, respectivamente, por dez e quinze dias. 

Outro diferencial, que visa atender aos estudantes de zonas rurais, é a garantia de custeio, pela universidade, de toda a despesa de transporte, alimentação e alojamento dos graduandos nos períodos de aula. “Toda a manutenção da vida estudantil desses estudantes é financiada pela universidade. O estudante tem gratuidade no transporte para buscá-los nos municípios, hospedagem e alimentação”, afirma. 

Os cortes executados pelo governo federal no orçamento do Ministério da Educação (MEC) e das universidades e institutos federais, conta a coordenadora, estão sendo vencidos, garantindo essa política de inclusão que tão bem caracteriza o Ledoc. “A nossa direção do centro e a administração central da universidade têm unido todos os esforços para manter. É um curso de inclusão social, é interesse da universidade”. 

‘Na contramão’

Outro retrocesso que o curso tem movido esforços para suplantar ocorre em âmbito estadual, por meio do Termo de Ajustamento de Gestão (TAG) proposto pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE-ES) a todos os 78 municípios capixabas e ao governo do Estado. 

“É uma política de retrocesso no Espírito Santo, porque esse TAG que vem na contramão de uma política nacional de formação em Educação do Campo. Além da graduação, também temos projetos de especialização em Educação do Campo e de aperfeiçoamento de educadores do campo”, repudia. 

Projetos, assinala, que são construídos coletivamente com os movimentos sociais e municípios. “Fomos surpreendidos com esse TAG, que utiliza um discurso de ‘reordenamento das redes’, mas que não considera todo um movimento de luta de mais de vinte anos pelo direito dos povos do campo de estudarem onde eles residem”, reforça.

“Quando se fecha uma escola, as famílias são expulsas daquela comunidade. É como se dissessem: ‘aqui não é lugar para viver, só para servir como mão de obra’. Uma escola numa comunidade representa muito mais do que as aulas, é o lugar de encontro das pessoas, de produção de conhecimento e de ciência, é onde os moradores lutam para que tenha internet, luz, estrada na comunidade”, qualifica. 

Mesmo sem assumir explicitamente o objetivo de fechamento de escolas do campo, o TAG tem atuado nesse sentido, mesmo antes de ser formalizado. “Quando a gente vai nos municípios e dialoga, vê que esse TAG é muito cômodo para os prefeitos e secretários que não apoiam a Educação do Campo. Eles dizem que “tem que seguir o TCE’ e fecham as escolas. É preciso mobilizar as comunidades. Elas têm poder de barrar os fechamentos”. 

O momento, compreende, é de retomada das manifestações públicas dos movimentos sociais. “Devem voltar a ocupar os espaços, as ruas e a própria Sedu, que precisa se posicionar de uma forma mais favorável à educação do campo“, aponta.

Mais Lidas