Instituto Raízes pede por justiça e aponta que medidas de combate à violência não foram implementadas
Está marcado para 9 de agosto, o júri popular de cinco acusados de matar os irmãos Ruan Reis e Damião Marcos Reis, no Morro da Piedade, no Centro de Vitória, em 2018. O crime, recorda a vice-coordenadora do Instituto Raízes, Mariana Ramos de Araújo, mudou a configuração local, pois muitas pessoas saíram da Piedade, não somente a família das vítimas. Além disso, devido à sucessão de assassinatos de jovens, já que os irmãos não foram os únicos, várias reivindicações foram feitas ao poder público com foco no combate à violência, mas nem tudo saiu do papel.
“Nossa expectativa é que a justiça seja feita”, ressalta Mariana. De acordo com ela, o crime causou um sofrimento muito grande para as pessoas próximas às vítimas, que eram queridas na comunidade. “Os assassinatos impuseram um medo a mais. Eram duas pessoas muito amadas, que ajudavam a todos, participavam de projetos sociais, ninguém esperava que fossem vítimas de uma violência tão grande”, afirma.
Oito réus foram denunciados pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES) no caso do assassinato dos irmãos Ruan e Damião. Quatro deles iriam a júri popular em julho do ano passado, mas somente três foram julgados, pois a advogada de um deles apresentou um atestado e não compareceu. Alan Rosário do Nascimento, o Gordinho, Rafael Batista Lemos, o Boladão, e Gean Gaia de Oliveira, o Chocolate, receberam, individualmente, uma pena de 60 anos de prisão em regime fechado, sendo 30 anos por cada uma das mortes. O julgamento foi no Fórum Criminal de Vitória.
Contudo, passados exatos quatro anos, Mariana afirma que o Plano de Ação 15 não foi plenamente efetivado. Uma das reivindicações foi a construção da base da Polícia Militar, o que foi feito, aumentando o policiamento, porém não de forma mais sistemática.
O Terreirinho, local onde Ruan e Damião foram assassinados, conforme consta no Plano de Ação, deveria se tornar um espaço de lazer, com promoção de atividades culturais e esportivas. No entanto, a única coisa que fizeram foi concretar o espaço. De acordo com Mariana, as ações que acontecem ali são de iniciativa da própria comunidade. Iniciativas de zeladoria, como troca de lâmpadas de postes e capinagem, são feitas, mas não de forma contínua, carecendo de insistentes pedidos da comunidade para que sejam realizadas.
O crime
“Hoje mais um lamento triste de dor ecoa no Morro da Piedade e o samba cede a passagem para a violência! Mais uma noite atravessada pelo som de tiros. Mais uma noite em que famílias acordam com medo sem saber se é um dos seus ou amigos que estão perdendo a vida. No lugar das mais de 60 balas atiradas pelos becos, nas paredes das casas, escadarias e principalmente contra o corpo de jovens negros, sangue, lágrima e muita dor de mais uma mãe que perde seus filhos para a violência urbana. Aos moradores restou limpar o sangue das escadarias e contabilizar as cápsulas de arma de fogo espalhadas pelo morro. Até quando vamos chorar cotidianamente a morte de nossos irmãos e irmãs?”, clamou.