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‘Portões fechados são resposta à decisão arbitrária da Ufes’

Estudantes realizam dia de paralisação e afirmam desocupar Reitoria somente se demandas básicas forem atendidas

Conforme decidido em plenária realizada na noite dessa segunda-feira (29), os estudantes da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) fecharam os portões dos campi de Goiabeiras e Maruípe, impossibilitando o acesso de servidores e alunos. A ideia é que não haja aulas nesta terça-feira (30), realizando um dia de paralisação na instituição de ensino. “É uma resposta à decisão arbitrária da Reitoria de suspender às atividades do RU [Restaurante Universitário] durante dois dias”, disse um dos integrantes do Comando de Greve em vídeo publicado nas redes sociais do Diretório Central dos Estudantes (DCE).

Ele afirma, ainda, que é “impossível a manutenção da universidade sem uma das principais políticas de acesso e permanência”. Os alunos, que desde essa segunda-feira se encontram em uma ocupação na Reitoria, garantem que não saem de lá “sem que nossas demandas básicas sejam atendidas”.

A previsão é que um ato seja realizado no final desta terça-feira, e que durante o dia, haja atividades como rodas de conversa e aulas públicas. Como forma de protesto, muros da Ufes foram pintados com frases como “barricadas abrem caminhos”, “ciência não se faz de barriga vazia”, “a dor e o ódio da fome” e “fora, Paulo Larvas”, fazendo um trocadilho com o nome do reitor, Paulo Vargas, como forma de denunciar, conforme afirmam os estudantes, presença de larvas na comida do RU.
Sérgio Cardoso

A universidade resolveu fechar o RU após uma manifestação realizada nessa segunda, quando os estudantes bloquearam a roleta do restaurante na hora do almoço e liberaram o acesso de todos pela porta como forma de se manifestar contra as ameaças de processo administrativo contra quem pula roleta. A universidade, então, não abriu o RU no jantar e informou que não abrirá em nenhum horário nesta terça, o que motivou a ocupação.

A manifestação no RU, ocorrida nessa segunda e que também aconteceria nesta terça, foi aprovada no Conselho de Entidades de Base da Ufes diante de ameaças da Administração Central, que falou, conforme relata o Comando de Greve, que abriria processos administrativos contra quem pulasse roleta. As penalidades do processo podem ir de advertência até expulsão.

Além dos processos, a universidade também afirmou que colocaria catracas grandes, que impossibilitam as pessoas de pular, mas para o Movimento Estudantil, o ato de pular roleta está relacionado com a permanência dos alunos na universidade, pois muitos não têm condições de pagar pela refeição, que custa R$ 5,00. Conforme relata o Comando de Greve, um grupo de universitários se reuniu na tarde dessa segunda com representantes da Reitoria e da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis e Cidadania (Proaeci) e reivindicaram a reabertura da RU nesta terça.
Contudo, foi dito aos estudantes que isso não seria possível devido a problemas técnicos, como falta de tempo hábil para descongelar alimentos. Diante disso, a ocupação foi mantida. Um grupo, ao ver o reitor Paulo Vargas sair do prédio da Reitoria, chegou a cercá-lo, dificultando a saída do carro onde ele se encontrava e chamando-o de interventor, referindo-se ao fato de ter sido nomeado pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL), mesmo não tendo sido o escolhido na consulta feita à comunidade acadêmica – o nome mais votado foi da epidemiologista Ethel Maciel. O reitor se retirou do local acompanhado de seguranças da Ufes.
Divulgação

O Sindicato dos Trabalhadores da Universidade Federal do Espírito Santo (Sintufes) se manifestou nas redes sociais, demonstrando solidariedade aos estudantes. Para a entidade, ao fechar o RU, a Reitoria tentou “colocar os estudantes contra o próprio movimento”. “Estamos aqui para prestar solidariedade aos estudantes e reivindicar o direito à alimentação e permanência”, disse o coordenador de Formação Política e Sindical, Felipe Skiter.

A Associação dos Docentes da Universidade Federal do Espírito Santo (Adufes), por meio de nota, manifestou solidariedade ao Movimento Estudantil. A entidade afirma que a suspensão das atividades do RU foi considerada “punitivista” pela comunidade e que vê com preocupação “a reação da Reitoria frente ao protesto estudantil, e nos preocupa particularmente a postura que levou, sem diálogo com o movimento, à drástica decisão de suspensão imediata do funcionamento do RU”.

A Adufes destaca que muitos alunos já estavam na Ufes quando a suspensão do funcionamento do RU foi anunciada, ficando sem jantar. “Ao invés de aguçar os anseios de estudantes famintos, entendemos que a postura da Administração Central deveria ir na direção do diálogo e da busca por soluções que realmente considerem o Restaurante Universitário como essencial à permanência”.
Nota
A Ufes, por meio de comunicado oficial, alegou que o restaurante não abriria tanto no campus de Goiabeiras quanto no de Maruípe, chamando a iniciativa de “uma medida necessária para que se restabeleçam as condições de segurança, de trabalho e de organização adequada para o fluxo de fornecimento das refeições, comprometidas na manhã desta segunda-feira por uma manifestação de estudantes no RU de Goiabeiras, que inviabilizam as condições de trabalho da equipe e podem trazer risco para a segurança dos estudantes e servidores no local”.
Ainda segundo a nota, “a Administração Central da Ufes não recebeu das entidades representativas dos estudantes nenhuma comunicação oficial informando as razões das manifestações, das quais tomou conhecimento por meio de mídias sociais”. 

O texto prossegue dizendo que “a Administração Central da Ufes considera os Restaurantes Universitários equipamentos essenciais na política de assistência estudantil e que contribuem vigorosamente para o bem-estar e a permanência dos estudantes até o final do seu ciclo universitário. Por isso, está comprometida em promover melhorias nos RUs que valorizem ainda mais o seu papel, dentro das condições orçamentárias que dispõe. Com essa finalidade, nomeou um grupo de trabalho para estudar soluções para a melhoria no acesso e no atendimento, cujos resultados serão apresentados e discutidos com representantes estudantis assim que as atividades forem concluídas”.

A nota finaliza afirmando que “a Administração Central da Ufes entende que o diálogo é fundamental para a construção de soluções que contemplem as necessidades e demandas da comunidade acadêmica e coloca-se à disposição para debater com as lideranças estudantis as melhores soluções”.

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