O Conselho de Escola do Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) Sinclair Philips, em Caratoíra, Vitória, vai realizar uma consulta aos responsáveis pelos alunos para decidir sobre o futuro da unidade de ensino. A medida foi deliberada em reunião realizada com a secretária de Educação de Vitória, Juliana Roshner, nessa segunda-feira (15). A consulta busca saber se os responsáveis querem que a escola permaneça como está, ou seja, com jornada ampliada, se almejam um processo de transição de dois anos para que se torne uma unidade de ensino de tempo integral, ou se querem a implantação do integral de forma imediata.
A expectativa é de que já na próxima semana tenha início a consulta. A reunião foi realizada a pedido da comunidade escolar, que questiona o fato de a gestão de Lorenzo Pazolini (Republicanos) querer, a partir de 2024, transformar a unidade de ensino em escola de tempo integral.
Alguns dos argumentos contrários são a falta de infraestrutura adequada; o horário de término das aulas, que seria às 16h30, enquanto os responsáveis estão no trabalho e não podem buscar as crianças; a redução de 50% das vagas; e a necessidade de, diante do fato de não poder matricular os alunos no CMEI por causa das dificuldades já elencadas, ter que recorrer a equipamentos de Santo Antônio e Morro do Quadro, já que em Caratoíra há somente um CMEI. No entanto, isso se torna temeroso, pois a circulação das pessoas entre esses bairros não é bem vista pelo tráfico, independentemente de estarem envolvidas com essa prática ilícita.
Durante a reunião, foi apresentado o projeto da escola em tempo integral, que prevê salas de dança, ginástica rítmica e de produção de arte, as chamadas salas ambiente. Contudo, os responsáveis pelas crianças destacaram que, na atual infraestrutura, não é possível aplicar essas atividades.
Outra queixa da comunidade foi em relação à maneira como a secretária se referiu ao trabalho dos professores, como forma de desqualificá-los. Os relatos pontuam que ela falou que o CMEI passaria a ter profissionais qualificados, com formação específica para trabalhar com projetos, e que na realidade atual, que é de oferta de jornada ampliada, os alunos vão de manhã para brincar e à tarde vão para as “aulinhas”. Os professores do CMEI, segundo Juliana Roshner, teriam que fazer pedido de remoção para continuar trabalhando 25 horas semanais.
A diretora executiva do grupo Professores Associados pela Democracia de Vitória (PAD-Vix), Zoraide Barbosa, se pronunciou durante a reunião sobre a fala da secretária. De acordo com Zoraide, na educação infantil é preciso tomar cuidado com termos no diminutivo, como “aulinhas” e “provinhas”. “O termo ‘aulinha’ não se utiliza por ser infantilizador, pejorativo. Falar isso é desconsiderar o processo histórico da educação infantil, as discussões já acumuladas”, critica.
Os vereadores André Moreira (Psol) e Karla Coser (PT) participaram da reunião. André lembrou que, como as contratações de docentes poderão ser feitas somente para tempo integral, quem tem cadeira em outro município teria que optar por uma, o que não acha viável. “Ali tem professores que deram aulas para os pais dos atuais alunos, formou-se uma relação de família”, aponta. Sobre a precariedade da infraestrutura atual, o vereador informa que a secretária afirmou que é preciso desapropriar uma casa que fica entre o CMEI e um terreno da prefeitura para ampliar a unidade. “Ela só apresentou problema, e não solução”, avalia.
CMEI em Tabuazeiro
Nesta terça-feira (15), a comunidade escolar do CMEI Jacy Alves Fraga, em Tabuazeiro, também irá se reunir com a secretária de Educação, a partir das 18h30.
Igualmente como acontece em Caratoíra, a prefeitura quer implementar o ensino integral, mas encontra resistência da comunidade escolar, também pelo horário de término, neste caso às 16h. Há aqueles que defendem, ainda, a permanência em casa em um turno, o que entendem como um direito das famílias.
A violência também é um fator dificultador, pois a ação do tráfico muitas vezes coíbe a mobilidade de moradores de Tabuazeiro para São Cristóvão, para onde os alunos terão que migrar, e, da mesma maneira, há imposição aos docentes da atuação em tempo integral ter que abrir mão de cadeira em outros municípios ou na rede estadual de ensino.
Audiência Pública
As destituições de diretoras foram publicadas no Diário Oficial do dia 17 de julho. Aerodilse Fernandes da Silva Xavier atuava na Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Paulo Reglus Neves Freire, em Inhanguetá, e Alessandra Passos Pereira, na EMEF Prezideu Amorim, no bairro Bonfim. O grupo Professores Associados pela Democracia de Vitória (PAD-Vix) apontou perseguição política.
Antes disso, em fevereiro último, pais de alunos do CMEI Luiza Pereira Muniz Corrêa, no bairro Mário Cypreste, reagiram à exoneração da diretora Fátima Luzia Sezana. Eles afirmaram que não foram avisados da decisão, que apontaram como irregular, e que ao questionarem a Secretaria Municipal de Educação (Seme), as respostas foram “desencontradas”.
O vereador André Moreira recorda ainda a “arbitrariedade” na transferência do professor Aguinaldo Rocha de Souza para a Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Octacilio Lomba, em Maruípe, comunicada por e-mail. A Pad-Vix afirmou, na época, que a atitude da gestão foi devido ao “perfil questionador” de Aguinaldo. A transferência fere o Estatuto do Magistério, que estabelece que esse tipo de iniciativa deve ser feita a pedido do servidor e em período de remoção.