Obra de Ione Aparecida acompanhou atividades de educação étnico-racial em três escolas de Cariacica
Uma questão que ganhou força desde 2003 com a Lei 10.639 é o tema do livro O ensino de história e cultura afro-brasileira e africana: a importância da formação e efetivação de um currículo, da pedagoga Ione Aparecida Duarte Santos Dias, lançado de forma virtual em uma “live” realizada pela Secretaria de Estado de Direitos Humanos (SEDH). A obra é fruto de sua dissertação no Mestrado Profissional em Educação da Universidade Federal do Estado (Ufes) e envolve pesquisa junto a três escolas públicas de Cariacica. A obra pode ser adquirida pelo site da Editora CRV.
“Apesar da aprovação da lei, sua implementação ainda é um desafio. Os professores devem ter formação para trabalhar o tema nas escolas, garantindo que a questão da história e cultura africana e afrobrasileira não seja lembrada apenas em 20 de novembro [Dia da Consciência Negra], mas sim durante o ano inteiro”, pontua Ione.
Além de apresentar uma contextualização sobre raça, racismo e os desafios para a educação étnico-racial, a obra faz um levantamento da história e formação de Cariacica e de suas políticas educacionais. Depois do levantamento teórico, o livro se volta para ações práticas, inicialmente a partir do Curso de Formação e Pesquisa em Educação para as Relações Étnico-Raciais realizado em 2019 em parceria do Núcleo de Estudos Afrobrasileiros da Ufes (Neab) e o Ministério Público Estadual (MPES). Apesar de receber mais de 600 inscrições, o curso pôde acolher apenas 30 inscritos por questões estruturais, mostrando que há interesse e faltam espaços de formação nas redes de ensino.
Além de diversas palestras, estudos e atividades pedagógicas, o curso incluiu uma aula de campo no terreiro de Pai Sandro D’Jagun, abordando as religiões de matriz africana e a questão da intolerância religiosa.
Após a conclusão, o momento seguinte foi de acompanhamento das intervenções feitas por professores como desdobramento da atividade formativa, levando os conhecimentos absorvidos para o cotidiano escolar. O livro registra assim com descrição, depoimentos, imagem e análises, diversas atividades realizadas que podem ser replicadas ou adaptadas em outras escolas.
Buscando uma linguagem acessível para professores, o principal público-alvo, a obra tem como base as construções de Paulo Freire em torno da ideia de educação de uma educação emancipadora e de formar formando. “A escola deveria ser o espaço de maior acolhimento, mas muitas vezes é onde mais se revela o racismo e o preconceito. Ainda precisamos trabalhar muito para vencer o racismo dentro e fora das escolas. Esse material vem justamente para trazer algumas propostas. O currículo é vivo e respira. A gente pode incluir a temática étnico-racial de diversas formas”, analisa a pedagoga.
E para além da obra impressa, a pesquisa também gerou outro resultado: o site Enfrentando o Racismo, que reúne uma série de conteúdos para apoiar os professores no ensino e na vivência escolar em relação ao racismo.