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‘Temos disposição de ir para as portas da Sedu e do Palácio Anchieta’

Com anúncio de permanência de Vitor de Angelo na Secretaria de Educação, coletivos cobram mudanças na gestão

A confirmação da permanência do secretário estadual de Educação, Vitor de Angelo, à frente da pasta, rende críticas por parte de coletivos de trabalhadores da educação, que apontam como uma de suas marcas “o comportamento antidemocrático”. Caso não ocorram mudanças a partir de 2023, mobilizações serão feitas, como afirma a professora e integrante do coletivo Educação pela Base, Ana Paula Rocha. “Temos disposição de ir para a porta da Sedu e do Palácio Anchieta denunciar processos que têm matado o magistério”, ressalta.

O anúncio da permanência do secretário foi feito pelo governador Renato Casagrande (PSB) na manhã desta terça-feira (27), “Seguiremos nosso trabalho para reduzir os impactos da pandemia no ensino, além de tornar a educação capixaba cada vez mais eficiente, tecnológica e com uma infraestrutura moderna que alcance cada vez mais resultados”, exaltou  nas redes sociais.

Para o coletivo, o gestor não atendeu às expectativas geradas no início de sua gestão, quando era visto como uma esperança para a educação, por defender publicamente a democracia em um contexto em que estava sendo muito atacada. O grupo afirma que esse não atendimento foi pelo fato de que o secretário encabeçou, nos últimos quatro anos, um projeto que “não dialoga com a necessidade e a realidade da educação pública no Espírito Santo”.
Ana Paula aponta falta de diálogo por parte do secretário com os movimentos sociais e pesquisadores da educação, o que não acontece na relação do gestor com os empresários do setor. Um dos casos recordados por ela foi quando, logo no primeiro ano de gestão, foi aprovada sem nenhuma discussão com a comunidade escolar a iniciativa de reprovação por área. Por exemplo, no caso de o aluno não ter nota suficiente para passar em Física, mas ter para ser aprovado em Matemática, que é da mesma área, não haveria reprovação.
Ana Paula destaca que “ninguém está advogando pela reprovação em massa dos alunos”, mas se excluiu, nesse processo, o debate pedagógico. Essa novidade, relata, fez com que o Espírito Santo configurasse entre as melhores posições no ranking do ensino médio no Brasil. Enquanto isso, aponta, não há políticas de valorização salarial para os trabalhadores e, durante a pandemia da Covid-19, “os protocolos não davam conta da realidade escolar, pois eram ofertados máscara e álcool em gel, mas a infraestrutura das escolas não possibilitava iniciativas como o isolamento social e ventilação, o que levou muitos trabalhadores à morte pela doença”.
Outra ação concretizada na gestão de Vitor de Angelo e criticada pelo Educação pela Base é a transformação de algumas unidades de ensino em escola em tempo integral sem que houvesse debate com a comunidade escolar e o entorno. De acordo com Ana Paula, muitos estudantes que precisam trabalhar tiveram que abandonar os estudos diante da impossibilidade de estudar em um colégio próximo de casa.
No dia 16 de dezembro, os professores da EEEFM Primo Bitti também se pronunciaram, divulgando uma carta aberta ao Governo do Estado e à população capixaba. No documento, afirmaram se sentir “abandonados como seres humanos” e listaram uma série de reivindicações necessárias para garantir apoio à comunidade escolar.
Já o professor do coletivo Resistência e Luta Educação, Swami Bérgamo, faz críticas à gestão da Sedu, apontando que “quem dá as diretrizes no Espírito Santo é o Espírito Santo em Ação”, organização empresarial, e isso reflete na educação. Swami destaca a necessidade de haver eleição direta para diretoria de escola, o que possibilitaria um vínculo maior do diretor com a comunidade. Um dos benefícios dessa relação, afirma, seria o desenvolvimento de um trabalho que dialoga com a realidade da comunidade, mas o que é almejado pelo empresariado, é uma educação tecnicista, voltada para as regras do mercado de trabalho.
Outro problema apontado por Swami na gestão de Vitor de Angelo e que, ao seu ver, uma atitude antidemocrática, é a falta de incentivo à criação de grêmios estudantis, uma vez que há uma legislação estadual que garante isso. O professor explica que não se trata de criar “grêmios biônicos”, mas de estimular que os diretores das escolas impulsionem a criação de grêmios como elemento pedagógico para “formar cidadãos conscientes”.
A integrante do coletivo Mães Eficientes Somos, que faz mobilizações pelo respeito e inclusão das pessoas com deficiência, afirma que, após embates com a gestão estadual que culminaram até em acampamento no Palácio Anchieta, o diálogo com Vitor de Angelo tem sido “tranquilo”. De acordo com ela, houve alguns avanços, como o aumento do número de profissionais da educação especial, que será publicado em uma portaria cuja publicação está prevista para janeiro.
Lucia Mara afirma que, considederando os possíveis nomes que circulavam nos bastidores para assumir a pasta, é melhor mesmo a permanência do secretário. Entre esses nomes, afirma, estavam o deputado federal Felipe Rigoni (União) e a o deputado estadual Bruno Lamas (PSB), derrotados nas respectivas disputas à reeleição. Nenhum dos dois tem experiência com a área da educação, considera Lucia.

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