Mais de dois meses depois do anúncio do programa Future-se, a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) é uma das instituições que ainda não se posicionou sobre o projeto do governo federal para financiamento das universidades públicas, que vem sendo criticado por ferir a autonomia universitária e abrir espaço para privatização. Nesta sexta-feira (27), às 9h, será realizada uma sessão pública do Conselho Universitário sobre o tema no Teatro da Universitário. Até o fechamento desta matéria, Século Diário não obteve retorno da Ufes sobre o formato e conteúdo da reunião, se seria apenas debate ou se haverá deliberação sobre o tema.
Um levantamento do Coletivo Professores em Movimento, entidade de base formada por docentes da Ufes, aponta que 26 entidades de ensino superior federais já se posicionaram oficialmente de forma contrária ao Future-se por meio de seus conselhos superiores e administrações centrais. Com o recente anúncio da sessão do Conselho Universitário, a Ufes saiu do grupo “sem posição oficial” para se juntar a outras 27 universidades em que o projeto está “em estudo”.
O levantamento do Coletivo leva em conta 69 universidade federais, algumas ainda sem informação concreta, e o Instituto Federal do Estado (Ifes), que “respondeu contrariamente ao Future-se”. O governo federal tenta armar uma isca ao bloquear recursos que levam as universidades à penúria financeira ao mesmo tempo em que oferece como alternativa um programa para inserir investimentos privados que podem direcionar a produção acadêmica e mudanças no regime de contratação de profissionais, que atende pelo nome de Programa Institutos e Universidades Empreendedoras e Inovadoras, o Future-se.
Até o momento, nenhuma universidade aderiu ao programa proposto pelo governo federal, o que pode representar um rotundo fracasso dessa aposta do Ministério da Educação de Jair Bolsonaro (PSL). Nas universidades onde ocorrem novas eleições, o presidente já sinalizou que deve seguir linha ideológica na escolha da lista tríplice de novos reitores, sem respeitar o primeiro colocado indicado pela comunidade acadêmica caso contrarie seu interesse, o que pode tanto gerar novos conflitos como facilitar a condução da aprovação do Future-se, embora apenas uma pequena parte das universidades esteja em momento eleitoral. Tampouco há garantias que com a rejeição do Future-se o governo recuaria dos cortes anunciados para o ensino público federal.
A professora Ana Carolina Galvão, integrante do Coletivo Professores em Movimento, considera que a Administração Central da Ufes tem fugido de enfrentar o debate e que falta maior mobilização e engajamento das entidades representativas dos setores da universidade, como são a Associação de Docentes da Ufes (Adufes), o Sindicato dos Trabalhadores da Ufes (Sintufes) e o Diretório Central dos Estudantes (DCE), que podem dar mais alcance ao debate com a comunidade acadêmica.
“Talvez a mobilização tome maiores proporções depois do dia 27 caso não seja votado o Future-se. Está fazendo falta que as entidades tomem frente disso”, considera. Um debate ampliado já foi realizado pela Adufes em Goiabeiras e o Coletivo Professores em Movimento já fez quase de uma dezena de atividades sobre o tema nos diversos campi da Ufes.
“A essa altura do campeonato em que dezenas de universidades já se manifestaram, a Ufes ficar protelando deixa a comunidade acadêmica constrangida com a falta de posição. Espero que a Ufes rejeite o Future-se. Estamos num contexto político em que é preciso ser mais assertivo”, diz a professora da universidade.