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Professora é perseguida por bolsonaristas e acusada de ensinar ‘conteúdo LGBT’

Callegari e Davi Esmael usaram as redes sociais para refutar questões de uma tarefa de inglês e ameaçar abertura de PAD

A professora de inglês Rafaella Machado, da Escola Estadual de Ensino Médio Renato José da Costa Pacheco, em Vitória, é atacada por políticos bolsonaristas nas redes sociais. A docente é acusada de ensinar “conteúdo LGBT” para os alunos pelo deputado estadual Callegari (PL) e pelo vereador de Vitória, Davi Esmael (PSD). Não é a primeira vez que ela vira alvo da fúria de políticos bolsonaristas. Em 2021, o então vereador e hoje deputado federal, Gilvan da Federal (PL), com a mesma alegação de ser contra “doutrinação LGBT”, foi à escola para intimidar Rafaella, o que gerou reação de estudantes.

Em suas redes sociais, Davi Esmael, que nem ao menos tem como atribuição fiscalizar as políticas de educação estadual, apontou a ocorrência de “uma situação que vem constrangendo alunos que discordam da abordagem de uma professora de inglês que atua na escola e insere assuntos ligados à defesa do movimento LGBT em meio ao conteúdo de sua disciplina”. Disse, ainda, que está reunindo um grupo de “pais inconformados com a situação” para instaurar um Processo Administrativo Disciplinar (PAD) para apurar a conduta da professora.

Callegari, no vídeo publicado em suas redes, aparece ao lado de um pai de aluno, quem apresenta como Jeferson, e de um pastor, a quem chama de Dinho. O deputado mostra o conteúdo ao qual rechaça, que nada mais é do que questões de interpretação referentes a um texto sobre o mês do orgulho LGBT. Isso foi o suficiente para o deputado iniciar sua fala dizendo que “no currículo do Estado do Espírito Santo, tem conteúdo LGBT, ideologia de gênero, sexualização das nossas crianças”.
O parlamentar deixa claro que considera o conteúdo como algo que se choca com suas crenças religiosas ao destacar que o Brasil é signatário de acordos internacionais “que garantem liberdade de consciência religiosa”, e ao soltar o tão batido “nada contra homossexuais”, se dirige a Jeferson e prossegue dizendo que, apesar disso, o pai “quer criar seus filhos com determinados valores”.
A situação tem sido usada, inclusive, para fazer oposição ao Governo do Estado. De acordo com Callegari, a escola sabia do conteúdo, foi “conivente” e a Secretaria Estadual de Educação (Sedu) também tinha ciência. Classificou a gestão estadual como “praticante da ideologia de gênero” e disse que irá criar um projeto de decreto legislativo “para sustar esse currículo sem vergonha, canalha e cafajeste do governo Renato Casagrande [PSB]”. O deputado disse, ainda, que há “militantes que fingem ser professores”, e em tom ameaçador, se dirigiu aos docentes dizendo: “toma vergonha na cara, vira homem, para de perseguir filho dos outros”.
Em 2021, quando Rafaella foi perseguida por Gilvan da Federal e alguns pais de alunos, a sociedade civil a apoiou por meio de uma carta de solidariedade, assinada por cerca de 70 entidades. Um abaixo-assinado online também foi criado por uma de suas alunas e foi realizado um ato, organizado em menos de 24 horas, em frente ao colégio, com o chamado “Todo mundo contra a LGBTfobia”.
“Rafaella Machado, estamos com você”, foi um dos gritos que ecoaram com força durante a ação, que teve início na Praça Nilze Mendes, que fica a uma quadra da escola. Com máscaras de proteção, devido à pandemia da Covid-19, e cartazes em punho, os manifestantes seguiram até a entrada do colégio para receber a professora depois do trabalho, já que Gilvan havia afirmado que a iria “aguardar na saída”. Ele não compareceu ao local.
A professora saiu da escola sob gritos de apoio vindos do lado de fora. Sua camisa dizia “Lute como uma garota” e logo Rafaella recebeu flores e empunhou uma bandeira LGBTQIA+. Uma aluna leu uma curta nota de apoio, que foi repetida em jogral pelos presentes. “Queremos dizer que repudiamos qualquer tipo de intimidação e ameaça contra qualquer pessoa. Defendemos a liberdade de expressão e de ensino”.
Ao final, a professora se manifestou aos presentes. “Eu não sou o tipo de professora que se acua facilmente. Eu confesso que é estranho, é assustador no começo. É assustador num estado democrático permitirmos que isso siga acontecendo com professores. Não é a primeira vez que o vereador Gilvan ataca professores. E ele tem uma preferência por mulheres”, disse emocionada.

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