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Candidato na rua: Lelo Coimbra em Bela Vista

Esta a segunda reportagem de uma série com os cinco candidatos a prefeito de Vitória. A proposta é traçar um perfil do candidato na rua, em contato direto com eleitor. A série foi aberta nessa quarta-feira (28) com o candidato do Solidariedade Amaro Neto. A reportagem a seguir apresenta o candidato Lelo Coimbra (PMDB) em movimento pelas ruas de Vitória, mais precisamente em Bela Vista. Na sexta-feira (30)  a matéria é com o prefeito Luciano Rezende (PPS). A reportagem ainda não tem a confirmação das datas das matérias de André Moreira (PSOL) e Perly Cipriano (PT), que devem ser publicadas no sábado (1).
 
Ao final da Rua José Pires dos Santos, uma pequena área de encosta serve, hoje, de ponto viciado de lixo. ???Olha isso, candidato???, alguém lamenta, apontando para o chão onde objetos, restos e materiais de toda espécie se reúnem formando um monturo lastimoso. Lelo é conduzido até a ponta da rocha e ouve com atenção o pedido dos moradores: a construção de um mirante no local. Lelo, então, sobe em um ressalto da rocha e mergulha numa contemplação silenciosa: ???A vista é bonita pra caramba???, diz a si mesmo.
 
Moradores e candidato têm razão. Uma vista magnânima se descortina dali, explicando o nome do bairro: após um pequeno trecho de ruas e casas de Santo Antônio, as águas da baía de Vitória se estendem gloriosamente na paisagem, a Ilha do Cal à esquerda e Cariacica um borrão longínquo. Uma imagem bela e forte, mas certamente ignorada da maior parte dos moradores da cidade. A vista acende a memória de Lelo. Ele aponta umas pedras e conta: ???Eu pescava ali, na ponta daquela ilha???. 
 
O deputado federal e candidato do PMDB a prefeito de Vitória Lelo Coimbra caminhou na tarde dessa segunda-feira (26) em Bela Vista. Se corretas as pesquisas, o terceiro colocado precisa gastar muita sola de sapato para em uma semana tirar a diferença em relação aos adversários. A caminhada a passos rápidos e curtos, cuja rotação não se abrandava com subidas de rua ou escadas longas e íngremes, mostrou um candidato empenhado e decidido.

A equipe se concentrou na Praça Caetano Bassini, local arborizado com uma pequena área coberta com mesinhas e cadeiras e uma quadra poliesportiva. Lelo chegou, cumprimentou cabos eleitorais e moradores. Pouco depois a equipe – uma composição tradicional de meninas maquiadas com bandeiras, candidatos a vereador e lideranças comunitárias locais, cerca de 30 pessoas ao todo, além de um carro de som entoando jingles – iniciou a caminhada pela Rua Dr. Ivan Ramos Medeiros, uma das que conduz ao interior do bairro.

 
A caminhada começou um tanto fria e silenciosa. ?? frente, Lelo acenava e cumprimentava os raros moradores que apareciam nas janelas e que, quando o faziam, traziam o tédio nos olhos; uma senhora correspondeu mais por polidez que por empatia. Alguns moradores acompanhavam o cortejo com expressão de tédio. Talvez notando o clima, o vereador e candidato à reeleição Zezito Maio (PMDB) violou o silêncio da rua aos gritos: ???Lelo! Lelo! Lelo!???. Um outro cabo eleitoral tentou ajudar: ???Quinze neles! Quinze neles! Quinze neles!???.
 
Pouco adiantou, mas Lelo seguia firme, oferecendo a mão, abraços e beijos. ???Lelo Coimbra. Peço seu voto para prefeito de Vitória???, costumava dizer. A certa altura, pediu ao líder comunitário que conduzia a caminhada: ???Segura aí???. Deu um pique na subida de uma rua só para cumprimentar uma senhora recostada ao portão de casa que via o cortejo passar. Deu um abraço, pediu voto e voltou no mesmo pique.
 
A caminhada já contava cerca de 40 minutos quando entrou em cena o elemento que, finalmente, animou o evento e atiçou a curiosidade dos moradores. Um carro de som com um cabo eleitoral anunciando ao microfone a presença do candidato tomou a frente do cortejo. Antes fechadas, as janelas começaram a se abrir e as ruas ganharam a presença de mais moradores enquanto as caixas de som exaltavam as qualidades do candidato, suas boas relações com os governos federal e estadual, etcétera.
 
Quando chegou a um grupo de moradores sentados em um banco rente ao muro de um casa, Lelo recebeu o apoio até ali mais explícito: ???Eu quero Lelo, eu voto Lelo, Vitória precisa de Lelo???, disse-lhe uma senhora, arrancando riso geral ao brincar com o jingle do candidato.  
 
Adiante, um líder comunitário local o advertiu de um terreno resguardado por muro e portão altos: ???Terreno da prefeitura abandonado, servindo de garagem. Podia ser um posto de saúde???. Lelo meteu os olhos no buraco do muro e constatou o terreno amplo, sujo e sem pavimentação, abrigando inúmeros veículos. Ao lado, mais um monturo lastimável, que parecia estar ali há dias.
 
Uma quadra depois do ponto onde os moradores pediram a construção de um mirante, Lelo desceu uma escadaria curta para cumprimentar os operários de uma obra. A escadaria terminava na encosta. Abaixo, tudo era mato, entulho e, denunciou um morador, um esgoto a céu aberto. De fato, um fio de água cinza escorria pela rocha; o mau odor incomodava. O sistema recebe os dejetos de todas as casas ao redor.  
 
As lideranças que acompanhavam o candidato o conduziram para outro ponto onde também projetavam a construção de um mirante. Era uma área mais ampla e de traçado menos irregular que a anterior, porém igualmente tomada de mato e entulho. Cerca de duas décadas atrás, as duas áreas eram ocupadas por mais de 20 famílias em barracos precários. Típica moradia de alto risco. As famílias foram removidas pelo Projeto Terra, da administração Luiz Paulo Vellozo Lucas, e abrigadas no Residencial Bela Vista, projeto de habitação social da prefeitura. 
 
Os barracos foram demolidos e ainda hoje nenhum prefeito conferiu tratamento digno às áreas, que agora servem como ponto de tráfico de drogas e rota de fuga. 
 
Já um tanto distante dali, Lelo foi bem acolhido pelo dono de um venda na escadaria Dom João Batista. ???Nossa dificuldade aqui, Lelo, é liberar nossa licença para trabalhar???, disse o comerciante, criticando, em seguida, a fúria arrecadadora do poder público. Debruçado sobre o balcão do caixa, Lelo olhava nos olhos do comerciante. Respondeu com uma crítica ao prefeito Luciano Rezende (PPS): ???Luciano vai criar a Secretaria da Maquiagem???. ???A família aqui é nossa. Todo mundo é quinze???, prometeu o homem. Lelo agradeceu o apoio.
 
Mas se ali a recepção foi especialmente calorosa, três ruas depois o quadro foi outro. Sorriso no rosto, expressão afável, Lelo ia entrando no pequeno supermercado quando foi confrontado sem rodeios por um homem de braços cruzados que encarava o cortejo com um olhar indignado. Lelo recebeu a primeira estocada antes de cumprimentá-lo: ???O que o senhor fez pelo bairro Bela Vista????, questionou o homem em voz firme.
 
Alguém da equipe contemporizou: ???Ele é deputado federal???. Lelo, por sua vez, tentou encetar diálogo. O homem não recuou. Pelo contrário, aumentou o tom de voz: ???O que o senhor como deputado federal fez pelo bairro Bela Vista????. Uma pequena discussão iniciou-se. O candidato aproveitou para virar as costas e ir cumprimentar eleitores no interior do estabelecimento. ???Vocês só aparecem aqui em época de eleição???, continuava o homem para o grupo. 
 
Lançado impiedosamente na vala comum do oportunismo, deixou o supermercado com o gosto amargo da rejeição pós-Lava Jato à política. 
 
Na Rua Padre Emílio Mioti, trecho importante, que liga Bela Vista a Santo Antônio, fez a última gravação, lembrando as obras de pavimentação da rua realizada ainda durante a gestão Paulo Hartung (PMDB) na Prefeitura de Vitória (1990-1994) e concluiu a caminhada um pouco à frente, pedindo ânimo à equipe ao microfone do carro de som. ???Temos quarta, quinta, sexta, sábado e o dia da benção. Não podemos parar. Tem que dormir pensando no Lelo e acordar pensando no Lelo. Na dúvida, pense no Lelo???.

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