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Prefeitura de Vitória fecha turma de 2º ano da EMEF Otacílio Lomba

Turma foi encerrada nesta segunda-feira, mas aviso foi dado na última quinta, pegando a todos de surpresa

Responsáveis por alunos da 2ª série da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Otacílio Lomba, em Maruípe, Vitória, foram pegos desprevenidos com a notícia de que, a partir desta segunda-feira (10), a turma seria extinta. A informação foi dada na última quinta (6), com pouco tempo para as famílias se organizarem diante da nova realidade. O argumento da Secretaria Municipal de Educação (Seme), segundo os responsáveis, é que a turma tinha poucos alunos, sendo, por isso, uma exigência do Tribunal de Contas do Espírito Santo (TCES) o fechamento.

A turma fechada foi a do turno matutino. O instrutor de autoescola Isaias Antônio Silva é pai de um dos alunos, que ainda não foi matriculado em nenhuma outra escola. A opção informada por Isaias para a Seme foi a EMEF Álvaro de Casto Mattos, em Jardim da Penha, onde a criança já aguarda na fila de espera. Contudo, a pasta argumentou que não se pode “furar fila”. “Não estou querendo furar fila, mas acho que a Prefeitura de Vitória criou o problema, então tem que arranjar uma solução, pois estou sendo obrigado a tirar meu filho da escola”, diz Isaias.

A escola de Jardim da Penha, para ele, é a melhor opção devido à proximidade com seu local de moradia, que é em Andorinhas. “Por pior que seja o trânsito, posso levar meu filho de bicicleta”. As opções dadas pela Seme foram as EMEFs Orlandina Almeida Lucas, em São Cristóvão; Ceciliano Abel de Almeida, em Itararé; e Izaura Marques da Silva, em Andorinhas.
A EMEF de São Cristóvão, explica Isaias, assim como a Ceciliano Abel de Almeida, sofre com a guerra do tráfico na região; na Izaura Marques da Silva, a modalidade de ensino é integral, como a mãe da criança fica em casa à tarde, a partir das 15h, prefere que ele estude de manhã e fique sob os cuidados dela no outro turno.
Outra opção é matricular no Otacílio Lomba à tarde, mas os pais não têm como levar o filho para a escola nesse turno, por causa do horário de trabalho. “Não posso deixar de trabalhar, tenho que sustentar o meu filho”, afirma.

Quem está passando por um problema semelhante é o motorista Jeferson Claudio. Ele matriculou o filho no turno vespertino, mas trata-se de uma experiência, pois nem ele nem a esposa podem levar a criança para a escola à tarde por causa do trabalho, tarefa que foi dada para a filha de 15 anos, que eles acreditam que não deveria ter essa responsabilidade.

O diretor-executivo do grupo Professores Associados pela Democracia de Vitória (PAD-Vix), Aguinaldo Rocha de Souza, afirma que dizer que o Tribunal de Contas mandou fechar a turma por ter poucos alunos é “conversa para boi dormir”. “Não é verdade. O Tribunal de Contas não faz orientação quanto a esse tipo de ação. Isso é uma demanda pedagógica. A escola e a Seme podem redirecionar alunos que estão nas turmas do ciclo que envolve o 1º, 2º e 3º ano”.
Aguinaldo explica que as escolas municipais funcionam em ciclos. Nesse caso, as turmas de 1º, 2º e 3º ano formam um. Assim, se uma criança está no primeiro, mas tem um processo de aprendizado mas célere, pode passar para a série seguinte. O contrário também pode acontecer, ou seja, um aluno que encontra muitas dificuldades na série em que está pode ir para uma anterior.

Por isso, Aguinaldo acredita que seria possível ampliar o número de alunos na turma, redirecionado alunos do 1º ano que já alcançaram seus objetivos para o segundo, além de retornar alunos que haviam sido promovidos para o terceiro, mas que ainda têm déficit. Ele também aponta a possibilidade de chamadas públicas para trazer mais crianças para a escola.

“O que mais uma vez fica comprovado é que a Secretaria de Educação age de forma antidemocrática, arbitrária, negando o diálogo político pedagógico, negando a própria legislação que fala o que é o ciclo, negando a participação dos pais, da escola, do conselho de escola, das unidades representativas dos profissionais no debate. Ela age como acusador, juiz e carrasco”, dispara Aguinaldo, que aponta que a iniciativa da gestão de Lorenzo Pazolini (Republicanos) não pensa em como isso pode afetar emocionalmente as pessoas envolvidas.
“A Seme esquece que do outro lado tem seres humanos. Hoje à tarde uma criança dessa que foi transferida abruptamente da turma do segundo ano matutino para o vespertino estava se debulhando de chorar aqui na escola. E ninguém me contou, eu vi. A decisão mexe com o emocional de um monte de gente, porque minimamente as pessoas deveriam ser preparadas para algumas mudanças que ocorrem, e essa não precisava ser feita”, destaca Aguinaldo, que leciona no Otacílio Lomba. 

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