Gravação de advogada em “negociação” com fornecedor foi alvo de perícia
A poucos dias da disputa à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-ES), nesta sexta-feira (22), uma acusação contra a candidata Erica Neves acirra ainda mais a campanha e repercute no mercado e nas redes sociais. Trata-se de uma conversa da advogada com um fornecedor da Ordem, em contexto de “negociação política”, que teria sido gravada antes mesmo de iniciado o processo eleitoral. O material foi submetido à perícia, que atestou a veracidade dos áudios e sua atribuição à advogada.
Trechos da gravação, apenas com as falas de Erica, são reunidos em um vídeo propagado nas redes, que denuncia “a intenção de montar um esquema de manipulação e favorecimentos”, que incluiriam o fornecedor e atenderiam a pedidos de pessoas ligadas à sua campanha. Ela também se refere a um “guru” e a um “operador”, sem identificá-los, e cita nominalmente o atual presidente da OAB e candidato à reeleição, José Carlos Rizk Filho.
“Agora, a gente sabe que, na época de campanha, o Rizk tem um apoio financeiro que a gente não vai ter, nós somos oposição, fato”, afirmou. Ela se volta ao fornecedor como “um alvo da oposição” e diz: “você que segurou (…), eu sei que segurou por causa da sua amizade, não sei o quê, então, pede pelo menos uma forma de equilíbrio disso, para que não seja tão destoante”. Depois, declara em meio a risos: “Vê se pode pagar umas coisas pra mim…pagar conta, adoro! Adoro que alguém pague a conta, não sou feminista”.
O trabalho de perícia foi feito em dois arquivos, de áudio e de vídeo, juntos com uma entrevista concedida por Erica Neves disponibilizada na internet. A gravação informada como completa, feita no próprio local da reunião pelo aplicativo Voice Memos, tem 33 minutos, enquanto a entrevista, 23 minutos. O Laudo Pericial de Comparação de Locutor foi contratado por Alencar Macedo Ferrugini, integrante da Chapa 1 (8ª Subseção de Vila Velha), do atual presidente, José Carlos Risk Filho, e publicado nesse domingo (17), com assinatura do perito físico Renan Costa Loyola.
“Após análise minuciosa dos arquivos encaminhados, que a relevância (raridade) e a recorrência (frequência) das convergências foram encontradas nas comparações realizadas entre o áudio sonoro questionado e padrão, este Perito conclui que o resultado obtido (evidências) suporta fortemente a hipótese dos registros vocais do locutor, identificado no material sonoro padrão como ‘Erica Neves’, ser a fonte das falas questionadas”.
O documento acrescenta que, “durante os exames, não foram encontrados, no respectivo arquivo sonoro questionado, edições fraudulentas, bem como não existem evidências da utilização de inteligência artificial para manipulação de falas nos diálogos analisados (…)”.
Reforça, ainda, que “as falas atribuídas à pessoa identificada como ‘Erica’/‘Erica Neves’, encontradas no arquivo descrito na subseção IV.9, não foram criadas artificialmente, sendo todas elas recortes retirados na integra do arquivo que continha a totalidade dos diálogos, e foram objeto de análise de comparação de locutor (…)”.
A advogada, que representa a Chapa 10, “A OAB que Você Quer”, é considerada a principal concorrente de Rizk, com a Chapa 1, “A Ordem É Evoluir”. Os dois disputam o comando da OAB pela segunda vez consecutiva. O terceiro candidato, também de oposição, é o advogado Bem-Hur Farina, com a Chapa 3, “Muda OAB”.
A denúncia contra Erica é mais um capítulo que marca a reta final do pleito, que envolve mais de 25 mil advogados. Na semana passada, uma reviravolta acentuou os embates, resultado do anúncio de aliança entre Erica e quem seria o quarto nome na disputa, o advogado José Antônio Neffa, numa estratégia para somar votos e derrotar Rizk, que tenta seu terceiro mandato.
Reação na Justiça
Erica Neves aponta “fake news” e informa que ajuizou ação contra José Carlos Rizk Filho, nesta segunda-feira (18), por “espalhar mentiras através de um vídeo em tom sensacionalista que vem circulando em grupos de WhatsApp”. A ação pede que um perito nomeado pela Justiça faça a análise de veracidade do suposto áudio cujos trechos tem sido divulgados por Rizk, e que o presidente da Ordem apresente o arquivo original do áudio e o dispositivo usado para fazer a gravação.
A defesa da advogada alega que Rizk utiliza as mídias sociais para “disseminar discursos de ódio, de forma proposital para os advogados capixabas, com intuito de influenciar o resultado das eleições”, o que teria se intensificado “após a divulgação, pela imprensa, das reais chances de vitória”.
O documento diz, ainda, que “foi nesse contexto que a autora tomou conhecimento de vídeo de nítido cunho calunioso e difamatório compartilhado pelo interessado no aplicativo de mensagens WhatsApp. Trata-se, infelizmente, de estratégia de campanha criminosa, que tem sido vista nas eleições políticas de todo o mundo e que passou a ser replicada nas eleições da OAB”.
O aliado de sua chapa, Neffa Junior, publicou um vídeo nas redes com questionamentos: “O que me perguntei foi o seguinte, porque essa gravação, se já estava de posse do pessoal da Chapa 1, não foi divulgada em momento anterior? Por que, se entendem que há uma conduta criminosa, não levaram às autoridades judiciais, não iniciaram um processo judicial? Por que só divulgaram agora, uma semana antes das eleições? E por que não divulgaram logo o arquivo original, na íntegra, se é que essa conversa existe?”. Neffa prossegue: “Por que soltaram um vídeo com edição, manipulação, cortes, roteiro e legenda, com o intuito de induzir o espectador a ter um determinado entendimento?”.
Para ele, “todos esses ataques às reputações dos candidatos de oposição são frutos de uma vontade desenfreada de vencer as eleições. Como se o resultado das eleições justificasse qualquer ato, por mais grave que seja, e que possa ferir os mais basilares princípios éticos e morais. É essa sensação que dá, que o grupo que está aí, faz tudo, qualquer coisa, pela manutenção do poder”.