Professores e responsáveis por estudantes da rede municipal de Vitória não tiveram um retorno positivo quanto à realização de uma reunião entre eles e o prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos), para tratar da implantação do modelo integral. A proposta feita pela gestão é de uma reunião com o secretário de Governo, Aridelmo Teixeira, sem a presença dos professores e conversando individualmente com os responsáveis pelos alunos, não de forma coletiva.
Pai de dois estudantes, o autônomo José Carlos Durans, que foi contatado por uma assessora de Aridelmo, informa ter deixado claro para ela que os responsáveis querem uma reunião com o prefeito, e não com o secretário de Governo. “Queremos reunião com Pazolini, e não com Aridelmo. Votamos no Pazolini, ninguém votou no Aridelmo”, enfatiza.
José Carlos também defendeu a participação dos professores nas discussões, junto com os responsáveis, além de ter dito que a reunião deve ser realizada de maneira coletiva, e não individualmente. Para ele, a proposta é uma forma de desarticular o movimento que vem sendo feito de reivindicação de abertura de diálogo com as comunidades sobre a implantação do tempo integral na Capital.
O autônomo acredita que, ao evitar se reunir com responsáveis de várias comunidades e professores em uma mesma ocasião, a prefeitura busca evitar contestações, pluralidade de pensamentos e de conhecimentos que possam influenciar nas decisões de quem não tem muita informação a respeito das políticas de educação. Além disso, conversando individualmente, fica mais fácil de “manipular” as pessoas, acrescenta.
José Carlos acredita ainda na possibilidade de a prefeitura querer marcar as reuniões individuais em horário comercial, o que impossibilitaria a participação. Isso pode fazer com que a gestão use como argumento um suposto desinteresse dos responsáveis pelo tema ensino integral para defender a adoção do modelo.
Mais do mesmo
Ele recorda que a proposta apresentada pela assessoria de Aridelmo não se difere em nada da que já havia sido feita na última quarta-feira (4) e que foi rejeitada. Na ocasião, após aguardarem por cerca de duas horas, representantes de comunidades e de professores da rede de ensino de Vitória não foram recebidos pelo secretário. A atitude causou indignação no grupo, que queria conversar sobre a implantação do modelo integral com o prefeito, por entender que a secretária de Educação, Juliana Roshner, não tem levado as demandas e questionamentos das comunidades para o gestor.
Na recepção da Prefeitura, o grupo foi recebido por assessores do prefeito. Uma servidora, que se apresentou como secretária do chefe do Executivo, informou que não seria possível a conversa com Pazolini, mas que iria contatar o subsecretário de Relações Comunitárias e se o secretário de Governo estivesse presente, tentar encaixá-lo na conversa. O grupo, então, foi levado para uma sala onde aguardou o início da reunião.
No entanto, após a longa espera, assessores do prefeito e de Aridelmo informaram que o secretário de Governo receberia somente os responsáveis pelas crianças, o que foi contestado pelo grupo, que tinha como integrantes dois professores, um deles Aguinaldo Rocha de Souza, diretor executivo do grupo Professores Associados pela Democracia de Vitória (Pad-Vix), presidente da Comissão de Legislação e Normas do Conselho Municipal de Educação de Vitória (Comev), professor e avô de estudante da rede municipal, pelo qual é corresponsável.
Os CMEIs que se tornarão de tempo integral são o Valdivia da Penha Antunes Rodrigues, em Santos Dumont; Prof. Carlos Alberto Martinelli de Souza, em Gurigica; Rubens Vervloet Gomes, em Jardim Camburi; Jacy Alves Fraga, em Tabuazeiro; e Denizart Santos, na Ilha do Príncipe. As EMEFs são Edna de Mattos Siqueira Gaudio, em Bento Ferreira; e José Áureo Monjardim, em Fradinhos. Dessas, as unidades de ensino de Santos Dumont, Tabuazeiro e Fradinhos já vinham se mobilizando contra a imposição do tempo integral e, inclusive, participaram de reunião com o Ministério Público do Espírito Santo (MPES), no último dia 2.
Prejuízos
Em meio aos responsáveis pelas crianças, são apontados problemas como falta de infraestrutura nas unidades de ensino; horário de saída incompatível com o de trabalho dos pais, impossibilitando-os de buscar as crianças; redução de vagas; impossibilidade de matricular os alunos em unidades de ensino próximas de casa, obrigando-os a ter que procurar vagas em outros bairros, cujo trânsito entre pessoas de comunidades diferentes, muitas vezes, não é bem visto pelo tráfico.
O magistério também aponta diversos prejuízos com a aprovação do PL. Um deles, conforme explica Aguinaldo, é o fato de que quem não quiser ou não puder matricular a criança na escola integral de sua comunidade, terá que procurar outra. “Muitos terão que levar para 2,3,4, 5 km ou mais de distância”, ressalta.
O professor destaca que a carga horária nas escolas de tempo integral é de 40h. Entretanto, há poucos profissionais na rede municipal de ensino que a cumprem, pois concurso para 40h foi realizado há tempos, na gestão do então prefeito João Coser (PT), para trabalhadores da Educação Infantil. A maioria dos professores cumpre carga horária de 25h semanais. Quem quiser ou puder ficar no integral, terá que pegar carga horária suplementar, que será “priorizada em detrimento do concurso público, o que é uma irregularidade”.
Há, ainda, o caso dos profissionais que têm duas cadeiras, seja no município ou uma no município e a segunda em outra rede. De acordo com Aguinaldo, não podendo ficar no integral, terão que fazer o concurso de remoção. Contudo, muitos não conseguirão fechar sua carga horária em um único turno.