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Trabalhadores da educação voltam às ruas para protestar em Vitória

Durante ato na Câmara, ao defender a categoria, vereadora Camila Valadão foi novamente agredida por Gilvan da Federal

Leonardo Sá

Os trabalhadores da educação da rede de ensino de Vitória voltaram às ruas para protestar, nesta quarta-feira (1), na Câmara de Vitória e em frente à Secretaria Municipal de Educação (Seme). A categoria é contra a proposta de organização curricular do ano letivo de 2022 e a reforma da Previdência, medidas da gestão de Lorenzo Pazolini (Republicanos).

No legislativo municipal, os manifestantes conseguiram entrar para acompanhar a sessão, que foi interrompida após agressões verbais do vereador Gilvan da Federal (Patri) à vereadora Camila Valadão (Psol) e os trabalhadores da educação.

Reprodução

Já na Secretaria Municipal de Educação, ao chegarem ao local, os manifestantes se depararam com o órgão fechado para atendimento ao público, embora a gestão municipal não houvesse emitido nenhum comunicado informando sobre o fechamento. 

O diretor executivo do grupo Professores Associados pela Democracia de Vitória (PAD-Vix), Aguinaldo Rocha de Souza, afirma que nesta quarta deveria ser expediente normal na secretaria.

Leonardo Sá

“Perguntamos porque estava fechado e disseram que hoje é só para atividade interna, mas não informaram às unidades de ensino, à comunidade. A gente veio para tentar dialogar com a secretária, Juliana [Juliana Roshner]. Historicamente sempre nos receberam, mas a secretária mostra mais uma vez sua veia antidemocrática, sua incapacidade de dialogar com quem sofre na pele as mudanças que ela quer implementar”, criticou.

A próxima manifestação dos trabalhadores da educação será na próxima segunda-feira (6), às 16h, durante a reunião entre o Ministério Público do Espírito Santo (MPES) e entidades ligadas à educação. Os vereadores foram convidados para participar. De acordo com Aguinaldo, será avaliada a possibilidade de manifestações em frente à Câmara e à Seme semanalmente.

Leonardo Sá

No ato da manhã, os trabalhadores adentraram a Casa de Leis, onde, na Tribuna Livre, a presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Vitória (Sindismuvi), Waleska Timoteo, falou sobre a proposta de Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2022. Representando os servidores públicos municipais, ela iniciou sua fala dizendo que “não somos vagabundos, não somos queimadores de rosca, não somos maconheiros, muito menos satanistas, como foi dito na sessão de ontem”, referindo-se à fala do vereador Gilvan da Federal.

De acordo com Waleska, Vitória conta com 15 mil servidores, “desvalorizados no salário, na alimentação, nas condições de trabalho”, e ainda, com 6 mil aposentados “que tiveram o pão tirado da sua mesa no café da manhã e também seus remédios”, em referência à reforma da Previdência, que aumentou a alíquota de 11% para 14%. A presidente do sindicato destacou que a peça orçamentária não garante a reposição inflacionária e que as perdas salariais dos servidores já somam 30%.
Também fez críticas em relação à condução da educação, salientando que a prefeitura quer tirar a gestão democrática e que as decisões são sem processo de escuta. “É de cima para baixo, verticalizado, e o que é verticalizado não garante avanço coletivo”, ressaltou.
Posteriormente, abriu-se o momento de fala para os vereadores. Gilvan utilizou o seu para, mais uma vez, ofender os professores e entidades ligadas à área da educação. Disse que é preciso “diferenciar professor de uma militância que defende um ladrão corrupto, de uma militância lulista marxista”. Falou também que os docentes “tentam embutir em menino que ele não é menino e em menina que ela não é menina”. Destacou que, em uma live sobre educação, a presidente do Conselho Municipal de Educação Vitória (Comev), Zoraide Barbosa, usou o termo neutro todes, comportamento que ele afirma ser ‘uma desgraça para a educação de Vitória”.
No discurso de Anderson Goggi (PTB), Gilvan iniciou uma discussão com o professor e diretor da Pad-Vix, Madson Moura Batista, fora do microfone, fazendo com que suas palavras não fossem captadas pela transmissão oficial da Câmara. Entretanto, vídeos feitos por pessoas que assistiam a sessão mostram o vereador gritando, dizendo para “respeitar nossas crianças”, chamando o professor de “canalha” e “covarde”, e o acusando de ficar “emboscando criança na escola”.
Goggi pediu respeito ao seu momento de fala, tendo ouvido como resposta do presidente da Casa, Davi Esmael (PSD), que “não posso ir lá, porque o vereador não está fazendo uso do microfone”. Anderson, então, afirmou que “isso aqui está um circo”. Davi Esmael, enraivecido, respondeu que “não sou palhaço e vossa excelência também não é”.
Camila Valadão, então, pediu respeito ao momento de fala do vereador. Foi aí que Gilvan, ainda fora do microfone, a mandou calar a boca. A vereadora reagiu dizendo “você não vem me mandar a calar a boca aqui dentro, você não vem me xingar, porque eu não baixo bola para você. Você me respeita, você não me manda calar a boca”. Nesse momento a transmissão foi interrompida, impossibilitando os cidadãos de terem conhecimento do que se passou a partir daí dentro de um espaço público.
Porém, Camila Valadão publicou em suas redes sociais vídeos feitos por pessoas que estavam no local, que a mostram, ao microfone, dizendo “eu exijo respeito, não caio em provocação não. Como que um homem eleito pode mandar uma vereadora no exercício de sua atividade parlamentar calar a boca?!”. Ao contrário de Camila, Gilvan não falou ao microfone, impossibilitando que sua fala fosse ouvida com clareza, mas as imagens mostram que ele estava muito alterado e apontando o dedo para a vereadora, inclusive fazendo o gesto de arminha. Entre as acusações, chamou Camila de “satanista” e “assassina de bebês e crianças”.

Em meio à confusão, os vereadores se omitiram. Leandro Piquet (Republicanos), foi o único que levantou e tentou apaziguar a situação. Waleska relata que quando Camila estava saindo do plenário, Gilvan ficou cercando a vereadora, que foi protegida por um de seus assessores. “Ele tomou a frente com receio de que houvesse agressão física, pois o vereador foi para enfrentamento direto, muito perto do corpo dela”, diz.

Camila afirma que Gilvan queria atrapalhar a sessão. “Hoje o vereador ficou muito pouco de me agredir fisicamente. Antes de me agredir, estava agredindo os professores e estava visivelmente atrapalhando a sessão, de maneira a impossibilitar o andamento”, relata. Madson destaca que Gilvan “vem fazendo ataques sistemáticos ao magistério”, acusando os docentes, entre outras coisas, de defender pauta LGBT para as crianças e os chamando de “militantes travestidos de professores”.


Essa não foi a primeira vez que o vereador protagoniza atos de violência política de gênero na Câmara de Vereadores. Em março deste ano, ele disse que Valadão devia “se dar o respeito”. O comentário foi feito em razão de uma blusa de um ombro só que a vereadora usava. “Nós não vamos deixar isso passar. Ele não vai nos calar. Irei registrar um boletim de ocorrência contra ele e tomar as providências cabíveis. É um absurdo e inadmissível que isso aconteça dentro da Câmara, um lugar em que eu fui legitimamente eleita”, ressaltou Camila.
 

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