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Uso incorreto de máscaras nas escolas pode elevar em 1.000% casos de Covid

Estudo aponta que professores com PFF2, revezamento dos alunos, salas arejadas e testagem são as medidas mais importantes

O uso correto de máscaras pelos estudantes, a adoção de máscaras PFF2 ou N95 pelos professores, a ventilação adequada dentro das salas de aula, o revezamento dos alunos nas aulas presenciais, e a testagem sistemática para monitoramento das infecções são as medidas mais importantes a serem adotadas pelas escolas para evitar explosão de casos de Covid-19 em decorrência do retorno das aulas presenciais.

O uso incorreto das máscaras de tecido, por exemplo, pode elevar em 1.141% o número de contaminações, quando comparado com o cenário de aulas exclusivamente remotas. Já o uso correto, associado à utilização de máscaras filtrantes por todos os educadores, ao monitoramento das infecções e à frequência alternada entre os alunos, pode fazer crescer em apenas 10%.


No meio desses extremos, um cenário de revezamento dos alunos – que é praticado pelas redes estadual, municipal e privada capixabas – sem o cumprimento das demais quatro medidas tende a elevar em 643% o número de pessoas contaminadas.

As conclusões são de um estudo do projeto ModCovid19, formado por pesquisadores do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo de São Carlos (ICMC/USP); do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica da Universidade Estadual de Campinas (IMECC/ Unicamp); do Instituto de Matemática Pura e Aplicada do Rio de Janeiro (IMPA), da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Rio).

Divulgados no jornal da Universidade de São Paulo (USP), os dados representam a atualização de uma pesquisa que começou a ser desenvolvida no início da pandemia, em março de 2020, na cidade de Maragogi, em Alagoas, no Nordeste brasileiro.
O estudo foi feito a partir de modelos matemáticos que estimam o acréscimo de contaminações entre estudantes e trabalhadores, a partir da reabertura das escolas, comparando diferentes cenários, que variam segundo a adoção maior ou menor dos protocolos de segurança. “A ideia é que o retorno às aulas presenciais sempre vai trazer alguma elevação no número de casos entre as pessoas que frequentam a escola e seus contatos, mas que essa elevação pode ser muito grande, ou mínima, dependendo das medidas adotadas”, resume o jornal da USP.

Ventilação inadequada é regra

Os pesquisadores destacam que a má ventilação é uma regra nas escolas da cidade alagoana, por isso os diferentes cenários não incluíram a influência de uma ventilação adequada no crescimento dos casos, considerando apenas os ambientes fechados. A realidade, acrescentam, é a mesma em quase metade das cidades brasileiras, por isso, os dados podem ser extrapolados para âmbito nacional.

A situação é preocupante, pois, “uma vez que é comprovada a maior transmissão do coronavírus por aerossóis”, ressalta o jornal, “a má ventilação característica da maioria das salas de aula impacta diretamente no maior contágio”.

Máscaras
 
Num quadro de má ventilação generalizada, o uso correto de máscara é essencial, apontam os dados da pesquisa. Especialmente as mais filtrantes – PFF2 u N95 – que oferecem eficiência de até 94% se bem utilizadas.

A doutora em Epidemiologia e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Ethel Maciel ressalta a importância da pesquisa, ao comprovar mais uma vez a importância das medidas que a comunidade científica vem apontando, desde o início da pandemia, como fundamentais para garantir mais segurança às aulas presenciais, e chama atenção para o fato de que, nessa pandemia, dependemos uns dos outros para cumprir os protocolos.

“Eu tenho que usar a máscara corretamente e o coleguinha do lado também, e o outro também. A gente depende uns dos outros, porque se a máscara estiver mal utilizada, a transmissão vai ser maior. É o problema do Brasil, os protocolos no papel funcionam bem, mas a prática não é tão boa”.

A distribuição de máscaras PFF2 ou N95 aos trabalhadores, ainda negligenciada no país, também preocupa, pois essa é uma condição que deveria ser inegociável para um retorno seguro das aulas. “Com certeza, ter os professores e todos trabalhadores da educação usando máscara PFF2 é fundamental para a redução da transmissão nesse ambiente”, acentua a epidemiologista.

Perguntada sobre orientações a serem seguidas pelas famílias dos estudantes, a cientista enfoca a orientação às crianças e adolescentes sobre o uso correto desse equipamento de proteção individual. “Já que a máscara é uma das principais medidas de prevenção nesse ambiente, então as famílias devem observar se ela está bem ajustada no rosto da criança, se possível, enviar mais uma para a escola, porque a de tecido pode ficar umedecida. Devem falar da importância e ensinar às crianças a higienizarem as mãos, a ficarem em ambientes abertos e manter o distanciamento, perguntar como foi o dia, se a máscara caiu, deixou o nariz à mostra”, elenca.

Monitoramento

O protocolo de monitoramento epidemiológico desenvolvido pela equipe do ModCovid19 e implementado em Maragogi consiste em um conjunto de medidas que visa a identificar supostos infectados e isolar as turmas para evitar o avanço da contaminação.

Se um aluno testa positivo para o coronavírus, a sala de aula da qual faz parte é suspensa por 14 dias; já se forem dois casos em salas distintas, a escola inteira é fechada por uma semana. As salas também podem ser suspensas se identificados casos nos familiares de membros da comunidade escolar.

Realidade média brasileira

A matéria do jornal da USP informa ainda sobre uma análise conduzida pela Rede de Pesquisa Solidária, que indicou as principais deficiências enfrentadas pelos governos federal, estaduais e municipais no processo de retomada das atividades presenciais de ensino da rede pública.

O Índice de Segurança do Retorno às Aulas Presenciais (ISRAP), criado para a avaliação, aponta que os resultados são preocupantes: o protocolo do governo federal teve avaliação de 40,6/100, com medidas consideradas menos rígidas do que aquelas presentes na maioria dos protocolos estaduais e municipais.

Segundo o relatório, apenas 56% das capitais e 49% dos estados apresentaram planos estruturados e esses geraram preocupação quanto às medidas tomadas. Parte dos planos optou por investir recursos na compra de termômetros e em utensílios de higienização de superfícies, em detrimento de máscaras de maior qualidade e testes rápidos. Apenas dois entre as 26 capitais (8%) e um entre os 27 estados (4%) distribuíram máscaras do tipo PFF2 como parte do esforço de reabertura para o ensino presencial, como informa a análise.

A medida se mostra contraproducente, considerando os resultados obtidos no modelo matemático, visto que a predominância de contágio se dá por via aérea – o que pode ser combatido com o uso correto de máscaras com alta eficácia. Além disso, crianças e adolescentes apresentam uma alta porção de assintomáticos, o que faz dos testes em massa para detecção do Covid-19 mais importantes para monitoramento e controle da contaminação, quando comparado à medição da temperatura corporal.

Quanto à divisão de turmas para frequentarem a escola de forma alternada, somente três das 26 capitais (12%) e 12 entre os 27 estados (44%) optaram por essa medida de redução de ocupação dos espaços escolares, o que reduz a capacidade das escolas conterem a transmissão viral em possíveis surtos. A rede pública do Espírito Santo e Vitória estão entre os que adotaram a medida, felizmente. 

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