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Protesto na Ufes pede revogação de edital para seleção de coordenador

Professor Iguatemi Rangel aponta suspeita de racismo no edital

Reprodução

Na próxima terça-feira (3), às 14h, movimentos sociais, entidades do Movimento Negro e a Associação dos Docentes da Universidade Federal do Espírito Santo (Adufes) realizam um novo protesto pela revogação do Edital 46/2024, de seleção para o cargo de coordenador do curso de licenciatura em Pedagogia na modalidade de Educação à Distância (EAD) da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). A concentração será na Cantina do Onofre, no campus de Goiabeiras, em Vitória.

Além da revogação do edital, é reivindicada a abertura de um novo, mas sem as mudanças feitas nas regras do processo seletivo. A mobilização é pelo fato de o professor Iguatemi Rangel apontar racismo institucional em alterações ocorridas no edital, que impossibilitaram a ele, homem negro, disputar sua permanência no cargo. O docente assumiu a coordenação de 2017 a 2019, e de 2021 até o presente momento. Na primeira vez, foi a convite da Superintendência de Educação à Distância (Sead). Depois disso, passou-se a exigir a realização de um processo seletivo.

Contudo, no processo seletivo deste ano, houve mudanças. Segundo o professor, as alterações foram a exigência da graduação em Pedagogia, retirada da obrigatoriedade de vinculação ao colegiado do curso, e exclusão do item E da tabela de pontuação, que atribuía pontuação à experiência em coordenação de curso EAD. Iguatemi, no entanto, é formado em Educação Física, o que impossibilitou sua participação, e a exclusão do item E faria com que perdesse pontuação.

“Essas mudanças, em conjunto, resultaram na minha inelegibilidade para o processo seletivo, impossibilitando minha participação e continuidade na coordenação do curso, ao qual tenho me dedicado incansavelmente desde 2017. Na minha percepção, essas alterações são inéditas e questionáveis do ponto de vista administrativo e jurídico, ferindo o princípio da razoabilidade e desconsiderando minha experiência e contribuição ao desenvolvimento do curso”, diz o docente.

Iguatemi acredita que pode ter ocorrido perseguição política, pois “tem postura crítica em relação à gestão de processos pela SEAD”, e “participação ativa na base do sindicato da Ufes”. “Embora não faça parte da diretoria do sindicato, atuo na defesa dos direitos dos servidores, o que pode ter gerado atritos com a gestão”, aponta.

“O fato de um professor negro, com comprovada experiência e dedicação à coordenação do curso, ser impedido de participar de um processo seletivo essencialmente por decisão administrativa, evidencia uma dinâmica que merece ser questionada. Essa exclusão reforça barreiras estruturais que mantêm os espaços de decisão sob o controle de um grupo privilegiado, perpetuando desigualdades históricas”, pontua.

Iguatemi destaca, ainda, que as mudanças feitas no curso de Pedagogia não aconteceram nos editais dos cursos de Química, Ciências Biológicas, História e Física. Além disso, entende que há conflitos com a Resolução nº 59/2023, do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe). “A retirada da exigência de vinculação ao colegiado do curso é incompatível com essa norma institucional, enfraquecendo a representatividade e a legitimidade dos candidatos que concorrem à coordenação de cursos de graduação”, afirma o professor.

“A análise dos resultados do processo evidencia um padrão preocupante: o único professor preto entre os coordenadores não pôde participar do processo seletivo e, consequentemente, não foi reconduzido ao cargo, enquanto todos os demais coordenadores, brancos, foram selecionados ou reconduzidos. Essa exclusão não pode ser dissociada do contexto do racismo institucional, que opera de forma estrutural e sutil para limitar o acesso de negros e negras a espaços de decisão”, conclui o docente.

Nessa quarta-feira (27), foi realizada mais uma uma manifestação na universidade. A concentração foi na Cantina do Onofre. Em seguida, os manifestantes passaram pelo Centro de Educação e foram para a Reitoria. Segundo a militante do Movimento Negro Unificado (MNU), Tereza Rosa, foram recebidos pela vice-reitora, Sônia Lopes, que informou que a universidade irá averiguar o caso, mas não estabeleceu um prazo.

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