Reportagem: Henrique Alves
Texto: José Rabelo
Imegens: Leonardo Sá/Porã
Edição de imagens: Nerter Samora
A reportagem de Século Diário foi às ruas para ouvir a opinião dos moradores de Vitória sobre três temas: segurança, mobilidade urbana e poluição do ar. De maneira geral, as pessoas ouvidas se disseram insatisfeitas com esses três problemas, considerados crônicos.
As declarações apontam um distanciamento entre as demandas da população e as propostas de governo dos dois candidatos que disputam o segundo turno da eleição a prefeito da Capital neste domingo (30). Tanto o candidato do Solidariedade, Amaro Neto, como o atual prefeito, Luciano Rezende (PPS), não entraram a fundo nessas três questões.
Analisando as propostas de governo de ambos registradas no Tribunal Regional Eleitoral (TRE-ES), a do candidato do SD é ainda mais clara e completa ao tratar desses temas, ante a do prefeito, que é mais subjetiva e protocolar. Essa mesma constatação se repetiu, ao longo da disputa, nos programas eleitorais, em vídeos postados nas redes sociais e em declarações feitas pelos candidatos em sabatinas, entrevistas e debates. Amaro acabou assumindo mais explicitamente sua posição pelo menos em relação a esses três temas.
Pó preto
Os moradores ouvidos pela reportagem se disseram incomodados com a sujeira causada pelo pó preto, sobretudo os moradores de Jardim da Penha e Praia – um dos bairros mais afetados pela poeira de minério que vem de Tubarão. Porém, mais que o incômodo de limpar a casa duas ou três vezes por dia para se livrar do pó preto, a população mostrou muita preocupação com as consequências da poluição para a saúde. Os entrevistados apontaram os problemas respiratórias como uma ameaça à saúde de seus familiares, sobretudo das crianças, mais vulneráveis aos efeitos nocivos da poluição atmosférica provocada pela atividade mineradora da Vale e ArcelorMittal.
No programa de governo, Luciano promete “aprimorar os mecanismos de monitoramento e controle das fontes poluidoras do ar e das águas, continuando a combater com firmeza as agressões ambientais”. O prefeito, porém, evita apontar Tubarão como a principal fonte de emissora de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera de Vitória. À frente da prefeitura, Luciano, mesmo pressionado pela CPI do Pó Preto (da Câmara e da Assembleia), se comportou de maneira omissa à ação poluidora das mineradoras.
Amaro é mais direto nas críticas às mineradoras. Ele chega a identificar a origem da poluição. “Vamos lutar incessantemente para que toda a poluição da cidade, gerada pelas grandes indústrias e pelas obras, seja controlada com pesadas multas e acompanhamento jurídico que garanta o seu pagamento. Vamos promover o desenvolvimento de negócios limpos e sustentáveis que possam trazer mais recursos para a cidade, minimizando nossa dependência financeira do complexo industrial”. Num post recente, o candidato do SD também prometeu criar uma rede de monitoramento da prefeitura, para que todo morador de Vitória possa acompanhar os índices de poluição do ar em tempo real a partir de um aplicativo.
Segurança
Embora o prefeito Luciano Rezende comemore as reduções das taxas de homicídios na cidade como uma das principais conquistas da sua gestão, a violência continua atormentando o morador de Vitória. Todas as pessoas abordadas pela reportagem já foram vítimas de crimes e temem sofrer violência.
Na contramão do discurso do prefeito, que exalta Vitória como um “paraíso” em termos de segurança, a população se queixa da falta de policiamento e da sensação de insegurança. “A percepção de segurança é nula”, disse a moradora de Jardim Camburi à reportagem.
Nesse quesito, o adversário do prefeito apresenta como solução a integração das forças de segurança municipal com a estadual. “Voltaremos a atuar em conjunto com as polícias Civil e Militar, numa troca permanente de informações, para que a cidade tenha a certeza de que os crimes serão combatidos antes que aconteçam. A segurança tem que ser preventiva e não corretiva, por isso os investimentos em segurança eletrônica serão permanentes”, propõe de forma vaga o candidato do SD.
Mobilidade urbana
A mobilidade urbana é um problema que afeta o dia a dia do morador de Vitória, sobretudo os que dependem do transporte público para se deslocar pela cidade. As queixas dos usuários em relação às linhas de ônibus municipais são recorrentes. Os entrevistados reclamaram especialmente de dois problemas: ônibus lotados e demora na espera, que se torna ainda mais longa nos finais de semana e feriados. Para resolver o problema, os usuários pedem mais linhas, o que evitaria a superlotação e a espera.
No tema mobilidade, Luciano promete atuar no transporte coletivo, buscando a integração metropolitana de projetos e obras do sistema viário. Esse discurso de integração da região metropolitana é antigo, já esteve presente em propostas de outros prefeitos. No caso da atual gestão, o prefeito, na prática, não esboçou nenhuma ação nesse sentido. O Integra Vitória, aposta do prefeito para criar uma marca no tema mobilidade urbana, acabou trazendo prejuízo à imagem de Luciano, que foi obrigado a abortar o programa que alterava as linhas da cidade.
No programa de governo Luciano também promete ampliar a malha cicloviária, conectando toda a cidade para garantir a mobilidade diária não motorizada da população. Na prática, porém, os avanços podem ser considerados tímidos. Houve um investimento estratégico no ciclismo de lazer, com a criação de ciclofaixas, que funcionam apenas domingos e feriados.
As ciclovias e ciclofaixas destinas a moradores que se utilizam da bicicleta como meio de transporte para trabalhar ou estudar, ainda deixa a desejar. Um levantamento da União Brasileira dos Ciclistas sobre a malha cicloviária das capitais brasileiras, realizado em 2015, põe Vitória em décimo quarto lugar no ranking, com 47km de ciclovias implantadas.
Amaro promete integrar ciclovias e ciclofaixas a ciclorrotas. Ciclovias e ciclofaixas precisam estar mais interligadas e conectadas às ciclorrotas. “Vamos criar ciclorotas, mesmo que compartilhadas em ruas internas dos bairros, encontrando com ciclovias segregadas e ciclofaixas nas vias de maior densidade, privilegiando o transporte de bicicletas”.