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Professores devem ser priorizados na vacinação, orienta Ethel Maciel

Medida é essencial para que escolas fiquem abertas prioritariamente, como Sedu avalia fazer, seguindo a Europa

O Brasil pode caminhar para priorizar a abertura de escolas em detrimento de outras atividades sociais e econômicas, a exemplo do que acontece na Europa, mas para isso, é preciso providenciar algumas medidas que garantam a segurança dos profissionais e dos estudantes e suas famílias, com destaque para a priorização desses profissionais na estratégia de imunização contra Covid-19 e para a melhoria do transporte coletivo. 

O posicionamento é defendido pela doutora em Epidemiologia e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Ethel Maciel, ao repercutir a declaração do secretário de Estado de Educação (Sedu), Vitor de Angelo, feita em coletiva de imprensa na tarde desta sexta-feira (13), ao lado do subsecretário de Estado de Saúde (Sesa), Luiz Carlos Reblin. 


“Trabalhadores da Educação devem ser considerados essenciais. E isso deve ser decretado ainda este ano”, orienta a epidemiologista, pois, caso contrário, eles não entrarão no primeiro grupo de vacinação ao lado dos profissionais de alto risco da área de Saúde, das pessoas com comorbidades e dos idosos que morem em Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI).

“Concordo que a Educação deve ser considerada serviço essencial, como está na Europa agora”, reforçou Ethel, “mas não sendo obrigados a utilizarem o transporte coletivo no estado em que estão”, salientou, ressaltando que grande parte dos estudantes e profissionais de Educação utiliza o transporte coletivo para se locomover até as escolas e que a realidade desse serviço é bem diferente quando comparado o Espírito Santo e o Brasil com a Europa.

Aqui, 42,1% das pessoas que testaram positivo no inquérito sorológico utilizavam ônibus mais de três vezes na semana. O mesmo percentual foi encontrado quando avaliado o tempo de viagem dentro de ônibus. Entre os positivados no inquérito, 42,1% permaneciam dentro dos coletivos por mais de trinta minutos. “Além do inquérito, há muitos artigos científicos afirmando a importância do transporte coletivo para transmissão de doenças respiratórias em geral, mesmo antes da Covid-19”, complementa. 
Na coletiva, Vitor de Angelo aventou a possibilidade de o Espírito Santo seguir a mudança de priorização feita na Europa, que agora coloca as escolas como atividades a serem mantidas preferencialmente em funcionamento, em detrimento de outras, como comércios e serviços.

“Em que medida nós devemos, como fizemos este ano no Brasil e no Espírito Santo, e como foi feito na Europa e nos Estados Unidos num primeiro momento, fechar as escolas e reabri-las apenas como sendo a última atividade a ser retomada? Ou, até que ponto, diante dessas informações, deveremos fazer como a Europa está fazendo agora, num caso de segunda onda ou recrudescimento da pandemia, fechar outras atividades, preservando a escola, entendendo não só a importância dessa atividade, mas o fato de que ela, à luz dos números que até aqui se apresentam, não parece ser o vetor de propagação da Covid-19?”, argumentou o secretário, referindo-se a dados por ele anunciados, sobre o quantitativo de profissionais da Educação e de estudantes que foram confirmados com a doença ao longo desses primeiros 60 dias de reabertura de escolas.

Até o momento, informou o gestor da Sedu, o ensino superior (que foi autorizado a retomar as aulas presenciais há dois meses, em 14 de setembro) registrou 87 estudantes e 39 profissionais testados positivamente para Covid. Na educação básica privada (autorizada no dia cinco de outubro), são 70 estudantes e 126 profissionais. Na educação básica pública (autorizada há um mês, em 13 de outubro), são 26 estudantes e 300 profissionais. 

Plataforma Escola Segura

Os números foram extraídos da plataforma Escola Segura, criada pelo Instituto de Tecnologia da Informação e Comunicação do Espírito Santo (Prodest), para que os gestores das escolas, juntamente com os comitês locais de prevenção à Covid-19 (formados também por representantes dos professores, dos estudantes, seus familiares e comunidades) façam inserção de dados sobre pessoas suspeitas e confirmadas para a doença em suas escolas. A partir dessas informações na plataforma, disse o secretário, o Estado pode tomar medidas de fechamento de turmas, turnos e unidades escolares, de forma a prevenir ou controlar surtos.

Na sua interpretação dos dados, o secretário destacou que 26 alunos testados positivo representam apenas 0,07% dos estudantes que retornaram às aulas, pois, do total de 240 mil alunos matriculados na rede pública estadual, apenas 15% retornaram, ou seja, 36 mil.

Já entre os profissionais de Educação da rede estadual, 13 mil dos 14 mil em atividade hoje retornaram ao trabalho presencial, pois cerca de mil mantiveram-se em trabalho remoto em função de comorbidades comprovadas. Os 300 que testaram positivo, portanto, representam 2,3% do total dos que foram para as escolas.

“Nada indica que a escola, ao contrário do que muitas pessoas possam considerar, constitui vetor de propagação da Covid-19. Tudo indica o contrário”, disse Vitor de Angelo, acrescentando que, “estatisticamente, não parece que acontece o que se previu, que os estudantes, pela dificuldade de cumprir protocolo, iriam transmitir para os professores”.

A comparação entre a escola pública e privada também foi ressaltada pelo gestor da Sedu: “Ao contrário do que muito se aventou, a escola pública não parece ser, à luz dos números, o espaço que, dadas as diversas condições de natureza física e estrutural, não tem condições de sustentar a atividade escolar num contexto pandêmico e de fazer isso numa condição diferente das escolas particulares”, disse. O número de estudantes positivos nas escolas particulares, salientou, corresponde a 55% do número de professores positivos. Já na rede estadual, o percentual de estudantes positivos corresponde a 8,6% do percentual de profissionais que testaram positivos. “Quatro vezes menos”, acentuou.

“Não seria razoável concluir isso, que as escolas particulares não estariam preparadas. Na minha compreensão, mostra a preparação eficiente das escolas públicas e particulares para cumprirem os protocolos, e fatores externos ao ambiente escolar que podem estar impactando os resultados nas instituições privadas não como escola, mas como grupo social que frequenta o ambiente escolar”, expôs, dizendo que o mesmo acontece no ensino superior, onde a proporção é inversa, com mais estudantes positivos do que professores, refletindo, em sua opinião, um comportamento dos adolescentes e jovens de maior exposição ao vírus do que o dos trabalhadores das escolas. 

Escolas fechadas

O secretário também informou sobre as escolas que foram fechadas em decorrência de surtos: Davi Roldi, em São Roque do Canaã, na região Centro-oeste; Angélica Paixão, em Guarapari, na região metropolitana; e José Leon Nunes, em Cariacica, também na Grande Vitória.

Na Davi Roldi, foram dez casos confirmados, todos trabalhadores, e o fechamento aconteceu no dia 26 de outubro. Na Angélica Paixão, foram três confirmados no turno noturno, também todos profissionais, até porque nenhum aluno havia voltado às aulas presenciais, com fechamento dia 30 de outubro. E na José Leon Nunes foram 10 casos, sendo sete trabalhadores e três estudantes, com fechamento dia cinco de novembro.

“São dados que desmontam um pouco uma inferência que talvez é natural pra muita gente, de pensar que a escola é um ambiente extremamente perigoso, e não é; que é um ambiente de grande transmissibilidade, e não é assim; e que teria um vetor grande de estudantes para professores e outros profissionais”, disse Vitor de Angelo. 

Quantos foram de fato infectados?

Para Ethel Maciel, é preciso mais cautela na interpretação desses números. “Não dá para fazer nenhuma inferência com esses dados que o secretário apresentou. Primeiro, porque um número muito pequeno de estudantes retornou, não sendo possível simular o ambiente escolar normal. Segundo, porque são dados de pessoas que tiveram sintomas, procuraram os serviços de saúde e fizeram os exames. Mas isso não nos permite saber sobre infecção e transmissão nas escolas. Não tem como a gente saber quantos se infectaram, porque não foi feito exame em todo mundo. Só com dados de quem teve sintomas, não dá pra falar sobre infecção, apenas sobre gravidade”, explicou.

O inquérito e o censo escolares, no entanto, que poderiam trazer uma radiografia mais precisa da transmissibilidade no ambiente escolar, ainda não foram concluídos. Segundo o subsecretário de Vigilância em Saúde, Luiz Carlos Reblin, foi feita coleta de material para o inquérito escolar em treze cidades e está sendo finalizado o censo escolar em toda a comunidade de professores e trabalhadores da rede estadual, em todos os municípios do Estado. “Não conseguimos concluir esse trabalho no tempo desejado”, lamentou Reblin. O motivo é o atraso na coleta e no processamento desses materiais biológicos, especialmente em Serra e Cariacica, municípios que representam 15% do total das amostras.

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