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Ocupação da Rádio Universitária revela abandono do antigo prédio da FCAA

O cenário é de total abandono e descaso. Computadores, caixas de som, máquinas de cartão de crédito e até um ar-condicionado ligado. Ao que tudo indica, esses equipamentos estão ligados ininterruptamente há dois anos, desde que o prédio da antiga Fundação Ceciliano Abel de Almeida (FCAA), onde atualmente só funciona a Rádio Universitária, foi desocupado por decisão da Justiça, em 2014.

Dezenas e mais dezenas de computadores, a essa altura muitos já quebrados por falta de uso e sujeira, televisores na mesma situação, carros da Fundação largados em uma área de pouca visibilidade, frigobares e todos os móveis estão comprometidos. Aliás, a estrutura do prédio também demonstra irregularidades. Um dos aparelhos de ar-condicionado passou dois anos respingando água e formou uma rachadura no chão do segundo andar do prédio.

O pior, como se não bastasse, é a constatação de que todos os documentos necessários para comprovação das supostas irregularidades administrativas da Fundação estão por lá, espalhados nas mesas, amarelados pelo tempo, jogados em pastas, no chão e em armários velhos. Há dois anos, sem nenhum tipo de cuidado, e já comprometidos pela sujeira e insetos. É possível encontrar até copos de café largados para trás, comidas com prazo de validade vencidos e edições de jornais do ano de 2014 pelas mesas, o que comprova o período em que tudo foi largado.

A extinta Fundação Ceciliano Abel de Almeida teve criação em 1977 e atuava nas áreas de ensino, pesquisa, extensão e desenvolvimento tecnológico. Seus principais projetos administrados eram a Rádio Universitária, O Projeto Universidade Para Todos (PUPT) e o Centro de Línguas.

Em 2013, porém, foi denunciada por irregularidades administrativas, desvios de verba pública e fraudes em concursos. Um ano depois, a situação era a seguinte: uma dívida de cerca de R$ 30 milhões e salários atrasados de funcionários. Diante disso, e da constatação de que a FCAA não teria como regularizar sua situação, foi pedida a extinção da Fundação e a desocupação do prédio.

E desde que o local foi desocupado, a Universidade passou a administrar diretamente a Rádio Universitária, enquanto o Centro de Línguas foi transferido para a administração de outra Fundação. Já o prédio, que nem lacrado ou interditado foi, passou dois anos seguidos largado e “escondido”, com abertura apenas para a entrada na ala da rádio. O que a administração da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) não esperava era que o local fosse ocupado por estudantes e militantes, revelando toda a situação de descaso com o prédio, que tem capacidade para abrigar inclusive um projeto de moradia estudantil – umas das pautas dos ocupantes.

A ocupação do prédio e da Rádio Universitária

Desde a última terça-feira (8) o prédio foi ocupado por estudantes e militantes, que deram nome à ocupação de Quilombo Zacimba. Enquanto poucas emissoras de comunicação se preocupam em ir ao local apenas para registrar e fotografar uma porta quebrada, destacando que os ocupantes foram os responsáveis, a Universidade se revira para retomar a posse do prédio.  

O sinal de internet já foi cortado, assim como o sinal de transmissão da rádio – um pedido do próprio reitor feito na documentação de solicitação de posse do prédio abandonado. De terça até a manhã desta sexta-feira (11), os ocupantes relatam que diversas investidas com a tentativa de reintegração foram feitas. Nesta manhã o chefe da segurança patrimonial da Ufes, alguns vigilantes federais e um policial federal já cercavam a entrada do prédio.

Uma das denúncias é a de que no pedido de reintegração de posse, feito sem nenhum tipo de diálogo com os ocupantes, constam os nomes de dois estudantes apontados como as pessoas que deram início à ocupação do prédio. A tentativa é de punir estes estudantes, que já estão como os nomes em outro processo de reintegração de posse na Universidade. Mas, em relação à atual ocupação, nenhum dos dois destacados no processo teriam qualquer participação, como apontam os ocupantes. Para eles, os nomes constam no documento como forma de perseguição e na tentativa de puní-los a qualquer custo. Em nota, o Quilombo Zacimba afirma que “fica claro a tentativa da instituição em usá-los como exemplo punitivo”.

As pautas dos ocupantes

A grande pauta de movimentação do Quilombo Zacimba é a luta pela moradia estudantil, uma realidade distante dos estudantes da Ufes. Os ocupantes alegam que a reitoria da Universidade se comprometeu em 2012 a construir moradias até 2015, medida que não foi cumprida. Diante disso, e com alguns prédios abandonados pelo Campus de Goiabeiras, uma das formas de chamar atenção para a medida foi a ocupação de um “local-chave”, o antigo prédio da FCAA. Contudo, eles não imaginavam a situação deplorável do local.

O Quilombo Zacimba também levanta as bandeiras de apoio ao movimento estudantil que luta contra a PEC 241/55 e a rejeição a MP 746 de reforma do Ensino Médio. Outra pauta da ocupação é ainda os atrasos com os auxílios e bolsas dos estudantes, o que afeta a permanência deles na Ufes.

A situação atual no prédio é de rotatividade de estudantes e militantes, com alguns dormindo no local. O Quilombo também tem promovido atividades de discussão sobre as pautas que defendem e decidiu interditar algumas das áreas que contém documentação da FCAA. O objetivo é garantir que nenhum documento seja retirado, ou mais danificado do que já se encontra, para que assim o processo contra a Fundação possa correr e não haja alegação de que os ocupantes foram os responsáveis por comprometer documentações necessárias.

O Quilombo Zacimba tem usado uma rede social para divulgar a situação da ocupação

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