Medida é essencial para que escolas fiquem abertas prioritariamente, como Sedu avalia fazer, seguindo a Europa
O Brasil pode caminhar para priorizar a abertura de escolas em detrimento de outras atividades sociais e econômicas, a exemplo do que acontece na Europa, mas para isso, é preciso providenciar algumas medidas que garantam a segurança dos profissionais e dos estudantes e suas famílias, com destaque para a priorização desses profissionais na estratégia de imunização contra Covid-19 e para a melhoria do transporte coletivo.
O posicionamento é defendido pela doutora em Epidemiologia e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Ethel Maciel, ao repercutir a declaração do secretário de Estado de Educação (Sedu), Vitor de Angelo, feita em coletiva de imprensa na tarde desta sexta-feira (13), ao lado do subsecretário de Estado de Saúde (Sesa), Luiz Carlos Reblin.
“Trabalhadores da Educação devem ser considerados essenciais. E isso deve ser decretado ainda este ano”, orienta a epidemiologista, pois, caso contrário, eles não entrarão no primeiro grupo de vacinação ao lado dos profissionais de alto risco da área de Saúde, das pessoas com comorbidades e dos idosos que morem em Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI).
Até o momento, informou o gestor da Sedu, o ensino superior (que foi autorizado a retomar as aulas presenciais há dois meses, em 14 de setembro) registrou 87 estudantes e 39 profissionais testados positivamente para Covid. Na educação básica privada (autorizada no dia cinco de outubro), são 70 estudantes e 126 profissionais. Na educação básica pública (autorizada há um mês, em 13 de outubro), são 26 estudantes e 300 profissionais.
Os números foram extraídos da plataforma Escola Segura, criada pelo Instituto de Tecnologia da Informação e Comunicação do Espírito Santo (Prodest), para que os gestores das escolas, juntamente com os comitês locais de prevenção à Covid-19 (formados também por representantes dos professores, dos estudantes, seus familiares e comunidades) façam inserção de dados sobre pessoas suspeitas e confirmadas para a doença em suas escolas. A partir dessas informações na plataforma, disse o secretário, o Estado pode tomar medidas de fechamento de turmas, turnos e unidades escolares, de forma a prevenir ou controlar surtos.
Na sua interpretação dos dados, o secretário destacou que 26 alunos testados positivo representam apenas 0,07% dos estudantes que retornaram às aulas, pois, do total de 240 mil alunos matriculados na rede pública estadual, apenas 15% retornaram, ou seja, 36 mil.
Já entre os profissionais de Educação da rede estadual, 13 mil dos 14 mil em atividade hoje retornaram ao trabalho presencial, pois cerca de mil mantiveram-se em trabalho remoto em função de comorbidades comprovadas. Os 300 que testaram positivo, portanto, representam 2,3% do total dos que foram para as escolas.
“Nada indica que a escola, ao contrário do que muitas pessoas possam considerar, constitui vetor de propagação da Covid-19. Tudo indica o contrário”, disse Vitor de Angelo, acrescentando que, “estatisticamente, não parece que acontece o que se previu, que os estudantes, pela dificuldade de cumprir protocolo, iriam transmitir para os professores”.
A comparação entre a escola pública e privada também foi ressaltada pelo gestor da Sedu: “Ao contrário do que muito se aventou, a escola pública não parece ser, à luz dos números, o espaço que, dadas as diversas condições de natureza física e estrutural, não tem condições de sustentar a atividade escolar num contexto pandêmico e de fazer isso numa condição diferente das escolas particulares”, disse. O número de estudantes positivos nas escolas particulares, salientou, corresponde a 55% do número de professores positivos. Já na rede estadual, o percentual de estudantes positivos corresponde a 8,6% do percentual de profissionais que testaram positivos. “Quatro vezes menos”, acentuou.
“Não seria razoável concluir isso, que as escolas particulares não estariam preparadas. Na minha compreensão, mostra a preparação eficiente das escolas públicas e particulares para cumprirem os protocolos, e fatores externos ao ambiente escolar que podem estar impactando os resultados nas instituições privadas não como escola, mas como grupo social que frequenta o ambiente escolar”, expôs, dizendo que o mesmo acontece no ensino superior, onde a proporção é inversa, com mais estudantes positivos do que professores, refletindo, em sua opinião, um comportamento dos adolescentes e jovens de maior exposição ao vírus do que o dos trabalhadores das escolas.
O secretário também informou sobre as escolas que foram fechadas em decorrência de surtos: Davi Roldi, em São Roque do Canaã, na região Centro-oeste; Angélica Paixão, em Guarapari, na região metropolitana; e José Leon Nunes, em Cariacica, também na Grande Vitória.
“São dados que desmontam um pouco uma inferência que talvez é natural pra muita gente, de pensar que a escola é um ambiente extremamente perigoso, e não é; que é um ambiente de grande transmissibilidade, e não é assim; e que teria um vetor grande de estudantes para professores e outros profissionais”, disse Vitor de Angelo.
Para Ethel Maciel, é preciso mais cautela na interpretação desses números. “Não dá para fazer nenhuma inferência com esses dados que o secretário apresentou. Primeiro, porque um número muito pequeno de estudantes retornou, não sendo possível simular o ambiente escolar normal. Segundo, porque são dados de pessoas que tiveram sintomas, procuraram os serviços de saúde e fizeram os exames. Mas isso não nos permite saber sobre infecção e transmissão nas escolas. Não tem como a gente saber quantos se infectaram, porque não foi feito exame em todo mundo. Só com dados de quem teve sintomas, não dá pra falar sobre infecção, apenas sobre gravidade”, explicou.