As famílias não estarão sozinhas. “A comunidade de Afonso Cláudio, liderada pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais e outras associações rurais locais, estão se mobilizando para defender o direito à Educação para todos os estudantes, inclusive para os que vivem e trabalham no campo”, informam os organizadores do ato público anunciado para esta quinta-feira (25), às 13h30, em frente à Escola Viva, na sede do município.
A Secretaria de Estado da Educação (Sedu) tentou forçar alunos do ensino médio de cinco comunidades do interior de Afonso Claudio a se matricular na Escola Viva, localizada na sede do município.
A Sedu não levou em consideração as condições culturais e econômicas da região, que exigem que o estudante também trabalhe na agricultora familiar. Como resultado da politica da Sedu, os alunos foram obrigados a optar por abandonar seus estudos.
O tiro pela culatra da Sedu feriu os estudantes da rede escolar de forma mortal. Caso se matriculassem na Escola Viva, teriam primeiro que deixar de ajudar economicamente suas famílias. Além da perda de renda, teriam uma perda ainda maior que é a da cultura, traduzida pela formação pratica e continuada no campo.
Mas não é só. Teriam que andar por longas distâncias, em estradas de chão em região de montanha, onde as precárias condições de tráfego, em geral em ônibus superlotados, entre tantos fatores negativos, produzem riscos constantes.
Distâncias como a da comunidade de Piracema à sede de Afonso Claudio, de 36 quilômetros, ou os 24 quilômetros de Vila Pontões à sede municipal.
A armação da Sedu contra os alunos já vem de bastante tempo. O ensino médio da escola de Mata Fria, 24 quilômetros da sede em estrada de chão, em região de morros, foi encerrado. O mesmo ocorreu na comunidade de São Francisco, que perdeu o ensino médio.
Na impossibilidade de se transferir para a cidade e conciliar estudo e trabalho, a maioria dos 90 alunos do ensino médio da localidade de Mata Fria, por exemplo, deixou de estudar.
Neste caso, a Sedu desrespeita até ordem da Justiça de Afonso Cláudio, que determinou a reabertura da matricula. Há recurso em andamento, para que a decisão seja cumprida.
Mas há o pior para as comunidades de Piracema, Vila Pontões e Fazenda Guandu: o juiz Luciano Fiorot negou determinar a reabertura das matrículas para o ensino médio nas comunidades. A Promotoria do Ministério Público (MPES) de Afonso Cláudio fez recurso contra a decisão. E as comunidades aguardam uma nova posição judicial que atenda aos seus interesses, e não os da Sedu.
A Escola Viva de Afonso Cláudio tem capacidade para 640 alunos, e esta oferta está sendo ampliada. Só que atualmente apenas 250 alunos, em número aproximado, estudam no local.
O ato público contra a situação criada no município pela Sedu será exatamente quando as autoridades do governo do Estado estarão no local.
Demissão de professora
Além de abater os alunos do ensino médio em plena formação, a postura da Sedu em Afonso Cláudio tiveram efeito colateral sobre o magistério e greve. É o caso da demissão injusta da professora Solange Maria Moizés, de Português.
No dia 16 de novembro do ano passado, inconformada com os prejuízos que a comunidade e seus alunos tinham com o fechamento do ensino médio nas escolas do interior, a professora Solange Maria Moizés fez denúncia da situação na Promotoria local do MPES.
Menos de 24 horas depois, ela simplesmente foi demitida de suas cadeiras nas duas escolas onde trabalhava. Ela ingressou com mandado de segurança e o juiz Luciano Fiorot se julgou incompetente para julgar o caso. E o processo foi parar no Tribunal de Justiça (TJES), onde ainda não foi julgado.
Os amigos da professora Solange Maria Moizés criaram uma página no Facebook no último dia 21. O propósito é o de prestar solidariedade à professora, “que está sofrendo uma grande injustiça promovida pela Secretaria de Estado de Educação do Espírito Santo (Sedu). Ela foi demitida um dia após ter ido ao Ministério Público (16/11/17) denunciar o fechamento das escolas rurais no município de Afonso Cláudio-ES”, relatam.
E seguem o raciocínio: “Sem comprovação, faltando apenas 18 dias letivos para o fim do ano escolar, a Sedu alegou que o encerramento de seu contrato (designação temporária) se deu por comportamento pretérito e falta injustificada ao trabalho. No dia 17/11/2017, após uma reunião entre a superintendente regional de Educação e os dois diretores das escolas que a professora trabalhava, a professora foi informada, às 17:00 horas, por telefone, que estava demitida”.