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O que há de novo na EJA?

Curso busca conhecer a realidade da Educação de Jovens e Adultos. Ideia é traçar ações contra desmonte, aponta Tatiana Oliveira

A pergunta acima dá nome ao curso de extensão que será promovido pelo Núcleo de Educação de Jovens e Adultos da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e Fórum de Educação de Jovens e Adultos, cujas inscrições estão abertas. Entretanto, embora o questionamento suscite nas pessoas a ideia de algo positivo, na verdade, as novidades dentro dessa modalidade de ensino não são boas. Justamente por isso, o curso tem como um dos objetivos conhecer a realidade da EJA nos municípios, para poder interferir nela, que conforme aponta o Fórum, é de desmonte.

A coordenadora do Fórum, Tatiana Oliveira, relata que parte desse declínio é consequência da Resolução 01/2021, do Conselho Nacional de Educação. O documento estabelece o alinhamento da EJA à Base Nacional Comum Curricular (BNCC), à política nacional de alfabetização e à educação à distância.

A BNCC, explica Tatiana, parte do princípio de um currículo único, “engessado”. O currículo da EJA, ao contrário, é pensado a partir do sujeito, de sua leitura de mundo. “Cada sala de aula é um espaço com sua multiplicidade”, ressalta. A política nacional de alfabetização, para Tatiana, “é um retrocesso para a educação como um todo, mas principalmente para a EJA”. As críticas à essa política, feitas pelo Fórum, são por “retornar ao método fônico, com base nas famílias silábicas, de forma mecânica”.
“A alfabetização deve partir da leitura de mundo, de forma emancipatória, proporcionando a conscientização sobre quem somos, qual é nosso lugar e nosso papel no mundo”, diz Tatiana, destacando que a educação tem que ser dialógica e não bancária, ou seja, que desenvolva a criticidade, e não veja o professor como o único detentor do saber, como alguém vai auxiliar o aluno a armazenar informações.
A educação à distância, segundo Tatiana, foi acelerada com a pandemia da Covid-19. Entretanto, especificamente no que diz respeito à EJA, ela aponta que se trata de um processo de exclusão, já que a maioria dos estudantes não tem acesso às tecnologias, e quando tem, não as dominam. “Deixa mais à margem quem já se encontra na margem”, critica.
Tatiana afirma que, no Espírito Santo, assim como em outros estados, as consequências da Resolução 01/2021 já aparecem. Uma delas é a oferta de curso de alfabetização com duração de dois a três meses. De acordo com ela, a carga horária da EJA no Ensino Fundamental II, que abrange do 6º ao 9º ano, é de 1,6 mil horas. No Ensino Fundamental I, que abarca do 1º ao 5º, é dada autonomia à gestão pública quanto à carga horária.
“Na EJA, o tempo da alfabetização é o tempo do sujeito. Não posso determinar um tempo para uma pessoa de 70 anos, por exemplo. Temos alunos de 80, 90 anos, a gente lida com eles com a questão da memória. É sempre um começo e um recomeço, é diferente da criança, do jovem”, relata Tatiana, que aponta ainda o aumento da ausência de oferta de vagas, principalmente para o Ensino Fundamental I nas escolas do campo.
Esse primeiro segmento também tem sido alvo da municipalização. Segundo Tatiana, porém, as gestões municipais alegam não ter condições financeiras para isso, fazendo com que a oferta seja negligenciada.
Curso de Extensão
O curso “O que há de novo na EJA?” será gratuito, com aula inaugural no dia 27 de agosto, quando serão discutidos coletivamente os dias e horários das aulas. Com carga horária de 60h, o curso acontecerá nos municípios de Vitória, Serra, Cariacica e Vila Velha, na Grande Vitória, e em Alegre e Marataízes, no sul. Será discutida a política de EJA nos municípios, para conhecer a realidade de cada um e estabelecer ações para barrar os retrocessos.

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