Passaram-se 16 anos desde o dia em que o advogado Joaquim Marcelo Denadai foi alvejado e morto em pleno calçadão da Praia da Costa, em Vila Velha, em abril de 2002. O principal suspeito, o então empresário Sebastião de Souza Pagotto, só foi condenado uma década depois em júri popular. A prisão, no entanto, só se concretizou nesta semana, determinada pela 4ª Vara Criminal de Vitória, com o fim de sucessivos recursos da defesa que se arrastavam em instâncias superiores. Para a família do advogado, apesar do alívio, a luta por justiça não acabou. “É um bom momento para Pagotto confessar se há outras pessoas envolvidas neste crime”, cobra a irmã da vítima, Aparecida Denadai.
A ex-deputada estadual lembra que Marcelo já havia feitos denúncias e “sabia de muita coisa”. Ele foi assassinado um dia antes de encaminhar à Justiça uma queixa-crime em que, segundo investigação do Grupo de Repressão ao Crime Organizado (GRCO), do Ministério Público, citava o envolvimento de 12 empresas, algumas administradas por laranjas, em fraudes em licitações, concorrências e serviços públicos nas 78 prefeituras existentes no Espírito Santo e outras no Rio de Janeiro.
“O processo indica apenas o nome de Pagotto, mas, agora que está preso, deveria revelar o que sabe, dizer a verdade perante a sociedade”, reforçou Aparecida.
Para ela, o caso só estará solucionado, definitivamente, depois que Pagotto cumprir o total da pena, decretada em 17 anos e seis meses, sem qualquer tipo de privilégio no cárcere (Pagotto está, por enquanto, na Penitenciária de Segurança Média I, em Viana).
“Espero que a Sejus [Secretaria de Estado de Justiça] não permita privilégios. Ele tem que cumprir a pena em igualdade de condições aos demais criminosos. Não tem nada disso de ex-PM e empresário, ele é um bandido, um assassino. Não pode ser colocado acima da lei”, desabafou.
Condenação
No processo aberto contra Pagotto, Aparecida Denadai e seu irmão, o ex-vereador de Vitória, Antônio Denadai, foram testemunhas-chave. Eles confirmaram que Pagotto, então sócio oculto da empresa Hidrobrasil, era o principal investigado por fraudes em contratos de limpeza de galerias de esgoto na Prefeitura de Vitória.
Durante a instrução do processo, as testemunhas afirmaram que Marcelo Denadai foi morto devido à sua atuação nas investigações das irregularidades pela então Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Lama, que era presidida pelo irmão Antônio Denadai na Câmara Municipal. A participação de Pagotto teria sido reforçada pelos contatos com um dos executores do crime, o ex-militar Dalberto Antunes da Cunha, que teria ligado para o empresário dez minutos após o crime.
O advogado Denadai, ainda segundo os seus irmãos e apurado no processo, foi morto porque, com base em documentos do Tribunal de Contas do Estado e outros, anexados a um processo judicial, descobriu que o empresário Pagotto era um dos mais importantes elementos do crime organizado no Estado, falsificando documentos e fraudando concorrências e contratos em prefeituras e órgãos estaduais. Em Vitória, as fraudes envolviam contratos firmados nas gestões tucanas, do atual governador Paulo Hartung (PMDB), e do ex-prefeito de e ex-deputado federal Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB).
Morte de Antônio Denadai
Além da morte do advogado Marcelo Denadai, no final do ano passado, Aparecida Denadai teve outro irmão assassinado. Na noite de 25 de dezembro, o ex-vereador de Vitória, Antônio José Denadai, recebeu três facadas do caseiro Alessandro dos Santos Rodrigues. O crime foi registrado aproximadamente às 20 horas da noite de Natal no sítio que pertencia ao vereador, em Santa Leopoldina.