Na guerra de informações e especulações sobre as eleições do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Espírito Santo (Crea-ES), cujo resultado permanece incerto três dias após o encerramento da votação, devido à impugnação de urnas por indícios de fraudes e a três pedidos de anulação do pleito, uma constatação parece certa: o principal suspeito não é o mordomo, e sim os computadores que integram o sistema de informática da entidade presidida por Helder Carnielli.
De fato, eles formam a base de dados que acumulou informações, por exemplo, sobre as listas de eleitores que durante a votação ocorrida em 26 seções eleitorais, espalhadas por 19 municípios, com um total de 31 urnas, se tornaram a origem de toda a indignação dos candidatos de oposição a Carnielli e ao candidato apoiado por ele, Geraldo Ferregueti.
Segundo eles estimam, mais de 600 associados deixaram de votar porque, ao comparecerem às suas seções, foram surpreendidos com a informação de que estavam no lugar errado. Eleitores de Linhares foram orientados a seguir para São Gabriel da Palha ou Rio Bananal e alguns que sempre votaram em Guarapari não receberam com antecedência a informação de que tinham de se dirigir a Venda Nova do Imigrante.
As mudanças fizeram com que os candidatos de oposição levantassem suspeitas sobre o sistema do Crea-ES, que teria prejudicado o desempenho nas urnas de candidatos competitivos que colocavam em risco o favoritismo de Ferregueti. Essas suspeitas motivaram recursos de três deles no Conselho Eleitoral Federal, do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), com pedido da anulação das tumultuadas eleições, que se transformaram num vale-tudo liderado por Carnielli.
As principais acusações contra ele – abuso de poder e utilização da máquina administrativa do Crea para favorecer Ferregueti – foram feitas inicialmente por Lúcia Vilarinho, em novembro último, através de documento enviado à Comissão Eleitoral Federal. Apoiada por dois prestigiados cabos eleitorais de origem petista, os ex-presidentes do Crea Sílvio Ramos e Paulo Buback, Vilarinho surgiu, então, bastante competitiva no cenário eleitoral. Sua iniciativa acabou resultando na impugnação da candidatura de Ferregueti.
Como ele recorreu da decisão e perdeu, acabou transformando a campanha numa pendenga jurídica: conseguiu na Justiça Federal, em Brasília, decisão favorável à manutenção de sua candidatura até o julgamento do mérito da ação. Com a candidatura sub judice, Ferregueti ainda tem pela frente um futuro duvidoso: se vencer as eleições, corre o risco de mesmo assim se tornar um perdedor, caso o juiz confirme a impugnação da sua candidatura, assumindo o cargo o segundo colocado.
A votação da última sexta-feira (15) confirmou as tensões que prevaleceram na campanha eleitoral. Além das alterações nas listas de eleitores, três urnas foram impugnadas: uma em Linhares e duas em Vitória. O caso mais emblemático ocorreu numa das urnas da capital: antes do início da votação, fiscais constaram que ela já continha votos. Nesse campo eleitoral, estavam cotados para votação expressiva Vilarinho e Jorge Luiz e Silva.
Jorge, em sua representação ao Conselho Federal pedindo a anulação da disputa, listou uma série de irregularidades, entre elas, o impedimento dos eleitores de comparecer às urnas, porque estavam em atraso com suas anuidades, quando na verdade, segundo ele, a dívida havia sido parcelada e as duas primeiras prestações pagas.
“O sistema de informática do Crea é que não foi atualizado para reconhecer a situação regular do eleitor”, disse. Outra “ilegalidade foi o uso constante da máquina administrativa em benefício do candidato patrocinado por Carnielli, obrigando funcionários e terceirizados a pedir votos para ele”, completou.
Para Jorge, qualquer resultado eleitoral que seja anunciado antes da manifestação do Conselho Federal “é conversa fiada”. Ele se referia especificamente a Lúcia Vilarinho, anunciada por sua assessoria de imprensa como vitoriosa no último sábado (16). “Só existe uma verdade no enredo dessa eleição: as irregularidades cometidas para favorecer Ferregueti”, destacou.
Espera-se que, nesta quarta-feira (20), o Conselho Federal resolva o imbróglio, anulando as eleições ou proclamando um resultado. Na primeira hipótese, como as novas eleições devem ser realizadas 30 dias após a votação anulada, ou seja, em 16 de janeiro de 2018, o cenário da disputa poderá ser diferente, já que Carnielli encerra seu mandato em 31 de dezembro próximo.
De acordo com o regimento do Crea-ES, ele será substituído pelo conselheiro mais velho. Nesse novo contexto, as previsões dos profissionais do Conselho é que Ferreguetti será o candidato com potencial de votos mais afetado, favorecendo Vilarinho e Jorge. Mas se o Conselho Federal homologar o resultado das urnas, o Crea-ES inevitavelmente vai superar os traumas dessas eleições, mas da sua história recente poderá emergir um vilão tão funesto quanto Dart Vader.