“O quadro de profissionais da Educação está completo em sua escola? Caso não, por favor, se possível, diga qual é a escola e qual município está localizada”. Com este convite nas redes sociais, o coletivo Resistência e Luta Educação ES, realiza um levantamento nas escolas públicas estaduais nestes primeiros dias de retorno presencial das aulas.
O professor Swami Cordeiro Bérgamo, do Resistência e Luta, conta que “as escolas estão vivendo um caos total”, com falta de professores, estudantes que não cumprem os protocolos, aglomeração nos horários de saída e entrada dos turnos, novas disciplinas do Ensino Médio ministradas sem o devido preparo de professores e escola, merenda escolar insatisfatória e professores com carga tripla de trabalho sem o devido reajuste salarial.
“Na escola em que eu trabalho, só no turno matutino, estão faltando 10 professores e já estamos na segunda semana de aula de fevereiro”, ressalta. A seleção de educadores pela Secretaria de Estado da Educação (Sedu), conta, “está sendo feita presencialmente nas SREs [Superintendências Regionais de Educação], também com aglomeração. Sendo que o edital indica que essa etapa não seria presencial”, descreve.
Os relatos, conta Swami, já começam a chegar, de várias partes do Estado. De Vila Velha, a escola Ormanda Gonçalves tem “falta de professores de português, inglês, espanhol e filosofia, e uma professora de matemática está em trabalho remoto e não mandaram um profissional para substituir o presencial”, relata um professor que colaborou no levantamento da Resistência e Luta.
Da escola Marinete de Souza Lira, na Serra, o registro é de que há 15 professores efetivos, estando incompleto o quadro de professores. “A escola funciona de manhã, tarde e noite. Se considerarmos em porcentagem, temos em média 25% do corpo docente efetivo, apenas! Lamentável”, destaca.
Na EEFM Primo Bitti, em Aracruz, norte do Estado, um educador conta que “não temos dois professores de português e um de matemática, à tarde, porque a Sedu não envia substituto desde o ano passado para os docentes que possuem comorbidades e não estão no presencial. Pela manhã as duas disciplinas também carecem de professores”.
Na Elza Lemos Andreatta, em Vitória, “faltam dois professores no vespertino (química e história) e no noturno (três professores para ensino técnico). Não consegui informação sobre o matutino”, responde outro.
“Trabalho em uma escola estadual em Alegre, sul do Estado, e estão faltando muitos profissionais. Além de professores, pedagogo e coordenador”, registra mais um.
“A EEEFM Hunney Everest Piovesan, em Cariacica, não tem o quadro completo. Está faltando professor de História pois duas professoras, estão no ensino remoto por comorbidade, inclusive eu. Até agora a SER não mandou substituto presencial”, indigna-se outro.
Os relatos chegam continuamente, conta Swami. “É um absurdo isso! Além de revelar a desorganização da Sedu, deixa nítido a necessidade de realização de concurso público para completar o quadro de profissionais efetivos”, avalia.
A intenção com o trabalho, explica, “é dar visibilidade a esta política de desvalorização da educação, denunciando ao Ministério Público, com solicitação de providências imediatas”.
Canal de denúncias
A ideia, destacou o parlamentar, é contar com a contribuição, principalmente, dos estudantes e seus familiares. A participação dos professores não está excluída, ressalva, mas é mais difícil, mesmo com a possibilidade de fazer a denúncia de forma anônima, pelo fato de que 60% dos docentes da rede estadual têm contratos de Designação Temporária (DT). “Designação Temporária é precarização. A pessoa pode ser dispensada por qualquer motivo. Por isso, muitos têm medo de denunciar “, aponta.
O foco do canal são as cerca de 470 escolas estaduais do Espírito Santo. “Se chegar denúncias da rede municipal ou de escolas privadas, claro que podemos encaminhar para o Conselho de Educação ou para o Ministério Público, mas há as limitações do mandato de deputado”, afirma Majeski.
Primeiro de março é o limite
A rede pública estadual capixaba retornou às aulas no dia quatro de fevereiro, em formato híbrido. As redes municipais, segundo definição feita entre a Sedu e a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime/ES), devem retornar no máximo
até o dia primeiro de março, em formato presencial ou híbrido.