terça-feira, novembro 19, 2024
23.9 C
Vitória
terça-feira, novembro 19, 2024
terça-feira, novembro 19, 2024

Leia Também:

Disputa pelo comando do Hospital Santa Mônica vira caso de polícia

A disputa entre os sócios e o atual administrador pelo comando do Hospital Santa Mônica, em Vila Velha, está movimentando a Justiça estadual. Na última sexta-feira (29), o juiz da 5ª Vara Cível de Vitória, Braz Aristóteles dos Reis, concedeu liminar em favor da Unikmed – Empreendimentos Clínicos e Hospitalares, responsável pela gestão do hospital e a operadora SMS Assistência Médica (SM Saúde) desde novembro de 2014. Desde essa data, os cinco sócios do hospital estão impedidos de realizar qualquer tentativa de destituição do atual administrador, Bruno Lachis Campos Estabile.

Tanto o hospital quanto o plano de saúde estão em recuperação judicial após acumularem uma dívida de quase R$ 100 milhões com mais de mil credores, no período em que as empresas eram comandadas pelos cinco sócios (Marco Polo Frizera, Fernando Guimarães Amaral, Abrantes Araújo Silva, Aílson Gonçalves Araujo e Valéria de Deus Santos). Desde a entrada do novo administrador, que assinou um contrato de terceirização pelo prazo de 15 anos, o hospital voltou a ter credibilidade no mercado, preenchendo novamente os leitos, reatando as relações com empresas e voltando a atender os planos de saúde, que haviam deixado de utilizar o hospital por conta das constantes queixas de “calotes”.

Por mais de um ano, a relação entre os sócios – que não poderiam exercer mais qualquer função administrativa no hospital em decorrência da ação de recuperação judicial – e o novo administrador transcorreu sem problemas. No entanto, o clima de paz foi quebrado no último dia 20 de janeiro, quando os cinco sócios compareceram ao Cartório Teixeira, no município canela-verde, para firmar um documento com o objetivo de nomear o economista Carlos Roberto Bernardo Lucas como o novo procurador da empresa. Em seguida, eles passaram a encaminhar cópias da procuração – que está sendo objeto de um inquérito policial – às agências bancárias na tentativa de passar a manusear os recursos do hospital.

O problema com o documento, segundo a defesa da atual administração, é de que os sócios do hospital omitiram a informação sobre a impossibilidade da alteração do controle do hospital por aquele meio. Pela 17ª alteração – mais recente – no contrato social do Hospital Santa Mônica, somente o administrador (Bruno Lachis Estabile) poderia fazer a alteração proposta pelos cinco sócios, que teriam induzido os serventuários do cartório ao erro. Tanto que, logo após ser comunicado dos fatos – no mesmo dia –, o tabelião substituto do cartório (Gustavo Neiva Teixeira) emitiu uma notificação extrajudicial a Carlos Roberto para que se abstivesse de usar a procuração inválida.

No último dia 22, o administrador do Hospital Santa Mônica entrou com uma notícia-crime na Polícia Civil contra os cinco sócios e o economista Carlos Roberto, que foi mantido atuando no hospital desde a gestão anterior. Bruno Lachis Estabile acusa os seis da prática dos crimes de falsidade ideológica, uso de documento falso e associação criminosa (formação de quadrilha), cujas penas somadas podem variar de dois anos até oito anos de prisão. O inquérito policial está correndo na Delegacia de Defraudações e Falsificações (DEFA), em Vitória, que já chegou a ouvir os envolvidos.

Paralelamente às investigações policiais, a empresa Unikmed impetrou uma ação cautelar contra os sócios do hospital para impedir a realização de novas manobras. Na petição inicial (0001995-85.2016.8.08.0035), a defesa da empresa responsável pela gestão do hospital e do plano de saúde alega que os sócios também estariam usando a mesma procuração – que já foi tornada inválida pelo cartório do 3º Ofício de Notas de Vila Velha – para modificar o registro do hospital na Junta Comercial do Espírito Santo (Jucees). Na mesma decisão liminar, o juiz Braz Aristóteles impediu a Jucees de realizar qualquer modificação no registro do hospital ou restaurar os efeitos da 17ª alteração, que deu plenos poderes ao atual administrador.

Na mesma liminar, o juiz da 5ª Vara Cível de Vitória determinou aos sócios “que se abstenham de praticar qualquer conduta capaz de interferir na gestão ou administração do Hospital Santa Mônica e do SMS Assistência Médica”, como prevê o contrato assinado por eles com a Unikmed, sob pena de multa diária de R$ 10 mil. Entre os pedidos na ação, a gestora do hospital requereu a conversão da liminar concedida em sentença em definitivo. Os sócios ainda devem ser ouvidos nessa ação, que foi protocolada na última quinta-feira (28).

Em paralelo, os cinco sócios protocolaram outra ação, desta vez, para exibição de documentos, que está tramitando na 13ª Vara Cível Especializada Empresarial de Recuperação Judicial e Falência de Vitória. Consta nos autos (0002263-75.2016.8.08.0024) que os cinco sócios – em sua maioria, médicos, com exceção de Valéria, que é viúva do médico Marcos Daniel, um dos fundadores do hospital – levantaram questionamentos sobre a gestão desenvolvida por Bruno Lachis Estabile. Eles alegam que a atual administração teria se negado a disponibilizar as informações solicitadas.

Nessa segunda-feira (1º), a juíza Kelly Kiffer deferiu o pedido de antecipação de tutela para a divulgação do balanço patrimonial referente ao exercício de 2014; balanço e demonstração de resultados de 2015; além do posicionamento atualizado de credores e demais informações sobre o processo de recuperação judicial. No caso de descumprimento, a juíza determinou a busca e apreensão dos documentos.

Esse conflito entre o atual administrador e os sócios do hospital e da operadora está provocando uma crise na gestão da instituição. Uma vez que as contas correntes do SM Saúde continuam bloqueadas devido à tentativa de uso da procuração falsa. Além do plano de recuperação judicial – deferido pelo juízo em março do ano passado – em andamento, o plano de saúde está sob regime de Direção Fiscal pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que acompanha todas as atividades ligadas à gestão. Antes da crise provocada na gestão dos antigos sócios, o plano de saúde já teve quase 100 mil usuários cadastrados, hoje o número de associados é próximo de 20 mil. Já o hospital está com quase todos os 90 leitos preenchidos (90 pacientes) e emprega cerca de 600 funcionários.

O hospital foi fundado no ano de 1978 em Vila Velha sob perspectiva de grandes oportunidades de trabalho e investimentos na Grande Vitória, na época da implantação dos chamados grandes projetos e o início da expansão imobiliário para o município canela-verde. Enquanto o plano de saúde foi fundado dez anos depois, sendo o primeiro a ser 100% capixaba. A operadora também foi a primeira do Espírito Santo com uma rede própria de atendimento, incluindo o Hospital Santa Mônica.

Mais Lidas