“Vamos colocar fogo em pneu em frente à Sedu, se for preciso, para sermos ouvidas”. O aviso é da coordenadora-geral do Coletivo Mães Eficientes Somos Nós, Lucia Mara Martins. “O vínculo com a escola é necessário, mas não da forma como está sendo feito. Estudante e mãe morta ou doente não precisam de educação”, afirma.
Reunindo mulheres que são mães de crianças e jovens com deficiência do Espírito Santo, o Coletivo reivindica políticas públicas intersetoriais efetivas, discutidas em conjunto com as famílias. A obrigatoriedade das aulas remotas, afirma Lucia, são uma violência contra todas as famílias, mas especialmente as de estudantes com deficiência.
Sem atendimento médico e o reforço das aulas da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), muitas delas ainda sofrem com falta de recursos financeiros necessários para garantir a alimentação da família. Desde o início da pandemia, as crianças e adolescentes com deficiência estão trancados em casa, conta Lucia, sofrendo com muitos surtos, em decorrência da quebra da rotina e da falta de assistência médica.
As mães, por sua vez, estão ainda mais sobrecarregadas com os cuidados dos filhos e sem qualquer condição de apoia-los nos estudos remotos enviados pela Secretaria de Estado da Educação (Sedu) desde abril e que passaram a contar como dia letivo desde o dia 1 de julho.
O ano letivo, argumenta Lucia, tem que ser pensado em outro momento. “Não é o momento de cobrar aula remota, nós temos o resto da vida pra fazer isso. A educação precisa encontrar formas de vínculo com as famílias”, suplica a coordenadora do Coletivo Mães Eficientes Somos Nós, aproximando-se da
defesa feita pelo deputado Sergio Majeski (PSB), de que o governo do Estado considere a possibilidade de que o ano letivo de 2020 seja cumprido em 2021.
Muitas mães, relata Lucia, tiveram que deixar de trabalhar para cuidar dos filhos para que eles não sofressem violência, e outras tantas estão fazendo trabalho remoto em casa. Todas, afirma, sem condições de ministrar as aulas remotas. “Mãe é mãe, não é professora. Muitas mães são analfabetas!”, enfatiza. “Daqui a pouco vai ter um boom de mães se suicidando por causa dessas aulas remotas”, lamenta.
A coordenadora do Coletivo conta que em 2019 vinha sendo feito um trabalho junto com a Sedu, com objetivo de fazer chegarem políticas públicas a essas famílias, mas que com a chegada da pandemia de Covid-19, toda a construção foi esquecida e essa população ficou invisibilizada e desassistida, sem acesso a seus direitos.
“O que nós queremos é que o fortalecimento de vínculo entre a família e a escola seja efetivado, mas não como cobrança de aula remota, e sim de outras formas, com apoio às famílias, educação interligada com a saúde e ação social. Políticas intersetoriais atuando, junto com as famílias”, explica.
“A maioria dessas responsabilidades fica em cima da mulher. E as mães que têm um filho com deficiência, a maioria são solteiras, abandonadas quando as crianças nascem. E quando tem o pai, eles não se responsabilizam pela educação dessas crianças. São poucos os pais presentes”, descreve.
“A maioria de quem está tomando essas decisões por nós é homem. Machos decidindo a vida das mulheres sem nenhum tipo de discussão política com as mulheres, que estão lutando para se manter e manter seus filhos vivos, saudáveis e em segurança. Aí vem aula remota, surtos dos filhos, não tem condição. São coisas que precisam ser discutidas, não podem ser decididas dentro de um gabinete, por pessoas que não conhecem essas realidades”, suplica.