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Casal aciona Justiça após denunciar crime de racismo em condomínio de VV

Família, que é da Bahia, afirma sofrer retaliações, e pretende se mudar do Estado, onde mora há apenas três meses

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Um casal da Bahia registrou Boletim de Ocorrência (B.O) e acionou a Justiça após denunciar ter sido alvo de racismo no condomínio onde mora, Ocean Front, em Itaparica, Vila Velha. Residindo há apenas três meses no Espírito Santo, os dois foram impedidos de entrar no prédio pela porta principal, sob a alegação de que trajavam roupas de academia. A família afirma que, desde então, sofre retaliações, e pretende deixar o Estado.

O caso foi no dia 21 de fevereiro, mas só agora o casal tornou pública a denúncia. Em um vídeo publicado nas redes sociais, o apresentador e radialista Júnior Leal conta que ele e a esposa treinavam na academia do edifício e saíram para fazer compras em um mercado próximo. Ao retornarem, foram impedidos de entrar no prédio pelo porteiro, que alegou que Júnior trajava roupa de academia, estava completamente suado, e não poderia ter acesso aos outros moradores do edifício”.

“Como havia me mudado há apenas dois meses, acreditei que, mesmo se tratando de uma regra absurda, poderia fazer parte do regimento interno do condomínio. Na sequência, demos a volta e acessamos o prédio pelo portão lateral a caminho do elevador, e, ao chegar no hall principal do prédio, no térreo, me deparei com um rapaz branco de cabelo liso, suado, com roupa de treino, entrando pelo mesmo portão onde fui impedido minutos antes”, relata.

O apresentador prossegue: “Foi naquele momento que tive a convicção que se tratava não de uma regra condominial, e sim de uma regra imposta pela maioria da sociedade de que o preto não pode ter acesso ao mesmo lugar que o branco, uma regra preconceituosa e estrutural de que o preto não pode e nem deve ter os mesmos direitos de qualquer cidadão branco”, pontua.

Júnior solicitou acesso às câmeras de segurança do edifício, para comprovar que, mesmo recebendo outros moradores com os mesmos trajes, só ele foi impedido de entrar, mas as imagens não foram cedidas. “O condomínio alegou que tinham imagens de terceiros, que não poderia ceder sem autorização dos mesmos, mas, em nenhum momento, os procurou para saber. Estávamos tratando de um crime e, ali, fornecer essas imagens, iria acabar com toda a cena”, afirma.

O morador conseguiu comprovar as denúncias no último dia 15 de março, quando gravou, por conta própria, um homem branco entrando com roupas de academia, sem ser impedido pelo mesmo porteiro. O registro está presente no vídeo publicado pelo apresentador nas redes sociais, onde ele também mostra imagens das câmeras de segurança no dia em que foi barrado na portaria.

Júnior afirma que, mesmo diante das denúncias, nenhuma medida foi adotada pelo condomínio. Ao relatar o ocorrido para os síndicos, ele diz que não foi ouvido, e apenas recebeu orientação para procurar uma delegacia. “Ao perceber que se tratava de um crime, fui ao apartamento da síndica onde o seu marido, também branco, nos atendeu, e pedi para falar com ela e relatar o fato. O mesmo comunicou que ela estava em uma aula on-line e que não poderia nos atender”, aponta.

O morador registrou o B.O e deu entrada no processo criminal contra o porteiro, bem como um processo civil contra o condomínio por danos morais, já que os síndicos não o atenderam e o funcionário não foi responsabilizado de nenhuma forma pelo ocorrido. “[A síndica] me excluiu do grupo do condomínio onde coloquei um vídeo falando sobre algo que aconteceu no próprio condomínio”, conta.

Desde que fez as denúncias, a família diz sofrer constrangimentos e retaliações. “Em dois meses, nunca havia levado qualquer advertência. Vinte dias depois, já levamos três. Muitos moradores viram a cara quando veem a gente, se negando até a responder um simples ‘boa tarde’, e outros preferem não entrar no elevador enquanto estamos no mesmo. Ultimamente, viemos recebendo ligações bem estranhas em nossos celulares, já fomos ameaçados, e o porteiro simplesmente continua vivendo e trabalhando normalmente na sua função, sabendo de toda a nossa rotina. As pessoas que fizeram pouco caso também continuam a sua vida normalmente, enquanto eu, a vítima, vivo preso dentro de casa me sentindo coagido e com medo de circular onde eu vivo”, desabafa o morador.

Com medo, a família, que veio ao Espírito Santo a trabalho, pretende se mudar do Estado. “Estamos usando móveis atrás da porta, minha mulher se assusta e chora toda vez que o interfone toca, estamos passando por problemas de saúde que obviamente afetam todos os âmbitos das nossas vidas (…) Não queremos mais ou menos do que nenhum e qualquer indivíduo, queremos apenas viver em grau de igualdade, com direitos iguais, onde todos nós, seres humanos, possamos apenas viver em paz”, reivindica Júnior.

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