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‘O governador precisa escutar os estudantes’

Diálogo e participação são reivindicações centrais das organizações estudantis para 2022

Ato realizado pelo movimento estudantil em agosto de 2021. Foto: Comunicação MAB

Após um ano de constantes ataques à educação no Brasil, o movimento estudantil no Espírito Santo entra em 2022 com reivindicações urgentes em nível federal e local. Entre as pautas capixabas, está a reivindicação por mais espaço nas decisões e por uma gestão mais democrática. “O governador Renato Casagrande [PSB] precisa escutar os estudantes”, ressalta a representante da União Nacional dos Estudantes (UNE) no Estado, Emanuelle Kisse.

A fala da ativista estudantil se refere ao programa UniversidadES, sistema lançado pelo governo do Estado em 2021 com previsão de ser efetivado em 2022. Em novembro, entidades questionaram a falta de participação na elaboração do projeto, que é apresentado como uma estratégia para promover a expansão do ensino superior público no Estado, mas conta com alguns pontos problemáticos, como a vinculação a forças de segurança pública.

“Ano que vem, nós, da UNE, vamos acessar alguns deputados estaduais para ter esses diálogos sobre qual programa pedagógico tem sido construído para essa universidade, o que tem sido pensado. Acredito que isso também nos diz respeito e o governador precisa escutar os estudantes, os movimentos educacionais”, destaca Emanuelle.

O diretor de acesso ao ensino superior da UNE no Espírito Santo, Raphael Reis, também defende a necessidade de reformulação do projeto, com a realização de um debate maior com a comunidade. “Ele foge do modelo educacional que a gente acredita e, principalmente, do modelo de universidade estadual que o movimento da educação pauta há muito tempo, uma universidade real física, que realmente proporcione a vivência universitária”, ressalta.

A necessidade de uma participação maior da comunidade na educação capixaba é apontada não só nesse projeto específico. Raphael também destaca a importância de uma gestão mais democrática das escolas, com a reformulação de processos como a escolha dos diretores por parte da comunidade, que não acontece nas escolas estaduais.

“Também existe uma grande dificuldade das entidades estudantis atuarem dentro das escolas. Muitas vezes a gente chega lá, se identifica como integrante do movimento estudantil, pede para ter algum momento de diálogo com os estudantes, apresentar o que é a organização estudantil, o grêmio, a Ubes [União Brasileira dos Estudantes Secundaristas], a UNE, e sempre fica parado nos portões das escolas. Isso gera uma dificuldade do movimento estudantil se organizar e ter uma compreensão maior da realidade das escolas”, destaca.

Outro ponto levantado pelo mobilizador é a importância da garantia de acesso dos estudantes capixabas à universidade, com a volta de projetos como o cursinho da Secretaria de Educação (Sedu). Para Raphael, a iniciativa será crucial, principalmente para recuperar o prejuízo educacional causado pela pandemia.

“Que seja um cursinho interiorizado, pensado nesses milhares de estudantes capixabas que estão chegando no terceiro ano agora, depois de dois anos de pandemia, tendo um processo bem atípico de estudo, longe das escolas, de forma remota. A gente não viu chegar os recursos que Casagrande prometeu, pelo menos não na quantidade necessária para conseguir suprir a demanda que os estudantes do Espírito Santo têm”, enfatiza.

Cotas, acesso e permanência

Em nível nacional, outro ponto central de debate do movimento estudantil é a Lei de Cotas, que pode ser reavaliada em 2022. Criada em 2012, a legislação estabelece que uma revisão do programa deveria acontecer no prazo de dez anos após a publicação. Para Emanuelle, o Espírito Santo não pode estar descolado dessas discussões.

“A gente sabe que tem um Congresso extremamente conservador. Então, é fundamental que a gente consiga se unificar nas questões educacionais, se unificar à luta do Movimento Negro para continuidade da Lei de Cotas, que foi uma lei fundamental para mudar a cara das universidades, para garantir acesso a um grupo historicamente marginalizado, então vai ser um ano em que devemos estar muito atentos a essa pauta”, destaca.

Para além disso, a ativista enfatiza que é preciso pensar não só no acesso, mas na permanência desses estudantes no Ensino Superior. Em julho deste ano, a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) chegou a enviar uma carta aberta aos estudantes, informando que um corte de 18,3% do governo federal impactaria os auxílios, principal ferramenta de garantia da permanência de estudantes em vulnerabilidade socioeconômica no ensino superior.

Por isso, Emanuelle acredita que outro ponto de atenção em 2022 é a defesa do Programa Nacional de Assistência Estudantil. “Quem entrou quer permanecer nesses espaços. E a gente sabe quem os cortes orçamentários mais impactam. Vão impactar, sobretudo, esses estudantes que não têm as condições e estruturas necessárias”, pontua.

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