Recurso foi feito pelo orientador, Douglas Ferrari. Reprovação foi considerada capacitismo
O comitê de avaliação aceitou o recurso feito pelo professor do Centro de Educação (CE) da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Douglas Ferrari, que questionou a reprovação do estudante André Luís Fazzolo no edital de Iniciação Científica como voluntário. O universitário, que é autista, havia sido reprovado mesmo com nota 5,25, superior à mínima para passar, que é de 5. O aceite do recurso foi explicado, inclusive, com base na pontuação obtida pelo aluno.
André Luís, no projeto apresentado para apreciação do comitê, será orientando de Douglas, que tem deficiência visual. Ele é estudante de História e sua proposta de pesquisa é sobre a educação voltada para os cegos nos séculos XVIII, XIX e XX e a trajetória do Instituto Benjamim Constant (IBC). Ligado ao Ministério da Educação (MEC) e criado por Dom Pedro II, o IBC é uma instituição de ensino voltada para pessoas com deficiência visual.
A estudante Kael Miguel Lopes, integrante do Coletivo Neurodivergentes, que atua em defesa dos direitos de neuroatípicos e Pessoas com Deficiência (PCDs) na Ufes e organizou as manifestações, avalia que o fato de André Luís ser autista foi determinante para sua reprovação. De acordo com ela, muitas pessoas neuroatípicas têm dificuldade na escrita, portanto, a universidade deveria disponibilizar tanto para o estudante quanto para seu orientador, que tem deficiência visual, uma monitoria para auxiliar na elaboração do texto.
A notícia do aceite do recurso foi dada por Douglas durante o ato realizado no prédio da Reitoria. O docente externa sua felicidade ao perceber que hoje existe um grupo dentro da universidade que luta pelos direitos das PCDs. Para ele, é uma garantia de que sua luta terá continuidade, pois está há 26 anos defendendo essa pauta na instituição de ensino.
Douglas afirma que saiu da Ufes nessa quarta “muito feliz, esperançoso, contrastando com o que estava sentindo todos esses dias”, referindo-se aos problemas que enfrentou recentemente, como a reprovação de André Luís; o fato de ter que deixar de dar uma aula por não ter intérprete de libras; e a prisão do estudante Romes Marques Moreira, que é autista e quebrou as vidraças da Pró-Reitoria de Políticas Afirmativas e Assistência Estudantil (Propaes), após solicitar explicações a respeito do não pagamento do auxílio alimentação emergencial para os estudantes, já que o RU estava fechado.

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