A pesquisa foi respondida por 11,6 mil estudantes, o que representa um percentual de 49%
A maioria dos estudantes que responderam a uma pesquisa feita pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) é contrária à retomada do calendário com utilização de atividades não presenciais durante a pandemia do coronavírus. O estudo foi feito por meio de um questionário encaminhado por e-mail aos alunos. Divulgado nessa quinta-feira (28), foi respondido por 11,6 mil dos 23,7 mil estudantes matriculados em cursos de graduação presenciais e de pós-graduação, o que representa um percentual de 49%.
Entre as perguntas respondidas, estão se os alunos são favoráveis à realização de atividades não presenciais durante a pandemia. Em todos os campi, a maioria foi contrária. Os dados mostram que em Alegre, sul do Estado, os que não concordam com essa prática correspondem a 57,51%,; em Goiabeiras, 57,56%; em Maruípe, 55%; e em São Mateus, região norte, 55,97%. Os favoráveis em cada um dos campi correspondem, respectivamente, a 42,49%, 42,44%, 45% e 44%
Os discentes também apontaram as principais dificuldades que poderiam ter em caso de atividades online em substituição às presenciais. A maior foi a interação com os professores, que ficou em primeiro lugar em todos os campi com mais de 60%. Em seguida, foram as condições emocionais, apontadas por 48% em Maruípe, 3659% em Alegre, 49% em Goiabeiras e 30,82% em São Mateus. A falta de equipamentos adequados para acompanhar as atividades é maior entre os estudantes de São Mateus (30,34%), seguidos de Alegre (23,67%), Goiabeiras (22,71%) e Maruípe (21,72%).
A não familiaridade com plataformas online de aprendizagem afetaria, segundo a pesquisa, 20,34% dos alunos de Maruípe, 20,39% de Alegre, 18% de Goiabeiras e 20,45% de São Mateus. Nesses campi, a necessidade de cuidar de idosos ou crianças, por exemplo, seria um obstáculo, respectivamente, para 16,68%, 13,11%, 16,8% e 14,23%. Já a falta de acesso à internet afetaria 17,11% dos matriculados no campus do sul, 12,69% dos de Maruípe, 12,41% dos de Goiabeiras e 19% dos de São Mateus.
Mesmo tendo sido respondida por um pouco menos de 50% dos estudantes, o representante dos discentes no Conselho Universitário, Hilquias Crispim, afirma que a quantidade foi expressiva e que a pesquisa é importante para direcionar ações. Para ele, o estudo aponta que, no caso de serem implementadas atividades à distância, é preciso primeiramente promover ações de inclusão digital.
Ele defende que essas atividades, se realizadas, não devem ser feitas nos modelos tradicionais de Educação à Distância, mas sim como ensino remoto, podendo substituir as aulas presenciais durante a pandemia. Hilquias acredita que é necessário, nesse tipo de atividade, que seja proporcionada maior interação com os professores, promovendo, por exemplo, atendimentos virtuais com horário marcado.
Suspensão do calendário
Em reunião do Conselho Universitário, realizada nessa quinta-feira (28), foi decidido que a suspensão das atividades será prorrogada até o dia 30 de junho. Entretanto, a Associação dos Docentes da Universidade Federal do Espírito Santo (Adufes) contesta a decisão. Segundo a secretária geral da entidade, Junia Zaidan, a associação prossegue na defesa da suspensão do calendário acadêmico, o que, segundo ela, nada mais é do que formalizar o que já está sendo feito. Junia afirma que a não formalização tem como pano de fundo a manutenção da possibilidade de implementação do ensino à distância.
“A não suspensão do calendário é o Cavalo de Troia que traz o ensino à distância dentro”, diz Junia. A Adufes, segundo ela, também contesta o fato de o assunto estar sendo debatido pelo Conselho Universitário, e não no Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe). “Esperamos quase dois meses por uma reunião do Cepe. A reunião aconteceu somente quando a Adufes interpelou o Conselho, que não decidiu sobre a suspensão ou não do calendário, devolvendo o debate para as pró-reitorias e para os centros”, recorda Junia.
A reunião do Cepe citada pela secretária geral da Adufes é a do dia 19 de maio, quando foi deliberado que os centros de ensino e pró-reitorias deveriam encaminhar seus posicionamentos até o dia 28 de maio. Junia destaca que o tempo disponibilizado para discutir o assunto foi insuficiente. Ela relata que as pró-reitorias tiveram posição contrária, chancelada posteriormente pela Procuradoria da Ufes, que afirmou que a suspensão do calendário acarretaria, por exemplo, na paralisação das atividades de pesquisa e extensão.
Junia afirma que o parecer da Procuradoria é um equívoco e aponta que cerca de 70% das universidades cancelaram o calendário e em nenhuma delas houve redução de salário, suspensão de atividades de extensão e pesquisa e de contratos de professores substitutos.
Além disso, destaca, a manutenção ou não de bolsas e assistência estudantil é uma decisão política da universidade, assim como a própria suspensão do calendário. “A suspensão é uma decisão política que a universidade pode tomar, ela tem autonomia para isso e é respaldada pela Constituição Federal”, explica.