A fala do secretário da Fazenda de Vitória, Aridelmo Teixeira, apontando que “a educação de Vitória é de péssima qualidade”, pois “nossos alunos não aprendem”, causou indignação entre os docentes e motivou também o repúdio das vereadoras Karla Coser (PT) e Camila Valadão (Psol). A afirmação foi feita nessa segunda-feira (22), durante apresentação do projeto da Lei Orçamentária Anual (LOA), que prevê onde os recursos serão alocados em 2022.
Na sessão desta terça-feira (23), Karla Coser classificou a fala de Aridelmo como “extremamente infeliz e desrespeitosa”. Disse ainda que ele foi injusto com a educação da cidade de Vitória. “É verdade que nós temos problemas e desafios, que existem alunos que não aprenderam. É verdade que a legislação brasileira permite que crianças e adolescentes passem de ano sem ter aprendido, mas é injusto dizer que a educação de Vitória é ruim, é um lixo”, disse.
A vereadora falou que a cidade tem escolas de excelência, que concorrem com as particulares, e destacou que estão localizadas principalmente em bairros nobres. “O problema não está somente ligado à educação em si, ao serviço prestado, mas a todo o ambiente de estudo. Temos condição de cobrar a mesma excelência dos alunos que têm condições financeiras e infraestrutura de um colégio de Jardim da Penha em relação ao aluno de São Pedro, que passa, inclusive, por dificuldades de acessibilidade?”, questiona.
Camila Valadão, destacando que Aridelmo é professor da Fucape, afirmou que ele não conhece a educação de Vitória, que “não entrou em nossos CMEIs [Centros Municipais de Educação Infantil] e EMEFs [Escolas Municipais de Educação Fundamental]”. Disse ainda que “esse conto de dizer que a educação aqui é péssima, é o desejo deles de privatizar, de ampliar a iniciativa privada dentro das escolas”.
Valadão denunciou o sucateamento da educação na Capital, destacando o caso do CMEI Reinaldo Ridolfi, em Maria Ortiz, que passa pelo processo de fechamento de turmas.
O diretor executivo do grupo Professores Associados pela Democracia de Vitória (PAD-Vix), Aguinaldo Rocha de Souza, classifica a fala do secretário como “discurso raivoso, fascista, elitista, irresponsável”, que “desconsidera que, ao longo do tempo, nós, trabalhadoras e trabalhadores da educação, o Ministério Público, as famílias de nossos estudantes e, inclusive, os/as políticos comprometidos/as com as reais mudanças sociais desse município, estado e país, temos denunciado o abandono das periferias, a falta de políticas para gerar emprego e renda, a dívida social acumulada contra pretos, pobres e nordestinos, a falta de moradia, acesso a bens e direitos, etc”.
Para Aguinaldo, a fala de Aridelmo desconsidera que em 11 meses da administração de Lorenzo Pazolini (Republicanos), faltam professores, estagiários e assistentes administrativos nas unidades de ensino; há carência de profissionais da Educação Especial; além de ter professores de uma área dando aula em outra, para garantir direitos às famílias e estudantes; e que principalmente nos últimos dois anos, os docentes usaram seus recursos próprios, como energia, celulares, computadores e rede de dados, “aumentando seu custo para fazer com que as engrenagens não parem”.