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OAB pede no STF revisão da nomeação de reitores de universidades

Ação pode anular escolhas de Bolsonaro que contrariam as comunidades universitárias, inclusive na Ufes

Um requerimento feito pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) ao Superior Tribunal Federal (STF) pede a anulação das nomeações de reitores de universidades federais em que não tenha sido respeitado o primeiro nome indicado na lista tríplice pela comunidade universitária em seus protocolos internos de consulta. 
A ação foi impetrada porque, quebrando a tradição dos governos anteriores, a gestão do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem optado por nomear outros nomes da lista que não o mais votado. Foi o que aconteceu nas últimas eleições da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), quando a então vice-reitora Ethel Maciel recebeu o maior número de votos, mas quem foi indicado foi Paulo Vargas, que ficou em segundo lugar.

A alegação da OAB, que ajuizou uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF 759), pede que o presidente seja obrigado a observar os nomes mais votados nas listas tríplices. Segundo a Ordem, isso deve ser feito em respeito aos princípios constitucionais da gestão democrática, do republicanismo, do pluralismo político e da autonomia universitária.

A entidade explica que o objetivo não é declarar inconstitucionalidade do atual dispositivo que permite ao presidente nomear reitores e vice-reitores de instituições federais de ensino a partir da lista tríplice mas sim impedir “nomeações discricionárias” e “evitar novos aviltamentos por novas nomeações em desacordo com as consultas e escolhas majoritárias das comunidades universitárias”.

O caso terá como relator o ministro Edson Fachin, que também está responsável pela relatoria de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade do Partido Verde (PV) sobre o mesmo tema.

Curiosamente, no caso da Ufes, mesmo não tendo escolhido a mais votada no pleito, o governo federal teve que engolir uma derrota, já que a articulação política do grupo de Ethel conseguiu fazer com que os outros dois mais votados que compuseram a lista tríplice fossem também aliados dela, que é opositora do atual governo federal. No caso, os outros dois mais votados foram os professores Paulo Vargas e Rogério Faleiros, dos departamentos de Arquitetura e Urbanismo e História, deixando de fora da lista enviada ao ministério da Educação uma candidata bolsonarista e outra opositora da gestão do então reitor Reinaldo Centoducatte, que tinha como vice Ethel Maciel.

Paulo e Rogério, inclusive, haviam apoiado publicamente Ethel na consulta informal feita à comunidade acadêmica antes da votação da lista tríplice pelos representantes nos conselhos superiores da universidade. Na consulta, a então vice-reitora saiu com grande vantagem na votação entre estudantes e professores.

Nomeado no dia 23 de março deste ano, Paulo Vargas se declarou surpreso com a escolha. “Foi uma notícia inesperada a da minha nomeação, em lugar do nome de Ethel, como seria óbvio e natural esperar”, disse na época. Porém, assumiu o cargo com apoio da então vice-reitora, que é professora do departamento de Enfermagem. “Embora lamentando que o nome da professora Ethel tenha sido preterido, firmo o compromisso de assumir a gestão da Universidade e fazer a defesa incondicional dos princípios da autonomia universitária, do ensino público, gratuito e de qualidade, da gestão democrática e participativa e do respeito aos direitos humanos fundamentais para a garantia do exercício da plena cidadania”, declarou em março.

Porém, o clima amistoso com que o processo se deu na Ufes não foi o mesmo da maioria das outras universidades em que candidatos críticos ao governo federal foram os mais votados mas foram nomeados reitores mais próximos ideologicamente do executivo nacional, o que gerou protestos em locais como a Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

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