Votada pela maioria da comunidade acadêmica, Ethel Maciel espera reversão da decisão de Bolsonaro que a tirou da reitoria
A professora da Universidade Federal do Estado (Ufes), Ethel Maciel, acompanha atentamente à votação do Superior Tribunal Federal (STF) que pode anular as nomeações feitas pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que indicou para reitor de universidades federais candidatos derrotados nas eleições internas de suas comunidades acadêmicas. “Considero que houve uma ruptura democrática grave na Ufes”, diz ela, que ocupava o posto de vice-reitora da instituição antes das eleições e havia se postulado ao cargo máximo.
Ethel foi a mais votada tanto na consulta ampla e informal com a comunidade acadêmica como na votação oficial nos Conselhos Superiores da universidade, que indicou a lista tríplice para o governo federal. Mas foi com surpresa que ela e os outros candidatos indicados receberam a notícia de que o nomeado havia sido o professor Paulo Vargas, que ficou em segundo na consulta. Incluindo a Ufes, somam-se 15 instituições federais de ensino superior onde Bolsonaro não indicou o vencedor da consulta.
Os quatro primeiros votos já anunciados foram favoráveis à medida que poderia significar a destituição dos reitores nomeados e a substituição pelos que foram vencedores da consultas, como é o caso de Ethel Maciel, que é professora do departamento de Enfermagem da Ufes. O processo foi paralisado após um pedido do ministro Gilmar Mendes, mas quando retomado, bastariam mais dois votos positivos para que a ação seja aprovada. “Estou esperando a votação no STF para entrar na Justiça, assim como os outros reitores”, contou ao Século Diário.
Nos últimos dias, uma série de manifestações na Paraíba, inclusive com a ocupação da reitoria da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), acenderam o debate sobre a questão. Lá, Bolsonaro nomeou o último colocado da lista tríplice, que teve apenas 5% dos votos da comunidade acadêmica.
Na Ufes, a estratégia política permitiu que a lista tríplice fosse formada por três candidatos ligados ao mesmo grupo político, eliminando a chance de um opositor ou bolsonarista ser indicado. Apesar de Paulo Vargas ter sido aliado de Ethel na disputa, ela considera que sua indicação gera dificuldades internas na gestão da universidade, porque carece de legitimidade diante da comunidade acadêmica e seus diversos setores, ainda mais num momento tão problemático como o de pandemia da Covid-19 e aulas online.
“A minha nomeação seria o restabelecimento da democracia universitária e da autonomia da Ufes”, considera Ethel Maciel. “Tem o fato de ser uma mulher, feminista, tudo que eles não suportam. Considero isso muito grave. Foi uma intervenção que fez uma ruptura democrática importantíssima. Fere frontalmente a democracia de uma de nossas instituições que mais prezam pela liberdade de expressão no país e que continua sendo resistência contra práticas antidemocráticas”, afirmou.
Ethel Maciel considera que a estratégia de Jair Bolsonaro é direcionada a calar a oposição democrática e as críticas a seu governo. Ela cita o caso da Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), que vinha realizando uma série de críticas às medidas do governo para as universidades federais. Com as novas nomeações de reitores favoráveis a seu projeto, mas sem respaldo da maioria da comunidade acadêmica, o governo federal está mudando a correlação de forças da entidade que reúne os reitores e neutralizando sua capacidade de crítica e debate sobre os rumos do ensino superior no país.