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Ufes reconhece autismo, mas não garante matrícula de estudantes PCDs

Segunda perícia foi realizada após protesto. Universidade alega falta de vagas para curso de Medicina

A Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) reconheceu que as estudantes Alice Martins Guedes e Letícia Assunção Ramos são autistas, ao contrário do resultado da primeira perícia a que foram submetidas, mas elas não poderão efetivar matrícula no curso de Medicina por meio de cotas para Pessoas com Deficiência (PCDs).  A alegação da universidade é de que a quantidade de vagas já está completa.

Mãe de Alice, a professora Sinara Nunes Guedes afirma que a expectativa, com o reconhecimento do autismo, era de conseguir entrar no curso. Apesar disso, considera o resultado da segunda perícia uma vitória. “Minha filha quer ser médica. Ela fará o vestibular novamente e concorrerá à vaga de PCD. O fato deles corrigirem o ato dá tranquilidade para que ela possa concorrer novamente sem que tenha que passar novamente pelo dissabor de seu laudo ser invalidado”, destacou, em referência ao resultado da primeira perícia, que foi alvo de protesto do Coletivo Mães Eficientes Somos Nós, acarretando numa segunda análise.

Sinara acredita que a Ufes tem que rever seus métodos de avaliação na perícia para evitar situações de capacitismo e rever o cronograma, pois os prazos são curtos para questionamentos. “Um exemplo: negaram o laudo dela e deram apenas quatro dias para fazermos o recurso. O recurso precisa de ajuda médica. Quem consegue uma consulta com um neuro em um prazo tão curto? Isso por si só já inviabiliza a participação do público PCD. É necessário um olhar mais real se a Ufes de fato quer assumir uma política pública tão importante para a sociedade e que é direito desse público específico”, afirma.

O protesto do Coletivo Mães Eficientes Somos Nós aconteceu no dia 11 de março, quando as manifestantes pararam a Avenida Fernando Ferrari e depois se dirigiram à Reitoria . O grupo foi recebido pelo então reitor Paulo Vargas, que se comprometeu a abrir um processo interno para averiguar a situação das estudantes. Dias após a reunião, elas receberam e-mail com a data e o horário da segunda perícia.
Quando o autismo das estudantes foi contestado pela Ufes, Sinara se queixou do comportamento da perícia, que “já foi preparada para questionar os laudos apresentados”. Ela acrescentou: “era como se estivessem buscando uma brecha para colocar em xeque a veracidade”. Isso se expressou, conforme afirmou, em perguntas como se a estudante tem renda social, como são as relações sociais dela, e se tinha amigos na infância. “É como se o autista não pudesse ter relações sociais”, queixou-se.

Outra reclamação da professora foi devido à banca não permitir aprofundar as respostas, sendo possível dizer apenas sim ou não. “Em uns 10 minutos de conversa, chegaram à conclusão que ela não é autista, e, consequentemente, acusaram de mentirosos os profissionais que a acompanham. O capacitismo ficou claro na perícia”, lamentou.

Sinara questionou ainda a falta de padronização para análise dos candidatos PCDs. Em outros cursos, como o de Pedagogia, apontou, não houve entrevista com junta médica, somente apresentação de laudo. “Por que em Medicina precisa de tudo isso?”, indagou.

A mãe de Letícia, Kênia Campos Assunção Ramos, após a segunda perícia, afirmou que, diferentemente da primeira, a equipe teve uma abordagem diferente. “Ela pôde mostrar com tranquilidade todos laudos, testes, relatórios, toda documentação que comprova a veracidade do diagnóstico do transtorno de espectro autista”, relatou.

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