Mães Eficientes e seus filhos completam nove dias acampados na Serra por implementação plena da educação inclusiva
“Vamos continuar até o município contratar os profissionais e colocar dentro das escolas”. A decisão foi tomada nesta terça-feira (17) pelo Coletivo Mães Eficientes Somos Nós, após audiência de conciliação extrajudicial convocada pelo Ministério Público Estadual (MPES) para intermediar a implementação da pauta de reivindicações em relação às políticas públicas de Educação Especial no município da Serra. Elas estão acampadas com seus filhos na Prefeitura da Serra desde o dia nove de agosto.
Entre os participantes da audiência estavam vereadores, integrantes dos Conselhos da Criança e do Adolescente, dos Direitos Humanos e da Educação, além do secretário municipal de Educação, Alessandro Bermudes.
Uma das três integrantes do coletivo na audiência, Mariana Saturnino de Paula conta que foram quatro os encaminhamentos principais definidos: aprovação de um projeto de lei que derrube o teto de 150 cuidadores que o município pode contratar, imposto pela Lei nº 7.543/2017; disponibilização de canais de comunicação para tratamento de denúncias de negativa de escolas em receber crianças com deficiência; criação de Grupo de Trabalho para atualizar a política municipal de Educação Especial; e acompanhamento, pelo MPES, do processo de contratação de estagiários no Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), com pedido, do coletivo, de direcionar 81 estagiários alocados em funções administrativas para o atendimento das crianças especiais nas escolas. Para as duas primeiras ações, o prazo estabelecido foi de cinco dias.
“As crianças estão matriculadas há seis meses, o ano letivo começou em fevereiro. E o secretário vem em agosto nos dizer que ele não poderia contratar os estagiários e cuidadores necessários porque não havia demanda para isso antes do retorno presencial obrigatório? Que poderia responder por improbidade administrativa por isso? A gente então pergunta: onde estavam esses mais de dois mil estudantes? Estavam em casa, em ensino remoto, precisando de apoio pedagógico. Estavam em aula! Mas parece que esses dois mil estudantes não existem para o secretário”, desabafa Lucia Mara Martins, coordenadora estadual do coletivo.
A insuficiência de estagiários, cuidadores e professores de Educação Especial para atender a toda a demanda tem levado muitas escolas a mandarem as crianças com deficiência de volta pra casa, apesar do decreto municipal de obrigatoriedade do ensino presencial estabelecido desde o dia dois agosto, atendendo à orientação da União dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) de seguir a portaria conjunta estadual de 21 de julho.
O cumprimento da legislação brasileira, estadual e municipal sobre Inclusão e Educação Especial, salienta, só pode acontecer com a contratação desses profissionais em quantidade suficiente. O último levantamento feito pela prefeitura, relata o coletivo em nota de repúdio entregue na Câmara de Vereadores nesta segunda-feira (16), é de apenas 120 estagiários, número muito abaixo do necessário, pois cada estagiário pode atender entre um e dois alunos, no máximo.
Até que as contratações aconteçam, as mães continuarão no movimento, chamado de ocupação #ACAMPAPMS. “A gente não vai fazer do jeito que eles querem. A força está com a gente”, pondera Lucia.
‘O poder é do povo’
A decisão é difícil, reconhecem. “Não estamos acampadas na prefeitura porque queremos. Muito pelo contrário. Com certeza, queríamos estar em casa, curtindo o aconchego do lar e o amor dos nossos familiares. Mas nós só iremos sair quando tivermos as nossas exigências atendidas”, afirmam na nota.