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Pesquisa mostra defasagem no quadro de professores da rede de Vitória

Mudança na carga horária, feita durante a gestão de Juliana Roshner, é apontada como uma das causas do problema

Uma pesquisa realizada por integrantes do Conselho Municipal de Educação de Vitória (Comev) mostra a defasagem no quadro de professores nas escolas da rede municipal, uma vez que 60% sofreram com a ausência de docentes em algumas disciplinas durante o ano letivo de 2022. Foram visitadas 32 unidades de ensino e feito um questionário, respondido por 38.

O mapeamento aponta as disciplinas nas quais os alunos não tiveram acesso, seja durante todo o ano letivo de 2022 ou em parte dele, e a quantidade de unidades de ensino onde essa carência foi verificada. Houve falta de docentes de Português em uma unidade de ensino, assim como dos de Geografia; Professor da Educação Básica (PEB) II, das séries iniciais; e do Projeto Educar para Vitória, que é uma iniciativa de fortalecimento para estudantes com déficit de aprendizagem.

A ausência de professores de Ciências foi registrada em duas escolas, sendo esse mesmo quantitativo nas disciplinas de Artes, PEB I, que atua na educação infantil; e PEB III Artes. Em três escolas observou-se a ausência de docentes de Matemática e Informática. Quatro apontaram falta de profissional de Educação Especial, outros cinco de Educação Física e de Articulador, que atua em conjunto com professores de Educação Física, Musicalização e Artes. A não contratação de professores de Inglês foi constatada em seis unidades.
De todas essas disciplinas, as que ficaram com maior tempo sem ser ofertadas foram Projeto Educar para Vitória e PEB III de Artes. Ambas ficaram oito meses sem professor, ou seja, praticamente todo ao ano letivo, em uma unidade de ensino. O menor período de vacância de docentes foi de um mês, como no caso de professor de Artes em uma unidade de ensino, Inglês, Educação Especial, PEB II e Articulador, também em uma unidade.
Além disso, 19 unidades responderam que ficaram sem coordenador durante o ano letivo de 2022 ou em parte dele. Desse total, seis não tiveram pedagogo, sete ficaram sem coordenador e seis sem ambos os profissionais. Conforme consta no levantamento, três escolas chegaram a ficar o ano todo sem coordenador. Também foi apontado que em 21 unidades de ensino faltaram estagiários para a educação especial. Em uma, foi o ano todo. O menor tempo sem esses trabalhadores foi de um mês, o que foi apontado em duas escolas.
Quanto aos assistentes administrativos, duas escolas sofreram a ausência desses trabalhadores, sendo uma durante todo o ano letivo e a outra por três meses. No que diz respeito aos assistentes de Educação I,nfantil, dois colégios passaram pela falta desses profissionais, um por 15 dias e outro por três meses. As unidades de ensino apontam que, diante dessa realidade, os principais prejuízos pedagógicos, disciplinares e logísticos causados foram rotatividade de profissionais, desgaste, prejuízo no planejamento, impactos na qualidade do conteúdo, sobrecarga de trabalho, ausência de profissionais/estagiários e prejuízo no processo de aprendizagem.
O impacto na qualidade do conteúdo, conforme afirma a representante dos estudantes no Comev, Julia Ramos de Souza, do 9º ano, tem prejudicado principalmente os alunos de sua série, que costumam fazer prova para ingressar no Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes). Ela mesma não se sentiu segura para fazer o processo seletivo, por ter ficado alguns meses sem a disciplina de Ciências, por falta de professor, e afirma que outros estudantes passaram pela mesma situação, abrindo mão de se inscrever para disputar uma vaga. Outra consequência, relata, é o prejuízo causados aos pedagogos e coordenadores, que, diante da ausência dos docentes, precisam ficar “segurando sala”, ou seja, permanecerem na sala de aula para que os alunos não fiquem sozinhos, impossibilitando esses profissionais de se dedicar a outras atividades.
O diretor executivo do grupo Professores Associados pela Democracia de Vitória (PAD-Vix), Aguinaldo Rocha de Souza, considera esse impacto no conteúdo “um débito impagável”. O Comev cobra da secretária municipal de Educação, Juliana Rohsner Vianna Toniati, a reposição, mas sem sucesso. Uma das causas da falta de professores, afirma, foi o aumento da carga horária nas escolas.
Os estudantes eram atendidos na Educação Infantil e no Ensino Fundamental nos seguintes horários: 7h às 11h30 no turno matutino, 13h às 17h30 no vespertino, e 18h às 22h na Educação de Jovens e Adultos. Agora, no turno matutino, a jornada escolar passou a ser das 7h às 12h e, no vespertino, de 13h às 18h. Essa alteração, segundo Aguinaldo, fez com que alguns professores saíssem da rede porque não conseguiriam chegar a tempo para dar aula em outro município, impactando principalmente as comunidades periféricas, onde a carência de transporte público é maior.
O representante dos professores no Comev, Maurino Fidelis, afirma que Vitória está perdendo mão de obra para outras cidades. Ele classifica a mudança na jornada “como tacanha, idiota” e aponta que a alteração prejudica até mesmo a alimentação dos trabalhadores, que, sem tempo para o deslocamento, acabam se alimentando com uma comida rápida, como pão com mortadela. “O professor de Vitória hoje não tem um plano de carreira, tem um plano de correria. Você sai da escola, come uma marmita, ou um pão com mortadela dentro do ônibus, porque não tem tempo para ter o mínimo de descanso decente entre uma jornada e outra”, critica.
Ainda de acordo com o mapeamento, sete unidades de ensino afirmaram que tiveram turmas fechadas e cinco disseram haver previsão de fechamento para 2023. Além disso, há 103 postos vagos de trabalho. O maior número deles é de PEB I, com 23, seguido de PEB II (17), assistente de educação infantil (11), coordenador (9), dinamizador e articulador, ambos com cinco; PEB III de Educação Física e PEB III de arte, com três; Geografia, Inglês, Artes, Informática, com dois; Ciências, História, Português, Educação Física, Música, Educação Especial e assistente administrativo, com um.

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