O prefeito Luciano Rezende (PPS) tem usado de todos os recursos possíveis para aterrorizar os professores e diretores envolvidos na greve iniciada no dia 25 de março. A categoria, no entanto, continua unida e recebendo apoio de coletivos e organizações da sociedade civil em favor de sua pauta de reivindicações.
Nesta segunda-feira (23), centenas de professores receberam seu contracheque antecipadamente, informando o corte de ponto de 30 dias, com vencimentos equivalente a menos de 80% dos salários.
Na última sexta-feira (20), o Diário Oficial do Município publicou a demissão sumária de dois professores; a convocação dos profissionais em greve para retorno imediato às salas de aula, sob pena de PADs; e um edital (006/2018) de processo seletivo simplificado emergencial para contratação temporária.
As demissões sumárias dos professores Nanine Renata Passos dos Santos Pereira e Anderson Gonçalves da Silva foram assinadas pelo próprio prefeito e os impede de trabalhar no serviço público – seja por prestação de concurso ou por cargo comissionado – nos próximos cinco anos e envolve quaisquer outros órgãos públicos em nível municipal, estadual ou federal.
A convocação de retorno às escolas, assinada pelo secretário municipal de Gestão, Planejamento e Comunicação, Vander Borges dos Santos, surtiu efeito nesta segunda-feira (23), quando diretores foram trabalhar vestidos de preto, manifestando seu protesto com a ação autoritária do chefe do Executivo. “Eles afirmam seu apoio incondicional à greve, mas estão com medo e se viram obrigados a voltar”, conta Washington Felix Rocha, coordenador do Comando de Greve.
O medo, aliás, é o sentimento que permeia os corações e mentes dos profissionais neste momento, o que os impede de se identificarem nesta matéria. “Estamos desesperados. Nunca vi isso em 27 anos de magistério na rede municipal de Vitória”, apontou uma professora.
Nesse domingo (22), o Fórum Capixaba de Lutas sociais publicou uma nota manifestando “apoio à greve de professoras e professores da rede municipal de Vitória, em luta pela recomposição prevista em lei das perdas inflacionárias dos salários, que se avolumam desde 2014, bem como por uma vasta pauta de reivindicações pela melhoria das condições precárias de trabalho da categoria”.
A postura autoritária do Prefeito Luciano Rezende e da secretária de Educação, Adriana Esperandio, de não dialogar com os professores e de ameaçar demiti-los ou ajuizar processos administrativos, “deixa patente seu flagrante descaso pela educação da grande maioria da população”, completa o manifesto.
“Nosso apoio às/aos mais de quatro mil trabalhadoras e trabalhadores no exercício de seu direito constitucional à greve é também nosso repúdio à tentativa de intimidação e retaliação por parte da Prefeitura, para quem assuntos diretamente ligados às necessidades reais do povo – dentre os quais, a educação – são tratados com desprezo e violência”.
Familiares de alunos da rede municipal também se surpreenderam nos últimos dias com mensagens da Prefeitura de Vitória criminalizando o movimento grevista. “PMV informa: das 5 reivindicações dos professores, 4 foram atendidas. O Sindicato/CUT abandonou as negociações. Justiça decretou greve ilegal”, relata uma mãe, nas redes sociais, reproduzindo textos das mensagens. A segunda, segundo ela, diz que “mais professores serão contratados para normalizar aulas. Prefeitura continua aberta ao diálogo. Pedimos retorno imediato dos grevistas ao trabalho”.
Os professores elaboram um pedido de liminar para suspender o edital de convocação imediata dos professores, sob pena de PAD. “A pessoa que se ausentar 30 dias do serviço é afastada, sim, mas nesse caso é diferente. Estamos em greve. É mais uma forma de retaliação”, denuncia.
Em virtude da ofensiva intensificada, uma assembleia extraordinária foi convocada para esta terça-feira (24). E, no início da noite, duas reuniões estão previstas para acontecer em paralelo, ambas com o Conselho Popular de Vitória, que se dividiu, metade sentando-se com Luciano Rezende, na sede da prefeitura, e outra metade com o Comando de Greve.