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Delta: empresa fantasma no ES recebeu dinheiro após empréstimo em paraíso fiscal

Uma das principais empresas fantasmas utilizadas para lavagem de dinheiro da Delta Construções S/A, a Garra Transportadora – com sede fictícia em Viana –, recebeu R$ 4,17 milhões logo após a empresa carioca contrair um empréstimo nas Ilhas Cayman, conhecido paraíso fiscal, em 2011. A revelação faz parte dos votos em separado dos membros da CPI do Cachoeira lidos na sessão desta terça-feira (11), que terminou novamente com o adiamento da votação do relatório final dos trabalhos. 

Mesmo sem a leitura do parecer do relator da CPI, deputado federal Odair Cunha (PT-MG), que negociou um possível avanço sobre as atividades dos “laranjas” da Delta para evitar a rejeição do texto, os “relatórios paralelos” – a cargo das bancadas e dos membros independentes da comissão –evidenciam os repasses regulares de dinheiro da Delta para a empresa fantasma no Espírito Santo. No período investigado, a empresa laranja capixaba recebia de um a dois cheques por mês. 

Entre março de 2011 e abril deste ano, a Garra Transportadora recebeu R$ 23.507.076,06, divididos em 20 cheques que saíram das quatro contas bancárias da Delta Construções – Banco do Brasil (11 cheques), HSBC (5), Banco Safra (3) e Bradesco (1). Os repasses teriam sido iniciados logo após a empreiteira carioca ter recebido mais de R$ 40 milhões (cerca de US$ 24,08 milhões) em março de 2001, por conta de um empréstimo contraído junto a banco com sede nas Ilhas Cayman, segundo o relatório assinado pela bancada do PSDB. 

Nos meses seguintes ao ingresso do dinheiro nas contas da empresa carioca, a Delta irrigou 13 empresas suspeitas, entre elas, a Garra Transportadora – que foi a segunda no valor de repasses. Nos meses de março a julho daquele ano, a laranja da Delta em solo capixaba recebeu cinco cheques da conta no HSBC nos valores respectivos de: R$ 319.422,32, R$ 1.518.327,11, R$ 680.199,56, R$ 680.786,86 e R$ 696.085,33. 

Em julho de 2011, os repasses da Delta para a empresa laranja passaram a ser efetuados a partir da conta no Banco do Brasil. Ao todo, foram outros sete cheques entre julho e dezembro, que somaram R$ 8.854.986,62. Naquele mesmo ano, a Garra Transportadora foi beneficiada com um cheque emitido a partir da conta no Banco Safra, no valor de R$ 360.465,12. 

Durante o ano de 2012, a Garra Transportadora continuou a receber mais de um repasse por mês oriundos das contas da Delta. No primeiro quadrimestre deste ano, a empresa de fachada recebeu seis cheques da empreiteira carioca, somando R$ 9.555.477,79 da conta no Banco do Brasil, R$ 152.470,93 (Bradesco) e mais R$ 688.854,42 (Banco Safra). 

Na opinião do senador Álvaro Silva (PSDB-PR), a descoberta das relações da Delta com as empresas laranjas no restante do País foi o principal motivo para a derrocada das investigações. “A CPI parou onde deveria começar. Quando cruzou as fronteiras do Centro-Oeste, a comissão parou”, afirmou. O tucano lembrou que as investigações tiveram início após a descoberta da relação da Delta na região e a organização criminosa do bicheiro Carlinhos Cachoeira. 

O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AC), que integrou o rol dos independentes, chegou a apresentar o requerimento de quebra do sigilo fiscal da Garra Transportadora durante os trabalhos. No entanto, o pedido sequer foi deliberado pela comissão, motivo de queixa pelo parlamentar. “Não tenho dúvidas que se esta comissão avançasse sobre o destino do dinheiro das empresas fantasmas iria chegar a um conjunto de agentes políticos com ligações com a Delta”, declarou. 

Mesmo caminho do deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), que também criticou a falta da quebra do sigilo da laranja da Delta. “Como a Garra não teve seu sigilo quebrado, não foi possível analisar os credores e devedores de suas movimentações bancárias. Merece o registro dessa empresa pelo fato de possivelmente apresentar sócios de fachada e ter recebido quantia muito vultosa da Delta, apesar de ter apenas dois anos de fundação”, narra um dos trechos do relatório apresentado pelo demista. 

Na primeira versão do relatório final da CPI, a Garra Transportadora foi apontada como uma das principais companhias que receberam dinheiro vindo das contas da Delta Construtora. A Garra foi a terceira empresa laranja investigada com maior movimentação financeira oriundas da Delta: R$ 23,507 milhões dos R$ 173 milhões registrados em transações feitas pela empresa. 

Nesses últimos dois anos, a empresa laranja capixaba foi responsável por 25% do repasse de dinheiro, que somaram pouco mais de R$ 92 milhões, para empresas classificadas pela CPI como suspeitas. A Garra Transportadora foi registrada no dia 25 de outubro de 2010 na Junta Comercial do Espírito Santo (Jucees). Consta no registro o endereço na rua Coronel Laurentino Pimentel, número 170, no centro de Viana (região Metropolitana da Grande Vitória), local onde a empresa nunca fora sediada. 

O capital social de apenas R$ 10 mil está dividido no nome de dois laranjas: Eliandro Paula da Conceição, com R$ 9,9 mil das cotas sociais, enquanto Gláucio Barcelos fica com apenas R$ 100 do capital da Garra Transportadora. Os vizinhos do local da suposta sede da empresa não conhecem ou ouviram falar de nenhum dos “sócios”, que residiram de fato no subúrbio do Rio de Janeiro, conforme reportagem publicada pelo jornal Folha de S. Paulo.

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