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Vitória concedeu mais de 21 mil licenças para professores nos últimos três anos 

Dados da Prefeitura de Vitória apontam que, nos últimos três anos, foram concedidos mais de 21 mil pedidos de afastamento de professores da rede municipal. Somente em relação a transtornos emocionais e psiquiátricos, foram 774 casos em 2016, 803 em 2017 e 932 casos em 2018. 

Para debater o tema, a Comissão de Educação da Câmara de Vitória recebeu, na última quinta-feira (18), representantes dos docentes com participação de Keila Ribeiro da Silva, do Professores Associadas/os Pela Democracia em Vitória (PAD-VIX); Silvana Azevedo da Cruz, do Conselho Municipal de Educação (Comev); e Carolina Roseiro, pesquisadora do Núcleo de Estudos e de Pesquisas em Subjetividade e Políticas da Ufes.

Representantes da Secretaria de Educação de Vitória, que haviam sido convidados, no entanto, não compareceram.

Fatores

Condições de trabalho ruins, desprestígio e ausência de uma ação efetiva de proteção à saúde do professor foram alguns problemas apontados pela professora Keila Ribeiro da Silva, do PAD-VIX. “Nesse contexto político, parece que somos os bodes expiatórios. Toda pressão, desprestígio e ausência de políticas públicas têm precarizado a saúde do professor, que é cobrado desproporcionalmente às condições de trabalho oferecidas”, disse. “A consequência são pedidos de afastamento cada vez mais frequentes. E a saúde mental é a causa de afastamento que mais vem crescendo nos últimos anos”, informou.

Já a representante do Conselho Municipal de Educação (Comev), Silvana Azevedo da Cruz, destacou que as reformas educacionais e os novos modelos pedagógicos desenvolvidos alteraram as condições de trabalho dos professores e têm sido um dos fatores de adoecimento dos profissionais.“O sistema escolar transfere para o professor o papel de cobrir as lacunas existentes na instituição. Com a falta de docentes efetivos para cumprimento dos trabalhos, os professores ficam sobrecarregados”, explicou.

Silvana fez um comparativo do quadro de afastamentos de profissionais pelo país e percebeu que a saúde do professor está comprometida em todos os lugares. “Independente da região, essa nossa profissão traz um grande estresse”. 

Separar saúde no trabalho de saúde do trabalhador é importante para mostrar o real impacto da situação, conforme apontou Carolina Roseiro, pesquisadora do Núcleo de Estudos e de Pesquisas em Subjetividade e Políticas da Ufes.

“Quando a doença é colocada em primeiro lugar, todas as condições de trabalho acabam ficando sumidas. No entanto, esse adoecimento não acontece de forma particularizada porque se esses números são tão expressivos, isso significa que a questão do adoecimento é no próprio campo de trabalho. Não se trata de uma maior ou menor capacidade do professor de suportar”, ressaltou a pesquisadora.“O Estado precisa oferecer condições para que os trabalhadores produzam saúde no trabalho. Precisamos tirar o foco da saúde do trabalhador, como se fosse algo particular, e começar a pensar em saúde no trabalho”, defendeu.

Ela sugeriu que se constituísse comissões de saúde do trabalhador com o apoio institucional, mas com gestão dos próprios trabalhadores.

Mudanças na sociedade

“Estamos passando por uma grande modificação em nossa sociedade e na formatação de nossos empregos. O papel de preponderância que a escola tinha, foi se perdendo. Agora nós disputamos com as redes sociais e nossas universidades não nos preparam para isso”, disse, por sua vez, o vereador Roberto Martins (PTB), que também é professor.

Roberto acredita que o atual contexto nacional transforma o professor em bode expiatório da sociedade. “Isso acontece especialmente por conta dessa proposta de mordaça falsamente intitulada de “escola sem partido”, que culpa o professor por esses problemas gerados pelas transformações da sociedade”, afirmou.

Do ponto de vista local, o vereador disse concordar com os depoimentos de que, tem se visto “uma queda do salário, perseguições, afastamento da gestão dos professores, desrespeito pelos alunos, famílias e nossos governantes”. “As famílias despejam os filhos na escola e não se preocupam em acompanhar o projeto pedagógico das escolas, em dialogar, para que possamos juntos, família e professores, trabalhar a educação”.

Depoimentos

O professor Agnaldo Rocha contou que na escola em que é diretor, todos os professores são contratados temporários e lamentou a falta de concursos públicos. “A escola absorve grande parte dos problemas sociais e não está sabendo lidar com isso. Tem que dividir a responsabilidade do professor com a sociedade”, afirma.

Já a professora Zoraide Barbosa de Souza falou do assédio moral e da perseguição no espaço da escola. Ela denunciou o desvio de função como sendo a condição mais injusta para o professor pois ele perde seus direitos. “O adoecimento atinge todos, porque o trabalho do professor é coletivo. Quando um professor adoece, há um adoecimento naquele coletivo”, disse. 

 

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